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Opinião|Sistema presidencialista é disfuncional, com abuso de emendas parlamentares

Deveríamos discutir a sério a possível adoção do chamado ‘semipresidencialismo’ a partir de 2031

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Foto do author Fabio Giambiagi
Atualização:

Um dos temas sobre os quais os aspirantes a economistas se debruçam na faculdade é a análise do papel dos incentivos. Observe-se algo que funciona mal na economia e, muito provavelmente, haverá um erro no que nós economistas chamamos de “desenho de incentivos”.

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As “famílias” de regimes de governo se decompõem em dois grandes blocos: presidencialistas e parlamentaristas. A situação de a nossa Constituição de 1988 ter sido desenhada para um país parlamentarista, mas na qual no final prevaleceu o presidencialismo, gerou o “presidencialismo de coalizão”, um regime presidencialista com um sistema político fragmentado, mas no qual o presidente tinha instrumentos de poder para poder governar. Com o tempo, o Parlamento ganhou diversos poderes e, hoje, temos um regime disfuncional, com um Congresso poderoso, um Executivo enfraquecido e um sistema eleitoral em que se escolhe quem, supostamente, comandará o País nos quatro anos seguintes, sem ter à mão, porém, os elementos para poder fazê-lo com eficácia.

Na raiz dessa disfunção está a aberração do abuso das emendas parlamentares. Trata-se de uma despesa que está chegando perto de R$ 50 bilhões por ano, a maior parte dos quais para gastos que, sob a ótica federal, não fazem o menor sentido. Ao invés de o governo federal usar esses recursos para construir coisas que sejam condizentes com o que cabe à União fazer – proteção de fronteiras, ciência e tecnologia, energia nuclear, estradas, etc. –, estamos “torrando” dezenas de bilhões numa miríade de iniciativas que constituem, tipicamente, despesas locais: praças esportivas, ginásios, hospitais sem qualquer lógica de integração, etc. Em bom português, equivale a jogar dinheiro pela janela.

Hoje, Congresso determina destino de R$ 50 bilhões para coisas que não caberiam ao governo federal Foto: WILTON JUNIOR / ESTADÃO

O Brasil precisa redefinir o sistema político, para que uma coalizão de governo seja inteiramente responsável pelo sucesso ou pelo fracasso da gestão, ao invés de termos a “geleia geral” em que temos vivido. Por isso, aprovadas as leis complementares da reforma tributária em 2024, na segunda metade do mandato de 2023-2026 deveríamos discutir a sério a possível adoção do chamado “semipresidencialismo” a partir de 2031. Assim, o próximo governo ainda seria no formato atual, mas os players da política já atuariam na gestão de 2027-2030 na perspectiva de mudança do sistema nas eleições seguintes. Sem isso, será difícil escapar da trajetória de mediocridade que tem sido nossa sina. No longo prazo, é uma tragédia.

Opinião por Fabio Giambiagi

Economista, formado pela FEA/UFRJ, com mestrado no Instituto de Economia Industrial da UFRJ

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