EUA tentam reduzir dependência da China, mas laços comerciais são mais fortes do que parecem

Empresas chinesas tem se mudado para outros países, mas ainda fabricando componentes no gigante asiático; norte-americanos tentam reduzir dependência

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Por Ana Swanson e Jeanna Smialek

The New York Times - Os Estados Unidos passaram os últimos cinco anos pressionando para reduzir sua dependência da China para chips de computador, painéis solares e várias importações dos consumidores em meio à crescente preocupação com as ameaças à segurança, o histórico com os direitos humanos e o domínio de indústrias cruciais de Pequim.

Mas, mesmo enquanto os formuladores de políticas e executivos de empresas buscam formas de cortar os laços com a China, um conjunto cada vez maior de evidências sugere que as maiores economias do mundo continuam profundamente entrelaçadas, já que os produtos chineses chegam aos EUA por meio de outros países. Artigos de pesquisa põem em dúvida se os EUA têm diminuído de verdade sua dependência da China – e o que significa uma recente remodelação das relações comerciais para a economia global e para os consumidores americanos.

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As mudanças na produção global e nas cadeias de suprimentos ainda estão acontecendo, ao mesmo tempo em que tanto as tarifas punitivas impostas pelo governo do ex-presidente Donald Trump como as restrições mais severas à venda de tecnologia à China impostas pelo governo de Joe Biden ocorrem.

A principal arquiteta das últimas restrições – a secretária de Comércio, Gina Raimondo – reuniu-se com autoridades chinesas em Pequim e Xangai, uma visita que destaca o desafio encarado pelos EUA ao tentar reduzir o quanto dependem da China em um momento no qual as economias dos países compartilham tantos laços.

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Essas regras comerciais reformuladas, em conjunto com outras mudanças econômicas, fizeram com que o volume de importações da China pelos EUA caísse conforme o volume de importações pelos EUA de outros países de baixo custo, como Vietnã e México, subia. O governo Biden também aumentou os incentivos para a produção de semicondutores, carros elétricos e painéis solares no país, e a construção de fábricas nos EUA tem crescido rapidamente.

Estados Unidos tentam reduzir dependência da China para itens industrializados Foto: Johannes Eisele / AFP

No entanto, uma nova pesquisa analisada na conferência anual do Federal Reserve de Kansas City, em Jackson Hole, Wyoming, descobriu que, embora os padrões de comércio global tenham sido remodelados, as cadeias de suprimentos americanas continuam muito dependentes da produção chinesa – apenas não tão diretamente.

O artigo escrito pelos economistas Laura Alfaro, da Harvard Business School, e Davin Chor, da Tuck School of Business, da Dartmouth College, descreve como o volume de importações chinesas pelos EUA caiu para cerca de 17%, em 2022, depois de atingir um pico de cerca de 22%, em 2017 - já que o país foi responsável por uma fatia menor das importações de Washington em categorias como máquinas, calçados e aparelhos telefônicos. Enquanto isso acontecia, lugares como o Vietnã ganharam terreno – abastecendo os setores de vestuário e têxtil dos EUA – e vizinhos como o México começaram a enviar mais peças de automóveis, vidro, ferro e aço.

Isso parecia ser um sinal de que os EUA estão diminuindo sua dependência da China. Mas há um problema: tanto o México como o Vietnã vêm importando mais produtos de Pequim, e o investimento direto chinês nesses países disparou, indicando que as empresas chinesas vão abrir mais fábricas por lá.

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As tendências sugerem que as empresas podem estar simplesmente transferindo as últimas etapas de suas longas cadeias de suprimentos para fora da China, e que algumas delas estão recorrendo a países, como Vietnã ou México, como áreas intermediárias para enviar mercadorias que ainda são parcialmente ou em grande parte produzidas na China para os EUA.

Embora os defensores da desvinculação argumentem que qualquer afastamento da China pode ser bom, a remodelação parece ter outras consequências. O artigo conclui que as mudanças nas cadeias de suprimentos também estão associadas a preços maiores das mercadorias.

Uma queda de cinco pontos percentuais no volume das importações de origem chinesa pode ter feito subir os preços das importações vietnamitas em 9,8% e das mexicanas em 3,2%; de acordo com os cálculos dos autores. Embora sejam necessárias mais pesquisas, o efeito poderia estar contribuindo ligeiramente para a inflação ao consumidor, segundo os autores.

“Este é nosso primeiro alerta: é provável que isso tenha efeitos nos preços; e o segundo alerta é que é pouco provável que isso diminua a dependência” da China, disse Laura em entrevista.

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Conclusões diferentes

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A pesquisa reitera as conclusões de um artigo prestes a ser publicado de Caroline Freund, da Universidade da Califórnia em San Diego; e de economistas do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional, que analisou como o comércio de importações específicas da China tinha mudado desde que Trump começou a impor tarifas sobre elas.

Este artigo constatou que as tarifas tiveram um impacto substancial no comércio, reduzindo as importações dos EUA de mercadorias que estavam sujeitas a elas, ainda que o valor absoluto do comércio entre Washington e Pequim continuasse a aumentar.

Os países que conseguiram conquistar a fatia de mercado perdida pela China foram aqueles que já eram especialistas na fabricação dos produtos sujeitos a tarifas, como produtos eletrônicos ou químicos, assim como países que estavam profundamente interligados com as cadeias de suprimentos da China e tinham muito comércio de um lado para o outro com Pequim, disse Caroline. Isso incluía Vietnã, México, Taiwan e outros.

Fábrica da chinesa Lenovo instalada no México  Foto: Luis Antonio Rojas/The New York Times

“Eles também estão aumentando as importações da China, exatamente dos produtos que estão exportando para os EUA”, disse ela.

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O que tudo isso significa para as iniciativas de trazer as fábricas de volta para os EUA ainda não está claro. Os pesquisadores chegaram a conclusões diferentes sobre o quanto essa tendência está ocorrendo.

Entretanto, os autores dos dois artigos – assim como outros economistas em Jackson Hole, a conferência anual do Fed acompanhada com mais atenção – rejeitaram a ideia de que essas mudanças na cadeia de suprimentos significavam que o comércio global como um todo estava reduzindo gastos, ou que o mundo estava ficando menos interconectado.

As cadeias de suprimentos globais tendem a mudar lentamente, porque leva tempo para as empresas planejarem, investirem e construírem novas fábricas. Os economistas continuam a acompanhar as mudanças atuais na estratégia de global sourcing.

Dadas as crescentes tensões geopolíticas com a China, assim como os problemas mais recentes na economia do país, novas mudanças nas cadeias de suprimentos globais podem ser inevitáveis.

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Uma questão para os economistas agora, segundo Laura, é se os benefícios econômicos da transferência das fábricas de volta para os EUA, ou para outros países parceiros – como a inovação no setor de produção americano –, vão superar, no fim das contas, os custos com a estratégia; por exemplo, os preços mais altos pagos pelos consumidores.

Caroline disse acreditar que os custos do reshoring foram “realmente subestimados” pelo governo e por outros.

O que se costumava escutar era “vamos trazer tudo de volta, teremos todos esses empregos e tudo ficará às mil maravilhas, mas, na verdade, será extremamente caro fazer isso”, afirmou. “Parte da razão pela qual tivemos uma inflação tão baixa no passado foi porque estávamos ganhando dinheiro com mercadorias de baixo custo e melhorando a produtividade por meio da globalização.” / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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