BRASÍLIA – O tom mais duro do diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução do Banco Central, Renato Dias Gomes, sobre o início do corte da taxa Selic surpreendeu o mercado, mas faz parte da estratégia da instituição de colocar os diretores do BC para se posicionarem publicamente sobre o cenário da inflação e juros.
Em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast, o diretor disse que o BC não deve ter pressa na redução dos juros, hoje em 13,75% ao ano.
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Com a autonomia do BC, garantida em lei, os diretores vão seguir falando sobre esses temas. Um modelo mais parecido com o do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos. Todos os integrantes da diretoria têm cadeira no Comitê de Política Monetária (Copom), independentemente da área do banco que comandam.
Até agora, a comunicação sobre juros e inflação, na maioria das vezes, ficava restrita ao presidente do BC, Roberto Campos Neto, e aos diretores com cargos mais correlatos com a política monetária, como o diretor de Política Econômica, de Assuntos Internacionais e de Política Monetária. A última cadeira está agora vaga e será ocupada pelo secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo - indicação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, crítico contumaz do Copom.
A entrevista de ontem fechou o ciclo do Copom dentro dessa estratégia de posicionamento público de todos os membros do Copom. Nada além, segundo apurou o Estadão/Broadcast. Não há expectativa de contraponto de Campos Neto, alvo principal das críticas contra os juros altos. Os diretores vão seguir falando o que pensam. A avaliação é de que ainda não “caiu a ficha” da autonomia dos diretores para o mercado.
Já falaram recentemente sobre juros os diretores Fernanda Guardado (Assuntos Internacionais), Otávio Ribeiro Damaso (Regulação), Diogo Guillen (Política Economia e interino de Política Monetária) e Maurício Moura (Relacionamento).
No mercado, logo após a entrevista ser pública, houve um estranhamento com a fala do diretor Gomes, que até agora nunca tinha dado uma entrevista. E também com o momento da entrevista, véspera do período de silêncio, uma semana antes da reunião do Copom, marcada para os 20 e 21 de junho.
A leitura que circulou no mercado que Gomes teria feito um contraponto à declaração menos dura do presidente do BC, que no mesmo dia da entrevista do diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução reforçara que o movimento no mercado de juros futuros abre espaço para a redução da Selic à frente. Seria apenas a concretização do mantra que Campos Neto tem repetido recentemente: é apenas um voto de nove no Copom.
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