Se a presença chinesa como principal comprador dos produtos brasileiros deve bater novos recordes, a falta de diversificação na pauta e no destino das exportações preocupa especialistas. Eles temem que a parceria, interesse de ambos os países, possa se transformar em uma armadilha para o Brasil.
Para Miguel Daoud, sócio-diretor da Global Financial Advisor e assessor econômico, ao mesmo tempo em que a relação comercial entre Brasil e China é alvissareira, é também preocupante na medida em que torna o Brasil dependente de um país.
“A gente sabe que a China vai continuar demandando. A nossa preocupação é com relação aos preços, porque estamos vivendo um momento de muita liquidez na economia mundial e esse dinheiro acaba indo para especulação em commodities.”
Ele diz que o Brasil tem de aproveitar este momento. Mas precisa ficar atento para buscar alternativas à dependência da China porque ela não é boa. De acordo com ele, buscar outros mercados agora é muito difícil porque nenhum país no mundo tem a demanda da China.
“A estratégia seria agregar valores aos produtos internamente. Mas para isso, seria preciso fazer investimentos direcionados para adicionar valor à soja, ao milho e à carne, por exemplo. Precisaria ter toda uma estruturação de logística e investimento na industrialização dos produtos agrícolas”, diz Daoud.
Só assim, segundo ele, o País terá mais segurança sem depender apenas dos pedidos da China. Mesmo porque os preços das commodities oscilam muito e, em algum momento, isso poderá prejudicar o Brasil.
Papel chinês
A avaliação da economista Fabiana D’atri, coordenadora de economia do Bradesco e também diretora econômica do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), é a de que a perspectiva da dependência brasileira da China tem que ser relativizada porque o contexto é de uma pandemia em que a China se posicionou bem.
Ao mesmo tempo em que as exportações para a China ganharam espaço, as importações de produtos chineses, sobretudo de componentes eletrônicos, também cresceram. Em 2020, 21,4% dos produtos importados pelo Brasil vieram de lá, ante 14,1% das compras feitas uma década antes, segundo estatísticas do Ministério da Economia.
“Vamos importar insumos e vacinas dos países autorizados e que os tiverem disponíveis. Parte importante virá da China, mas como porcentual da pauta, acredito que essa participação será pequena dado ao peso dos demais itens. Como falei, com a retomada da economia brasileira, vamos importar mais produtos manufaturados. Muitos vindos da China”, conclui Fabiana.
Para o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, o Brasil ainda precisa melhorar a competitividade da sua indústria, para conseguir ganhar mercados com produtos de maior valor agregado. Um fator que prejudicou a indústria nacional foi a queda de 13% em 2020 na exportação para a Argentina, principal comprador de manufaturados brasileiros. “Sem ficar competitivo em produtos de maior valor agregado, o Brasil não conseguirá ganhar peso internacional.”
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