‘Falta um projeto de Estado para a sustentabilidade’, diz fundador da Osklen

Sugestão de Oskar Metsavaht é unir áreas de Desenvolvimento e Meio Ambiente em um único ministério

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Nos debates ambientais da Conferência Rio-92, “só se falava de preservação” e a ideia era “não tocar na natureza para não destruí-la”. Passados 30 anos, “assiste-se ao esgotamento do processo industrial antigo. Ele não é mais viável e temos de inovar”. A advertência é de um “veterano” da luta pela sustentabilidade, o empresário Oskar Metsavaht. Formado nos anos 90 em Medicina, ele evoluiu para algo como “um criador multidisciplinar” empenhado em aplicar práticas socioambientais nas empresas. Não só na sua, a Osklen, que criou em 1989 e da qual é diretor de estilo – mas em todo o universo produtivo do País.

Com essa ideia em mente, Metsavaht criou o Instituto-E, onde converteu a conhecida norma asap (as soon as possible) em “as sustenable as possible”. Nesta conversa com Cenários, ele defende a “moda consciente” e adverte que o mundo “já está vivendo um período de transição para uma nova economia”. Nesse processo, a seu ver, o Brasil não foi perdendo “aos poucos” seu papel de peso no debate ambiental: ele “perdeu tudo de uma vez” no atual governo. Como solução prática, ele levanta uma questão: “Hoje, o Ministério do Meio Ambiente e o do Desenvolvimento parecem a antítese um do outro. Por que não criar um Ministério do Desenvolvimento Sustentável?”

A grande virada de consiciência, para Metsavaht, ‘foi quando o setor financeiro aderiu’ ao movimento de melhores práticas sustentáveis Foto: Chico Cerchiaro/Divulgação

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De que modo a iniciativa privada pode trabalhar para dar sustentação ambiental aos seus produtos?

É preciso, primeiro, compreender o que é desenvolvimento sustentável. Podemos, sim, desenvolver uma nação, usando recursos naturais se os mantivermos no mesmo ponto em que os encontramos, preservando esses recursos ativos para a vida do planeta.

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Como, na prática, fazer isso? Manter o planeta e não destruir mais o que temos?

Uma solução romântica, talvez utópica, é diminuir o consumo. A gente consome mais do que precisa. Só que isso não é uma realidade econômica, do ponto de vista empresarial. Mas existe um esgotamento do processo industrial antigo, que não é mais viável, e temos que inovar. Estamos vivendo um período de transição da civilização para uma nova economia. Então, não existe uma resposta do tipo “é assim que o empresário vai ter que fazer pra se tornar sustentável”. Mas vai levar uns 10, 20, ou 50 anos pra entrarmos nessa transição, que vai precisar de inovação tecnológica e novos conceitos de economia. E é uma transição onde os custos são altos. Imagina mudar totalmente a rede de suppliers... E não adianta eu fazer minha parte e a cadeia que vem antes de mim, ou depois, não mudar. Isso é uma coisa que temos feito dentro da Osklen, junto com o Instituto-E. Ele foi criado para agir sobre toda a cadeia.

Explica direito o que é e o que faz o Instituto-E.

Foi uma necessidade que surgiu, eu comecei a aplicar os conceitos de sustentabilidade dentro da Osklen. E percebemos que aquilo podia ser uma vantagem competitiva. Mas entendemos que não dá pra usar o desenvolvimento sustentável como uma vantagem competitiva, se fizer isso estou completamente fora de uma ética do desenvolvimento. Eu tenho é de partilhar essa capacidade.

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Isso é para o futuro, né?

Estamos falando de hoje. Mas a grande transformação ocorreu na Rio-92, 20 anos atrás. Antes dele só se falava em preservação, ou seja, “não toque na natureza para não destruí-la”. Algumas pessoas perceberam, na Rio-92, a necessidade dessa guinada. Eu fui uma delas, achei bom. Tive a percepção de que era preciso uma nova economia, um pensamento de civilização, de humanidade.

E o que veio depois disso?

Vieram empresários, acadêmicos, pesquisadores, startups. Foram se juntando em ONGs. Mas a grande virada aconteceu quando o sistema financeiros aderiu. O ESG (Environment, Social & Governance) foi captado por fundos mundiais que percebem agora o que percebemos há 30 anos. Que ele é necessário para salvar o planeta.

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Nesse processo o Brasil perdeu relevância. Por quê?

Ele não foi perdendo aos poucos, perdeu abruptamente com o governo atual. Mas acho isso transitório.

Você acha que nossa imagem lá fora não é boa...

Está menos prejudicada do que se imagina. Viajei, participei de conferências, percebi o interesse por nossa biodiversidade. E se vê que o que temos é mais uma questão de Estado, de governo, do que de sociedade empresarial. Somos vulneráveis, não temos o que eu chamaria de um projeto de Estado que enxergue o potencial econômico do País.

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Os empresários nunca pensaram em criar uma federação, algo tipo Fiesp, pra levar adiante essas ideias?

Vejo que agora há mais gente, não só empresas, aderindo ao ESG. O Instituto-E organizou em Milão, antes do encontro de Glasgow, em 2021, um evento – o Sustentable Design Thinking. E a Rio+30 vai abordar a questão da transformação das cidades. Temos de falar das empresas como ativistas da transformação. Mas sobre se criar uma entidade, cabe a pergunta: por que não criar um Ministério do Desenvolvimento Sustentável? Hoje, o Ministério do Meio Ambiente e o do Desenvolvimento parecem a antítese um do outro. Acho que vale, sim, uma reunião para debater um projeto de Estado com desenvolvimento sustentável.

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