O Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) cortou a taxa dos Fed Funds em 50 pontos-base (0,50 ponto porcentual), para a faixa entre 4,75% a 5,00% ao ano, em comunicado divulgado às 15h desta quarta-feira, 18. A decisão, por 11 votos a 1, leva à primeira queda no juro americano desde 2020, ano em que se iniciou a pandemia de covid.
Em entrevista coletiva, o presidente do Fed, Jerome Powell, comentou que o banco central americano continua comprometido nos seus dois mandatos, que são a máxima geração de empregos e a estabilidade de preços. “Estamos comprometidos em manter a economia americana forte”, o que pode ser feito com ajustes da política monetária, afirmou a autoridade.
Powell destacou que a “inflação baixou notavelmente em direção a 2%” nos últimos meses. Ele também apontou que as expectativas para os índices de preços de longo prazo “continuam aparentemente bem ancoradas”, acrescentando que o comitê dos dirigentes do Fed adotará suas decisões de política monetária de acordo com os dados “em cada reunião”.
Ao decidir pela redução dos juros em 0,50 ponto porcentual, o Fed apontou em comunicado que seus dirigentes têm registrado “maior confiança de que a inflação está se movendo sustentavelmente em direção a 2% e julga que os riscos de atingir seus objetivos para emprego e inflação estão aproximadamente equilibrados.” De acordo com o documento, “o cenário econômico é incerto e o Comitê está atento aos riscos dos dois lados do mandato duplo”.
O comunicado ressaltou que os dirigentes do Fed “estão fortemente comprometidos em apoiar o máximo emprego e retornar a inflação para seu objetivo de 2,0%”.
Powell ressaltou que o corte de juros de 0,50 ponto porcentual não significa que a instituição oficial “está atrás da curva”. Ele comentou que o banco central dos EUA considera a evolução da economia para administrar a condução da política monetária “a fim de atingir melhor os objetivos.” Ele destacou que as projeções macroeconômicas do Fed são previsões e portanto não devem ser consideradas como “um plano ou uma decisão.”
“Nada em nossas previsões sugere que estamos com pressa”, disse Powell. “Podemos ir mais rápido ou devagar ou parar a redução dos juros, se for apropriado.”
O presidente do Fed comentou que os dados econômicos nos EUA mostram que o nível de atividade no país está “sólido”, o que apoia o bom estado do mercado de trabalho. Powell destacou que não é necessário ver um aumento de demissões por empresas americanas para que a inflação caia, pois os membros do Comitê Federal de Mercado Aberto do Fed “estão com grande confiança de que a inflação está na direção de 2% ao ano”.
Ele ressaltou que será necessário ter acesso a dados econômicos para que a decisão de política monetária de novembro ser adotada, o que será decidido naquele encontro.
Projeções para desemprego
A mediana da projeções dos dirigentes do Fed para a taxa de desemprego nos Estados Unidos subiu para 2024, 2025 e 2026. No longo prazo, as estimativas ficaram inalteradas.
- Para 2024, a mediana das estimativas para a taxa de desemprego saiu de 4,0% em junho para 4,4%.
- Para 2025, a projeção subiu de 4,2% para 4,4%.
- Para 2026, a expectativa passou de 4,1% para 4,3%.
- Para 2027, a taxa foi projetada em 4,2%.
No longo prazo, a mediana das projeções para taxa de desemprego seguiu em 4,2%, similar ao projetado em junho.
Gastos com consumo
O Fed revisou para baixo as projeções de inflação pelo índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) em 2024 e 2025. Para 2026 e longo prazo, as projeções ficaram estáveis.
- A estimativa para 2024 caiu de 2,6% em junho para 2,3%.
- Para 2025, a mediana caiu de 2,3% para 2,1%%.
- A mediana de 2026 e de longo prazo se mantiveram estáveis em 2,0%.
A mediana das projeções para o núcleo do PCE (que exclui itens voláteis, como alimentos e energia) também caiu em 2024 e 2025. Para este ano, a projeção passou de 2,8% em junho para 2,6%. A mediana de previsão para 2025 saiu de 2,3% para 2,2%. Para 2026, a projeção ficou estável 2%. Não há projeções para o núcleo do PCE no longo prazo.
O Federal Reserve também cortou a taxa sobre o compulsório bancário em 50 pontos-base, de 5,4% para 4,9%, a mesma magnitude da redução anunciada para os retornos dos Fed Funds. A taxa de desconto passou de 5,50% para 5,0%. Ambas as decisões foram unânimes. A vigência começa nesta quinta-feira, 19.
Mudança de texto e de tom
O Fomc alterou a redação do trecho do seu comunicado que trata da inflação, destacando progressos nessa seara.
No comunicado anterior, o Fomc dizia no fim do primeiro parágrafo que “a inflação diminuiu no ano passado, mas continua um pouco elevada. Nos últimos meses, houve algum progresso adicional em direção à meta de inflação de 2% do Comitê”.
Desta vez, substituiu o trecho por “a inflação fez mais progressos em direção ao objetivo de 2% do Comitê, mas continua um tanto elevada”.
No texto de 31 de julho, os dirigentes do Fed consideravam que o Comitê “julga que os riscos para atingir suas metas de emprego e inflação continuam a se mover para um melhor equilíbrio”. Agora, avaliaram que o “Comitê ganhou maior confiança de que a inflação está se movendo de forma sustentável em direção a 2%, e julga que os riscos para atingir suas metas de emprego e inflação estão aproximadamente em equilíbrio”.
A decisão de reduzir os juros em 0,50 ponto porcentual não foi unânime, pois a dirigente Michelle Bowman votou por um corte de 0,25 ponto porcentual nesta reunião.
O que espera o Fed para o resto do ano
Dentre os 19 dirigentes do Fed presentes na reunião desta quarta-feira, 19, nove acreditam que os juros terminarão este ano entre 4,5% e 4,25%, faixa 50 pontos-base (0,50 ponto porcentual) menor do que a atual, após o corte desta quarta-feira.
Outros sete dirigentes acreditam que a taxa terminará 2024 entre 4,75% e 4,5%, enquanto dois banqueiros centrais defendem que os juros devem encerrar este ano no nível atual, entre 4,75% e 5%.
A mediana das projeções para a taxa dos Fed Funds caiu de 5,1% em junho para 4,4% nesta quarta-feira.
Para o ano que vem, o gráfico de pontos indica um cenário ainda mais difuso. A maior parte das avaliações está na faixa entre 3% e 3,5%: seis dirigentes esperam que o juro termine 2025 entre 3,0%, e 3,25% e outros seis sugeriram que a taxa encerre o ano que vem entre 3,25% e 3,50%.
Três deles esperam juro entre 3,50% e 3,75%, um deles entre 3,75% e 4% e outro entre 4% e 4,25%. Na ponta contrária, dois dirigentes esperam juro entre 2,75% e 3%. Para o fim de 2025, a mediana das projeções é para os juros em 3,4%.
Em 2026, as estimativas se concentram na faixa entre 2,75% e 3% — seis dirigentes projetam esse cenário. Outros quatro veem um quadro de juro ainda mais baixo, na faixa de 2,25% a 2,75%, enquanto outros cinco banqueiros centrais esperam que a taxa dos Fed Funds fique entre 3% e 3,5% no fim de 2026. Quatro dirigentes esperam que a taxa fique entre 3,5% e 4%.
A mediana das expectativas para 2026 baixou de 3,1% em junho para 2,9% nesta quarta-feira.
Essa decisão foi a primeira que trouxe também as visões para 2027: as projeções são praticamente as mesmas de 2026, com a diferença na faixa de 2,25% a 2,50% (com 2 dirigentes) e na faixa de 2,75% a 3% (com quatro dirigentes). No longo prazo, a mediana das expectativas é para que os juros fiquem em 2,9%; assim como em 2027.
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Qual era a expectativa do mercado
Analistas consultados pelo Estadão/Broadcast esperavam uma decisão apertada entre probabilidades de redução de 25 pontos-base (0,25 ponto porcentual) ou de 50 pontos-base (0,50 ponto porcentual).
Em meio a dados mistos dos EUA, Wall Street mantinha na véspera as expectativas de um corte de 0,50 ponto porcentual. As chances de um primeiro corte de 0,50 ponto porcentual eram de 59% na terça-feira, 17, abaixo dos 62% da véspera, após desempenho mais forte da indústria e do varejo em agosto, mostra levantamento da plataforma CME Group. Poucos dias antes, o mercado ainda estava totalmente dividido em uma decisão “cara ou coroa” para a reunião do Fed. /Com Francine de Lorenzo, Gabriel Tassi Lara, Laís Adriana, Mateus Fagundes, Patrícia Lara, Ricardo Leopoldo e Thais Porsch
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