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EUA: Fed mantém taxa de juros entre 5,25% e 5,5% e confirma expectativa do mercado

Após anúncio de decisão do banco central americano, seu presidente, Jerome Powell, ressaltou que, caso seja necessário, juros subirão mais

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Por Redação
Atualização:

O Federal Reserve, banco central americano, anunciou nesta quarta-feira, 1º, a manutenção de sua Fed Funds, a taxa básica de juros do país, no patamar de 5,25% a 5,50% ao ano. Foi a segunda manutenção consecutiva.

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A decisão, unânime, seguiu a expectativa do mercado financeiro, que apostava mais uma vez numa pausa no aumento da taxa de juros. O monitor de juros do CME Group apontou que uma fatia de 98,2% do mercado acreditava em uma manutenção. Para dezembro, o mercado precifica chance de 74,3% de manutenção, 24,4% de uma alta de 0,25 ponto porcentual, e 1,3% de relaxamento.

No comunicado que acompanha a decisão, a instituição afirmou que o Fed continua “altamente atento aos riscos para a inflação”. O Federal Reserve salientou ainda que continuará a avaliar informações adicionais e possíveis implicações que afetem a política monetária do país. “Estamos prontos para ajustar a política monetária, caso surjam riscos. O comitê está fortemente comprometido a retornar inflação à meta de 2%.”

Ainda no relatório, o Fed destacou que a opção pelo aperto considera fatores como os índices de trabalho, a inflação e as expectativas do mercado.

Federal Reserve anunciou decisão sobre taxa de juros nesta quarta-feira, 01º. Foto: Jason Reed/Reuters

Dados recentes sugerem que a atividade econômica dos EUA se expandiu em ritmo forte no terceiro trimestre, diz o Fed. A taxa de emprego permaneceu baixa, e a inflação continua elevada, observou o banco central. Os ganhos de emprego ficaram mais moderados desde o início do ano, mas continuam fortes, descreve.

Já o sistema bancário americano continua resiliente e seguro, na visão dos dirigentes. Condições financeiras e de crédito mais apertadas para famílias e emprego deverão pesar sobre inflação, atividade e contratações, mas a extensão desses efeitos continua incerta, afirma.

Meta de inflação

O presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou que a autoridade compreende os problemas causados pela elevada inflação. A estabilidade de preços é fundamental, defendeu. “Continuamos fortemente empenhados em reduzir a inflação para o nosso objetivo de 2% ao ano”, disse Powell, em entrevista à imprensa, nesta tarde.

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Ele afirmou que, “sem estabilidade de preços, a economia não funciona para ninguém”. “Em particular, sem estabilidade de preços, não alcançaremos um período sustentado de fortes condições no mercado de trabalho que beneficiem a todos”, disse, mencionando o aperto monetário conduzido desde o ano passado.

Powell disse que a autoridade monetária vai atuar “com cautela” frente às incertezas atuais e considerando o quanto os juros já foram elevados no país. O efeito total do aperto monetário já adotado ainda será sentido, de acordo com ele. “A orientação da política é restritiva, o que significa que exerce pressão na economia e na inflação e os efeitos totais do aperto ainda não foram sentidos”, disse.

Em linha com as expectativas de Wall Street, o presidente do Fed disse que o BC dos EUA vai agir com cautela. “Dado o quão longe chegamos e, considerando, as incertezas e os riscos que enfrentamos, agiremos com cautela”, afirmou.

Ele ressaltou que, caso o Fomc julgue necessário, os juros subirão mais. Por outro lado, a possibilidade de corte de juros sequer entrou na pauta, conforme ele. “Se precisamos apertar ainda mais a política e, se chegarmos a esse julgamento, então apertaremos ainda mais a política.”.

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Segundo Powell, o comitê também está avaliando por quanto tempo é necessário manter um nível restritivo para a taxa básica no país. O objetivo, afirmou, é manter a política restritiva até que se tenha confiança de que a inflação está em uma trajetória sustentada para chegar à meta.

“A questão dos cortes nas taxas simplesmente não foi nem discutida. A nossa questão agora é se será necessário elevar mais os juros, o que ainda está em aberto”, explicou o presidente do Fed.

Powell lembrou ainda que as tensões geopolíticas globais certamente estão elevadas, mencionando a guerra na Ucrânia e entre Israel e o grupo Hamas. “Estamos monitorando. O nosso trabalho é monitorar essas situações quanto às suas implicações econômicas”, disse.

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O ponto central da guerra no Oriente Médio é o se o conflito se espalha e o impacto nos preços do petróleo, conforme ele. “O preço do petróleo não reagiu muito até agora, mas ainda não está claro se o conflito no Oriente Médio vai continuar, se terá efeitos econômicos significativos”, disse Powell, acrescentando que a guerra é “extremamente importante”.

Ele afirmou que o Fed também monitora, por exemplo, o risco de uma nova paralisação do governo dos EUA, o chamado shutdown. “Há muito riscos”, resumiu. Apesar disso, Powell reiterou que os EUA têm uma “economia muito forte” e que há progressos na inflação do país.

Expectativas do mercado

Analistas de mercado ouvidos pelo Estadão/Broadcast não descartam um último aumento da taxa em dezembro, especialmente se a inflação surpreender com altas inesperadas. “Há uma incerteza grande sobre quando o Fed irá aumentar a Fed Funds, provavelmente em mais 0,25 ponto porcentual ou mais duas subidas de 0,25, que é esperado por parte importante do mercado”, afirma o estrategista da Nomos, Rodrigo Correa.

O especialista explica que mesmo com os juros altos, as condições de PIB forte e mercado de trabalho se mostraram resilientes nos últimos meses, o que explica essa inalteração nos juros.

“Hoje, cada 0,25 ponto porcentual de aumento nos juros implica em aumento de US$ 82,5 bilhões no custo da dívida por ano, ou 0,32 ponto porcentual do PIB (de 2022). Existe uma clara tendência a tentar segurar os aumentos simplesmente no discurso, que não impacta diretamente no custo de serviço da dívida”, diz Correa.

O economista chefe da Monte Bravo Corretora, Luciano Costa, é de opinião semelhante. “A opção pela manutenção é justificada pelo avanço do processo de redução da inflação, os sinais de moderação do mercado de trabalho com melhor equilíbrio entre oferta e demanda e o movimento de aumento das taxas de juros de longo prazo desde a última reunião, que representa um aperto das condições financeiras, o que equivale a um aperto adicional dos juros pelo Fed.”

Novo aumento

Embora haja uma expectativa por um novo aumento da taxa de juros, existem divergências no mercado sobre o porcentual de alta e em que momento isso ocorreria.

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O estrategista-macro sênior do banco suíço, Bill Papadakis, avalia que o Fed poderia determinar um eventual novo aumento de juros na reunião de dezembro ou de janeiro.

Para o economista sênior do banco Wells Fargo, Sam Bullard, há a possibilidade de que o Fed decida por um último aumento de taxa em 2023 para garantir que o índice de preços ao consumidor continue em queda e as expectativas de inflação bem ancoradas.

“Um fator de risco para a alta da inflação é o aumento recente do petróleo, sobretudo devido a questões geopolíticas”, afirmou Bullard, referindo-se à guerra em Israel. “Um outro elemento importante que poderia pressionar o CPI para cima poderia ser a continuidade da grande força do consumo, em parte influenciada pelo bom desempenho do mercado de trabalho.”

Prevendo que a economia dos EUA enfrentará uma leve recessão no segundo e terceiro trimestres de 2024, o Wells Fargo estima que o Federal Reserve começará a cortar os juros em junho e os levará para a faixa entre 3,50% e 3,75% em dezembro do próximo ano.

O cenário visto pelo grupo bancário suíço independente Lombard Odier é de que o Fed deixará os juros inalterados até começar a cortá-los na segunda metade do próximo ano, com a economia incapaz de sustentar o ritmo forte que mostrou na última leitura do PIB./André Marinho, Francine De Lorenzo, Gabriel Bueno da Costa, Gabriel Tassi Lara, Maria Lígia Barros, Natália Coelho e Matheus de Andrade

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