BC dos EUA deve manter juros enquanto Wall Street aguarda efeito das tarifas de Trump

Taxas devem permanecer inalteradas pela primeira vez desde que Fed iniciou ciclo de flexibilização em setembro; desde então, juros já sofreram três reduções e estão na faixa de 4,25% e 4,50% ao ano

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Foto do author Aline Bronzati
Atualização:

NOVA YORK - Os dirigentes do Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano) devem deixar os juros inalterados na primeira vez que se reúnem a portas fechadas em 2025 para debater o rumo da política monetária nos Estados Unidos. Com a decisão amplamente precificada no mercado, a ansiedade de Wall Street gira em torno dos efeitos do aumento de tarifas comerciais com o presidente dos EUA, Donald Trump, além do horizonte que as taxas podem permanecer onde estão, após a pausa de janeiro.

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Será a primeira vez que o Fed manterá as taxas inalteradas desde que deu o pontapé inicial no ciclo de flexibilização monetária em setembro do ano passado. De lá para cá, os juros já sofreram três reduções e atualmente estão na faixa de 4,25% e 4,50% ao ano.

“O Federal Reserve sinalizou claramente uma pausa, pois quer avaliar como as mudanças anteriores impactaram o mercado de trabalho e a inflação”, diz o economista-chefe da consultoria Oxford Economics para os EUA, Ryan Sweet.

Desde que o Fed começou a cortar as taxas, a inflação nos EUA passou por um caminho esburacado, rumo à meta de 2% ao ano. Já o mercado de trabalho seguiu surpreendendo a despeito de contratempos como greves e furacões, o que ajudou a acalmar o mercado quanto a temores de uma desaceleração mais abrupta.

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Para economistas, aumento de tarifas ou corte de imposto, podem fazer com que o Fed não faça movimento algum nas taxas de juros neste ano Foto: Jose Luis Magana/AP

Um terceiro componente que entra nesta conta a partir de agora é o risco de Trump elevar as tarifas comerciais em seu segundo mandato, e pressionar a inflação no país. O republicano já ameaçou taxar a China, o México, o Canadá e, no último fim de semana, também estendeu a possibilidade à Colômbia diante do impasse migratório com o presidente Gustavo Petro.

“A China é um grande criador de tarifas, assim como a Índia, o Brasil e muitos outros países. Não vamos permitir que isso continue, porque vamos colocar os Estados Unidos em primeiro lugar”, afirmou Trump, em evento para republicanos na Flórida, na segunda-feira. Ele também disse que quer tarifas universais “bem maiores” que 2,5% a importações globais, como defendeu o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, segundo o britânico Financial Times.

Estímulos, seja via aumento de tarifas ou corte de impostos, podem fazer com que o Fed não faça movimento algum nas taxas neste ano, segundo o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mário Mesquita. O maior banco da América Latina acaba de rever o seu cenário para os EUA, e passou a prever a manutenção dos juros americanos neste ano.

“Chegamos a prever dois cortes, depois um e agora nada. A economia americana não está precisando de estímulo monetário. É bem plausível e até provável que tenha estímulo fiscal. Uma economia que já está indo bem, com condições financeiras expansionistas, é uma razão boa para não cortar juros”, disse o Mesquita, em entrevista ao Estadão/Broadcast.

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O especialista pondera, contudo, que a situação da inflação nos EUA não está “tão tranquila assim”. Aliás, muitos dirigentes do Fed demonstraram preocupação sobre o processo de desinflação no país estagnar na reunião de dezembro. Mas, desde então, os dados vistos indicam “impulsos temporários” e dão a confiança de que a inflação está convergindo para a meta de 2% ao ano, na opinião do Morgan Stanley.

O Goldman Sachs afirma que está “otimista” e espera mais progressos na inflação dos EUA em direção à meta, apenas uma modesta reversão da tendência de abrandamento do mercado de trabalho vista em 2024 e crescimento da atividade econômica dos EUA acima do consenso. Nesse cenário, o gigante de Wall Street vê cortes de juros “necessários”, mas não “obrigatórios”.

Powell e Trump

Esse será um dos principais focos das perguntas de jornalistas ao presidente do Fed, Jerome Powell, na entrevista à imprensa, que acontece na sequência da decisão de política monetária. Em Wall Street, há pouca esperança de que o chefe da autoridade dê sinalizações quanto às próximas reuniões, em especial, a de março — o Fed não se reúne em fevereiro. Assim, o Fed deve permanecer “dependente de dados”.

Quem esperar mais, pode sair frustrado. “O Fed manterá os juros inalterados em janeiro, mas deixará as suas opções em aberto para a reunião de março”, diz o time de economistas do Morgan Stanley, liderado por Michael Gapen.

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O recente chacoalhão em Wall Street por conta da ameaça chinesa à dominância americana na corrida global da inteligência artificial (IA) também deve estar no radar do Fed, e dos jornalistas. O lançamento de um assistente virtual da startup da China DeepSeek que rivaliza com o ChatGPT da OpenAI causou perdas de bilhões de dólares às ações de empresas de tecnologia nos EUA.

“O Fed permanecerá vigilante. Se isso levar a uma correção mais ampla, o Fed estará muito mais inclinado a cortar as taxas e ficará sob intensa pressão do presidente Trump para fazê-lo”, dizem estrategistas do banco holandês ING.

Na semana passada, Trump pediu a queda dos juros nos EUA. “Vou exigir que as taxas de juros caíam imediatamente”, disse ele, em um discurso virtual no Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês), em Davos, na Suíça.

O Fed divulga a sua primeira decisão de política monetária nesta quarta-feira, 29, às 16h (horário de Brasília). Na sequência, Powell será sabatinado na tradicional entrevista à imprensa, para comentar os motivos da decisão atual e as perspectivas dos juros nos EUA.

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