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Fed deve manter juros nesta quarta e não há certeza sobre cortes em setembro, dizem economistas

Para analistas, juros poderão permanecer elevados ‘por muito tempo’, tendo em vista o processo de desinflação lento e a resiliência do setor de serviços nos EUA

O Federal Reserve (Fed) deixará sua taxa de juros inalterada nesta quarta-feira, 11, segundo economistas consultados pelo Estadão/Broadcast. Apesar de amplamente precificada, a decisão estará no centro das atenções do mercado, devido aos riscos de elevação nas projeções para inflação e retirada de cortes de juros previstos para 2024. Analistas apontam não haver certeza sobre redução de juros em setembro e que uma resiliência econômica maior pode provocar retomada do ciclo de aperto.

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Se confirmada, a manutenção da taxa dos Fed funds deixará os juros nos EUA na faixa de 5,25% a 5,50% ao ano. Em geral, analistas esperam pouca ou nenhuma alteração no comunicado de política monetária, com os dirigentes do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) reforçando a dependência de dados para tomada de decisão a cada reunião.

Economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico projeta que os juros permanecerão elevados “por muito tempo”, tendo em vista o processo de desinflação lento e a resiliência do setor de serviços nos EUA. “Houve animação precoce do mercado em colocar corte de juros em setembro”, avalia, acrescentando que isso só aconteceria caso o ritmo de desaceleração dos preços acelerasse nos próximos meses. A Armor Capital projeta apenas uma redução de 25 pontos-base (0,25 ponto porcentual) nos juros dos Fed funds, entre dezembro de 2024 e janeiro de 2025.

Na última sexta-feira, o payroll dos EUA apontou criação de empregos em maio bem acima do esperado e reverteu preocupações de um enfraquecimento intenso do mercado de trabalho, alimentando avaliações sobre a resiliência da economia americana.

Economista-chefe do Julius Baer, David Kohl avalia que um único dado não deve pesar sobre as decisões monetárias do Fed. “Eles disseram que são dependentes de dados, e serão, mas não sabemos qual dado terá mais ênfase”, disse. Segundo ele, o mercado de trabalho não está mais tão apertado, considerando que não há tanta demanda por mão de obra e o avanço salarial atual não deve representar riscos de alta para a inflação.

No último mês, dirigentes do Fed afirmaram que podem apoiar a manutenção prolongada dos juros ou nova alta, se a inflação manter persistência em nível elevado ou reverter progresso Foto: Leah Millis/Reuters

Indícios de aceleração da inflação devem ter um papel muito maior nas próximas decisões, de acordo com analistas. Kohl aponta que os números do núcleo da inflação continuam “comportados”, mas afirma que a inflação de serviços terá declínio “muito gradual” e, por isso, o Fomc deve repetir a mensagem de que a inflação está “arrefecendo” em seu comunicado.

O Citi também prevê poucas mudanças nos comunicados e nas projeções para a inflação da equipe técnica do Fed. O banco projeta que o núcleo da inflação ao consumidor (CPI) deve desacelerar para 0,26% e será visto como “progresso maior” rumo à meta de 2%. “Desde que a inflação continue a cair, será apropriado reduzir juros para evitar uma desaceleração profunda no crescimento”, analisa o Citi, que projeta o primeiro corte de juros do Fed em setembro, seguido por várias reduções consecutivas de 25 pontos-base (0,25 pp.) até que as taxas alcancem nível entre 3,25% a 3,5% em 2025.

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A visão do Citi, no entanto, difere da postura mais cautelosa da maior parte do mercado. Para a Stifel, o Fomc deve diminuir expectativas para cortes de juros em 2024, refletindo a divisão crescente entre os dirigentes otimistas na trajetória de inflação e aqueles que veem riscos de alta para as pressões de preços.

No último mês, vários dirigentes do Fed afirmaram que podem apoiar a manutenção prolongada dos juros ou nova alta, se a inflação manter persistência em nível elevado ou reverter progresso. Em sua última aparição pública, em 14 de maio, o presidente do Fed, Jerome Powell pediu paciência para deixar a política monetária restritiva “fazer seu trabalho” na inflação, mas afirmou que considera improvável um novo aumento nas taxas de juros.

A Oxford Economics afirma que a força do mercado de trabalho deve dar espaço para que o Fed espere “notícias melhores” sobre a inflação, mas que ”não há nada na decisão de junho que possa afastar precificação de início dos cortes em setembro, seguida por outro em dezembro”. “O gráfico de pontos deve mostrar apenas um par de reduções de 25 pontos-base em 2024″, estima a consultoria.

Economista-chefe da G5 Partners, Luis Otavio Leal também prevê que o eventual equilíbrio do mercado de trabalho e a desaceleração do CPI para cerca de 2,5% no segundo semestre deste ano devem permitir cerca de dois cortes em 2024. Leal analisa que este cenário será benéfico para ativos de risco e emergentes, principalmente brasileiros, e pode impulsionar o processo global de flexibilização da política monetária.

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Economista da Coface sobre América Latina, Patricia Krause prevê início dos cortes em setembro ou dezembro, com o Fed adotando “ritmo trimestral” de redução nos juros. Krause estima que isso deve ajudar na valorização de moedas emergentes, baixando o dólar a cerca de R$ 5,10, e contribuir com a flexibilização da Selic pelo BC do Brasil.

Menos otimista, o Rabobank acredita que o Fed cortará juros em setembro e dezembro graças a uma deterioração da economia dos EUA. Porém, alerta que isso representará o início de uma fase de estagflação que deve terminar em uma “recessão leve” no final de 2024. “Isso permitirá apenas mais dois cortes em março e junho de 2025″, afirma o banco, que prevê possível impacto inflacionário de tarifas comerciais por Donald Trump, caso o ex-presidente vença as eleições.

Por outro lado, a Hedgepoint Global Markets ainda alerta que há possibilidade de aumento de juros nos EUA, caso a economia continue demonstrando força e visto que o governo mantém política fiscal expansiva. “Embora pouco provável, isso traz desafios para mercados como o de commodities, cuja demanda está fortemente associada ao valor do dólar”, pondera.

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