BC dos EUA deve manter juros estáveis, mas traçar cenário pior com Trump

Chances de o Fed seguir com juros entre 4,25% e 4,50% ao ano eram de 99%, conforme ferramenta de monitoramento; deve ser a segunda manutenção das taxas após corte de 1 ponto no ano passado

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Foto do author Aline Bronzati
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NOVA YORK - O Federal Reserve (Fed) deve manter novamente os juros estáveis na reunião que termina nesta quarta-feira, 19. Na avaliação de analistas consultados pelo Estadão/Broadcast, a autoridade monetária quer esperar mais para ver o que acontecerá no governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mas deve antecipar um cenário pior para a inflação e o crescimento no país nas projeções publicadas em paralelo à segunda decisão de política monetária deste ano.

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Na véspera da reunião, as chances de o Comitê Federal do Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) seguir com os juros entre 4,25% e 4,50% ao ano eram de 99%, conforme ferramenta de monitoramento do CME Group. Depois de um corte total de 1 ponto porcentual no ano passado, esta deve ser a segunda manutenção das taxas.

Para economistas, a mensagem do Fed da reunião de janeiro, de que “não tem pressa” em flexibilizar mais a política monetária nos EUA, deve ser repetida no encontro deste mês. Com o ambiente de incertezas devido às medidas da gestão Trump — em especial a adesão de novas tarifas comerciais a partir de 2 de abril e a deportação de imigrantes indocumentados — o BC dos EUA deve preferir a cautela.

Edifício do Federal Reserve Board, em Washington, nos Estados Unidos Foto: Alex Wong/AFP

“A reunião do FOMC de março provavelmente será toda sobre incertezas em torno da política monetária. O Fed certamente ficará em espera, enfatizando paciência em vez de pânico”, diz o economista do Bank of America para os EUA, Aditya Bhave.

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Algum sinal do impacto da gestão Trump deve vir nas projeções que serão divulgadas em paralelo à decisão de política monetária. Economistas acreditam que os novos números devem ser alinhados com um quadro de estagflação nos EUA. Ou seja, inflação para cima e crescimento para baixo.

O Goldman Sachs espera que as projeções econômicas medianas do Fed mostrem uma revisão para cima de 0,3 ponto porcentual no núcleo da inflação do PCE de 2025, para 2,8%, e um queda de 0,3 pp no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA neste ano, para 1,8%, refletindo principalmente efeitos de novas tarifas comerciais. O próprio gigante de Wall Street foi além e aumentou 0,5 pp em cada métrica. “Os participantes do FOMC provavelmente farão ajustes com um pouco mais de cautela até que a política tarifária fique mais clara”, diz o time de economistas do Goldman Sachs, liderado por Jan Hatzius, em nota a clientes.

O CEO da BlackRock, Laurence D. Fink, fez um alerta quanto ao risco inflacionário da política nacionalista de Trump, em especial, as deportações de imigrantes, e que devem impactar o mercado de trabalho. “Nos próximos seis a nove meses, veremos uma inflação um pouco mais elevada”, disse, na CERAWeek, realizada pela S&P Global, na semana passada, em Houston (EUA).

“À medida que avaliamos as informações que chegam, nosso foco é separar o ruído do sinal de acordo com evolução do cenário. Não precisamos ter pressa e estamos bem posicionados para esperar por maior clareza”

Jerome Powell, presidente do Fed, em 7 de março

Quanto às expectativas para os juros, Goldman Sachs, Morgan Stanley e Bank of America esperam que o Fed mantenha a sinalização de dois cortes de juros de 0,25 pp neste ano e outros dois em 2026. O mercado está dividido entre dois e três cortes neste ano, segundo o CME Group.

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“Os cortes de gastos do presidente Trump e as políticas protecionistas comerciais estão prejudicando as perspectivas de crescimento e provavelmente forçarão a mão do Fed no segundo semestre de 2025″, avalia o holandês ING.

O comunicado que o Fed publica imediatamente após o fim de suas reuniões não deve trazer grandes novidades. E, apesar da pressão dos jornalistas, economistas avaliam que o presidente do BC dos EUA, Jerome Powell, deve evitar falas palpitantes na tradicional coletiva de imprensa que acontece na sequência da decisão do FOMC.

No entanto, os temores de recessão nos EUA estão aumentando. O secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, disse, no último domino, que não há “garantias” de que o país não passará por uma recessão. Mas, em Wall Street, a expectativa é de que Powell minimize tais preocupações.

“Esperamos que Powell soe cautelosamente otimista sobre o crescimento e a desinflação, mas enfatize a paciência, já que o curso da política monetária dependerá, em última análise, dos efeitos líquidos das escolhas ainda não feitas”, diz o economista-chefe do Morgan Stanley para os EUA, Michael T Gapen.

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Aperto quantitativo

Em paralelo, Bank of America e o Deutsche Bank acreditam que o Fed deve indicar uma pausa no processo de redução do seu balanço patrimonial e que também tem efeito nas condições financeiras do país. Na reunião de janeiro, dirigentes do BC dos EUA já sinalizaram que essa poderia ser uma medida apropriada diante do imbróglio da dívida pública americana.

Desde que o Fed começou a reduzir o seu balanço patrimonial, o volume total passou de quase US$ 9 trilhões para US$ 6,7 trilhões, segundo a autoridade. “O comunicado deve indicar que o Fed está pausando a redução do balanço até que o teto da dívida seja resolvido. Mas não esperamos que esse processo seja retomado na sequência”, diz Bhave, do BofA.

O Fed divulga a segunda decisão de política monetária de 2025 às 15h, no horário do Brasil. Powell comenta os resultados da reunião à imprensa, 30 minutos depois.

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