Fed eleva os juros nos EUA pela 1ª vez desde 2018 e aponta para mais 6 altas para conter a inflação

Com os aumentos esperados, a taxa de juros básica pode chegar a 2% ao ano no fim de 2022; nesta quarta, Fed subiu os juros em 0,25 ponto para a faixa entre 0,25% e 0,5%

PUBLICIDADE

Publicidade

O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) elevou os juros básicos dos Estados Unidos, os Fed Funds, pela primeira vez desde 2018, como esperado, mas sinalizou uma postura agressiva para controlar a inflação elevada no país, agravada pela guerra na Ucrânia

PUBLICIDADE

Para economistas, o Fed adotou um tom mais duro sobre a intenção de elevar os juros, mas a surpresa veio da sinalização de mais seis aumentos neste ano, indicando um futuro “muito mais severo” à frente. O Fed também surpreendeu ao anunciar que começará a reduzir o balanço de ativos de US$ 8,44 trilhões em sua próxima reunião, agendada para maio.

No encontro mais esperado do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, em inglês), o Fed elevou os juros dos Estados Unidos em 0,25 ponto porcentual, para a faixa entre 0,25% e 0,50% ao ano. Com mais seis elevações previstas, a taxa dos Fed funds encerraria o ano, ao menos, na casa dos 2,00%.

Sede do Federal Reserve (Fed); banco central dos EUAavalia que inflação se mantém elevada no país. Foto: Jonathan Ernst/ Reuters

"A alta de juro de 0,25 ponto porcentual adotada hoje foi apropriada. O Fed começará a baixar o balanço de ativos no próximo encontro. A inflação continua bem acima da meta de 2% de longo prazo", justificou o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, em coletiva de imprensa na sequência da decisão do Fed.

Demonstrando uma postura mais dura para controlar a inflação, ele afirmou que a autoridade monetária vai subir os juros mais rapidamente, se for necessário. "Vamos agir de forma expressiva para conter a inflação e não permitir que fique enraizada na economia", afirmou.

Publicidade

Para a estrategista global da Principal Global Investors, Seema Shah, o Fed conseguiu surpreender mesmo na reunião mais esperada do FOMC, indicando sete elevações de juros neste ano. "Com a inflação já quase quadruplicando sua meta, o Fed reconhece claramente a necessidade de voltar à frente da situação inflacionária", disse, em comentário ao Estadão/Broadcast.

Efeito para a economia

Embora alguns investidores possam estar preocupados quanto à capacidade da economia dos Estados Unidos em absorver sete aumentos de juros, segundo ela, a taxa dos Fed funds vão retornar ao patamar pré-pandemia, com a diferença de que a inflação hoje é três vezes maior. Powell também tentou acalmá-los. Segundo ele, o mercado de trabalho nos EUA "pode lidar" com a alta de juros, especialmente porque está bem aquecido.

"Esperamos que as pessoas voltem ao mercado de trabalho na medida que suas vidas voltem ao normal em relação à covid", disse o presidente do Fed.

Jerome Powell diz que o mercado de trabalho nos EUA "pode lidar" com a alta de juros porque está bem aquecido Foto: Tom Williams/Pool Photo via AP

Apesar disso, os dirigentes estão, segundo ele, "atentos a novas pressões de alta da inflação". Para Powell, a probabilidade de recessão no próximo ano no país "não é particularmente elevada", sobretudo porque a economia doméstica está forte, com um apertado mercado de trabalho. "A menor projeção do Fed para o PIB de 2022, que baixou de 4,0% para 2,8%, está também relacionada com a desaceleração da Europa que ocorrerá devido à guerra na Ucrânia", explicou.

Publicidade

O Fed também divulgou hoje novas projeções para a inflação dos Estados Unidos em 2022. Passou de 2,6% na divulgação em dezembro para 4,3% hoje. Para 2023, a projeção subiu de 2,3% para 2,7%. Já a projeção dos juros dos Fed Funds em 2022, foi de 0,9% para 1,9%.

PUBLICIDADE

O canadense CIBC chamou a atenção quanto à mensagem "muito mais severa" do Fed do que está por vir. "Para pegar emprestado de Mario Draghi, o Fed está essencialmente se comprometendo a fazer o que for necessário para que o índice de preços dos Estados Unidos (PCE, na sigla em inglês) volte à sua previsão de 2,7% no fim de 2023 (permitindo que ultrapasse nesse período) e 2,3% um ano depois", escreveu o economista do banco, Avery Shenfeld, retomando citação famosa de quando Draghi, hoje premiê da Itália, estava na presidência do Banco Central Europeu (BCE).

Para a britânica Capital Economics, as novas projeções econômicas do Fed reforçam a preocupação com a inflação elevada nos Estados Unidos. "Não vemos razão para o Fed não seguir seus planos e, agora, igualmente, antecipar que a taxa dos Fed Funds terminará este ano entre 1,75% a 2,00% e no próximo, de 2,75% a 3,00%", escreveu o economista-chefe da consultoria para os Estados Unidos, Paul Ashworth.

Além disso, o Fed sinalizou que começará a baixar o balanço de ativos no próximo encontro, que acontece entre os dias 3 e 4 de maio. A ata da reunião da autoridade monetária, encerrada hoje, segundo Powell, deve delinear com detalhes essa discussão. Para Ashworth, da Capital Economics, isso sugere que o aperto quantitativo (QT, na sigla em inglês) pode começar um pouco antes do meio do ano.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.