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Economia e políticas públicas

Opinião|Mais emprego do que PIB

Trabalho de Bráulio Borges indica que, desde 2021, o emprego avança mais do que o PIB, o inverso do que aconteceu no auge do efeito econômico da pandemia em 2020.

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O mercado de trabalho vem trazendo surpresas positivas recentemente. A taxa de desocupação da PNADC no trimestre março-abril-maio ficou em 9,8%, abaixo dos dois dígitos, portanto - algo que alguns analistas mais pessimistas apontavam que só deveria acontecer em 2025.

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Mas afinal, o que está acontecendo? A economia está 'bombando' e levando o mercado de trabalho a se aquecer?

Sem dúvida, como abordado recentemente neste espaço, a atividade econômica no Brasil também está melhor do que a maioria das projeções da virada do ano, afetando positivamente o mercado de trabalho.

Porém, como mostra detalhadamente recente artigo no Blog do Ibre de Bráulio Borges, economista sênior da LCA e pesquisador associado do FGV-Ibre, o surpreendente desempenho do mercado de trabalho deve-se em parcela relevante à mudança na composição setorial do PIB, com maior dinamismo em setores intensivos em trabalho, mas de menor produtividade.

É, de certa forma, a imagem invertida no espelho do ocorrido no auge dos efeitos econômicos da pandemia, sobretudo em 2020: a mão de obra mais abundante de baixa produtividade em setores intensivos em trabalho foi mais afetada pelo desemprego e pela saída do mercado de trabalho.

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O desempregou aumentou, e só não foi ainda maior pela saída de pessoas da força de trabalho. Mas a produtividade também se elevou, e foi um período de "muito PIB para pouco emprego".

Agora, num processo simétrico, a reabertura da economia leva à reincorporação de setores intensivos em trabalho, mas de menor produtividade, levando a uma situação de "muito emprego para pouco PIB".

No seu artigo, Borges observa inicialmente que, em termos dessazonalizados, a taxa de desemprego no trimestre encerrado em maio ficou em 9,5%, não só o menor nível desde o final de 2015, mas também muito próxima da média de 9,4% de 1996 a 2019.

O economista atualizou e aprimorou um exercício - que rendeu outro artigo no Blog do Ibre em setembro do ano passado -envolvendo a estimação de uma "Lei de Okun" (que estabelece relação entre as evoluções da taxa de desemprego e do PIB) simplificada para o Brasil.

Pelo novo exercício, que se inicia em 2012 (quando começa a série da PNAD Contínua, PNADC), a taxa de desemprego sugerida para o final de 2022 é de 11%, mas o indicador no mundo real já aponta para muito menos que isso.

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Borges, na sequência, examina os "candidatos" a explicar esse discrepância.

O primeiro é o fato de que a força de trabalho (PEA) como proporção da população em idade de trabalhar (PIA) caiu durante a pandemia e ainda não voltou ao nível pré-Covid.

Borges calcula uma "taxa de desemprego" com a PIA - e não a PEA - como denominador, e, apesar de a discrepância diminuir um pouco, a surpresa favorável do desemprego este ano não é desvendada por esse fator.

Em seguida ele aborda a composição setorial do PIB. Alguns setores empregam uma parcela da população ocupada maior do que o PIB que produzem, e vice-versa. O setor "Outros serviços", por exemplo, emprega 32% da PO, mas só é responsável por 18,1% do PIB (dados referentes a 2019).

O próximo passo do pesquisador é criar uma trajetória de "PIB" em que a participação de cada setor é reponderada não por quanto produz, mas por quanto emprega. Esse PIB "sob a ótica do emprego físico", e que ignora horas trabalhadas e evolução da produtividade do trabalho, é então comparado à trajetória do PIB oficial.

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E aí o que surge é que esse "PIB" alternativo "está crescendo muito acima do PIB oficial desde meados do ano passado - situação oposta àquela observada em 2020".

Em números, o PIB reponderado pela PO cresceu 7% nos quatro trimestres até março deste ano, bem acima dos 4,7% do PIB oficial (mais especificamente, o valor adicionado a preços básicos, VAPB, medida utilizada pelo pesquisador).

A "imagem invertida no espelho" citada acima fica evidente no fato de, em 2020, o PIB oficial (-3,7%) ter ido bem melhor - ou "menos pior" - que o PIB reponderado pela PO (-6,1%), enquanto em 2021 o "PIB/PO" (+6%) foi melhor que o PIB oficial/VAPB (+4,3%).

Em subsequentes desdobramentos do artigo, Borges indica que esse feito setorial, mesmo que não explique a totalidade da surpresa no mercado de trabalho este ano, desvenda parte relevante dela.

Ele nota que 55,6% do fluxo de ocupações criadas nos últimos 12 meses (até maio) veio dos segmentos de comércio, construção civil, outros serviços e serviços domésticos, comparativamente de menor produtividade e menores salários.

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Entre 2017 e 2019, esse setores criaram em média 49% das novas ocupações e, em 2013, ano imediatamente anterior à grande recessão de 2014-16, apenas 15% do total.

Borges aponta que "essa composição setorial do emprego desde meados de 2021 ajuda a compreender por que, a despeito de a taxa de desemprego ter recuado quase 5 p.p. nesse ínterim, o rendimento médio real caiu expressivamente no mesmo período, atingindo os menores níveis desde 2012".

No final do artigo, ele diz que voltará ao tema para discutir se, diante dessa evolução surpreendente do mercado de trabalho, o País já estaria em pleno emprego, e para apresentar suas estimativas atualizadas da chamada "taxa natural" de desemprego no Brasil.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast (fernando.dantas@estadao.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 7/7/2022, quinta-feira.

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Opinião por Fernando Dantas
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