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Economia e políticas públicas

Opinião | O que o mercado vê em Haddad?

Prestígio do ministro da Fazenda com sistema financeiro e liberais cresce, mas não é unânime, e se baseia tanto no que ele fez como também (e talvez principalmente) no que não fez.

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Foto do author Fernando Dantas

Com a boa fase dos mercados no Brasil - bolsa subiu, dólar e juros de mercado caíram -, o prestígio do ministro Fernando Haddad está em alta no mercado financeiro e entre os centristas liberais.

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Há uma diferença fundamental, entretanto, em relação ao sucesso de Antônio Palocci junto ao mesmo grupo no início do primeiro mandato presidencial de Lula. Haddad não está tocando a agenda preferida do mercado, como o ex-ministro da Fazenda de 2003 ao início de 2006. O atual titular do cargo é apreciado por tocar um programa de compromisso entre o que os liberais querem e o PT aceita, e por "matar no peito" e driblar as pautas de esquerda percebidas pelo mercado como mais prejudiciais à economia.

Para o economista Samuel Pessoa, do Julius Baer Family Office (JBFO) e do IBRE-FGV, Haddad logo na largada recebeu uma "batata quente" de Lula: o presidente decidiu inverter o ciclo político clássico, pelo qual os governos começam apertando o cinto para soltar os gastos na época de se reeleger (ou eleger o sucessor), e decidiu expandir a despesa significativamente no começo do mandato.

Levando em consideração essas circunstâncias, Pessoa considera que Haddad está indo bem. O economista da JBFO observa que o ministro da Fazenda estabeleceu boa parte da agenda de governo no seu primeiro ano, o que demonstra poder de convencimento junto ao presidente e boa interlocução no Congresso Nacional.

Os principais pontos dessa agenda são o novo arcabouço fiscal, a reforma tributária as iniciativas de Haddad contra o planejamento tributário e isenções de impostos injustificáveis. Nesses últimos tópicos, entram questões como preços de transferência, transbordamento de benefícios tributários estaduais para impostos federais, sistema de votação no CARF, comércio eletrônico de pequeno valor e apostas esportivas em sites.

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Pessoa nota que, nessas áreas, Haddad tem conseguido avanços ou pelo menos colocar os temas na pauta. Na visão do economista, essa agenda "polui" um pouco o caminho da reforma tributária, e ele a teria deixada para o segundo semestre. Ainda assim, é uma escolha de Haddad, e há o mérito de ter sido colocada de forma consistente.

Pessoa também elogia a habilidade de Haddad em receber batatas quentes de outras áreas do governo e "tocá-las com a barriga", fazendo pouco ou nada do que o mercado vê com maus olhos, sem despertar a ira de quem fez as propostas. É o caso da ajuda à Argentina, em que nada de concreto e significativo surgiu, ou o subsídio ao carro popular, que foi reduzido em valor e esticado para opções "menos piores" como caminhões e ônibus.

Segundo um gestor de fundos, "Haddad está sendo melhor que o temido, principalmente quando comparado com a visão de que ele mexeria na meta de inflação e ia fazer uma política fiscal muito ruim, mas ele não fez nem vai fazer nenhum dos dois".

Fica claro que a fonte já está dando como certo que a meta de inflação vai ser mantida em 3% (ainda que a periodicidade possa mudar de ano calendário para meta contínua).

Quanto à parte fiscal, o gestor diz que o fato de que a dívida pública vai continuar crescendo é ruim, mas o que se temia era algo explosivo, como no governo de Dilma Rousseff.

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Já outro participante do mercado se considera na "corrente minoritária" dos que não foram positivamente surpreendidos pelo desempenho de Haddad.

Para ele, a surpresa não é a qualidade da gestão econômica do atual ministro da Fazenda, mas sim o fato de que o mercado tenha reagido bem a um plano fiscal cheio de problemas, que não estabiliza a dívida pública ao longo do mandato presidencial.

Essa surpresa, por sua vez, se explica pelo fato de que a economia está melhor do que o previsto, com o PIB mais forte, em boa parte pela agropecuária, mas também com dinamismo nos serviços. A maturação de reformas microeconômicas realizadas ao longo dos últimos anos também pode estar contribuindo.

A isso se adiciona boas notícias no front inflacionário - para o que contribui a safra espetacular -, levando o mercado a ver mais próximo o início do corte da Selic. Mais PIB e menos juro são boas notícias para a dinâmica da dívida pública.

Ainda assim, na visão dessa última fonte, as metas fiscais de Haddad exigem uma quantidade enorme de receitas adicionais. O ministro, por sua vez, sistematicamente infla a estimativa de medidas ou vitórias do governo no front das receitas, de decisões no STJ a medidas provisórias.

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O governo, por sua vez, vem cumprindo todas as promessas de campanha ligada a gastos, com aumentos de salário mínimo, de salário dos servidores e do Bolsa-Família.

"O mercado está na base do 'já que está bom ele é bom', mas o que está sendo bom não tem nada a ver com o que Haddad fez até agora", resume o analista.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast (fojdantas@gmail.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 12/6/2023, segunda-feira.

Opinião por Fernando Dantas
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