Economia e políticas públicas

Opinião | Pouso suave do mercado de trabalho?

2024 foi um ano de glória para o mercado de trabalho, mas números de novembro e dezembro já dão primeiros sinais, ainda tímidos, de desaceleração. Economista Bruno Imaizumi, da LCA, crê que desaquecimento este ano será moderado e gradual.

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Foto do author Fernando Dantas

2024 foi um ano glorioso para o mercado de trabalho brasileiro. Segundo o Caged, foram criadas 1,7 milhão de vagas formais no ano passado, superando o 1,45 milhão de 2023. Já a Pnad contínua mostrou que a taxa anual de desemprego (desocupação) ficou em 6,6%, ante 7,8% em 2023. A taxa de 2024 foi a mais baixa da série iniciada em 2012. Tanto a renda média de 2024, de R$ 3.225, como a massa de renda, de R$ 328,6 bilhões, são recorde.

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Esses números deveriam ser razão de celebração por parte do governo, mas parece que o sentimento mais adequado é o de preocupação. Afinal, as últimas pesquisas de opinião indicam que, ainda na esteira desse apogeu do emprego e da renda, Lula amarga os mais baixos níveis de aprovação do seu terceiro mandato.

E, apesar do desempenho cintilante do mercado de trabalho em 2024, desde novembro a tendência predominante tem sido a de os números do emprego, incluindo o formal, virem abaixo do consenso do mercado. Isso não deveria ser nenhuma surpresa, já que o aperto da política monetária e a prometida desaceleração do impulso fiscal são ferramentas que o Banco Central (BC) e a equipe econômica da Fazenda estão utilizando para esfriar a economia, e tentar controlar a inflação muito acima da meta.

E os mais recentes resultados da Pnad Contínua e do Caged podem ser sinais, ainda tênues, dessa desaceleração.

Segundo José Márcio Camargo, economista-chefe da Genial Investimentos, "os dados mostram um possível início de desaceleração da economia começando a afetar negativamente o emprego; no Caged, a redução do desemprego é generalizada em todos os setores, mas mais forte em serviços".

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Bruno Imaizumi, economista da LCA 4intelligence, também vê os dados mais recentes, tanto da Pnad Contínua como do Caged, indicando desaceleração na margem do mercado de trabalho. Mas ele considera que esse processo em 2025 tende a ser "comedido", o que seria uma boa notícia para o governo.

Imaizumi vê algum paralelismo, em termos de mercado de trabalho, entre o que ocorreu em 2023 e o que ele acha provável que aconteça este ano: juros em alta, o que tende a frear a economia e o mercado de trabalho, mas com perspectivas muito boas em termos de safra (o que de fato ocorreu em 2023, e está projetado para 2025, depois de um 2024 mais difícil para o setor agropecuário).

O analista nota que a agropecuária tem pouco peso direto no emprego, mas seu bom desempenho acaba se transmitindo para vários outros segmentos, como processamento de matérias primas, transportes, diversos tipos de serviço, armazenagem etc.

Por outro lado, continua o economista, 2023 foi o primeiro ano totalmente sem pandemia, sendo ainda beneficiado por uma retomada muito forte em diversos serviços ligados à reabertura da economia - o que não vai ocorrer este ano.

Em 2025, Imaizumi vê possibilidade de redução particular do ímpeto do mercado de trabalho em setores mais sensíveis ao crédito, como construção civil, indústria e comércio.

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Em relação aos dados mais recentes, ele acrescenta que, ao contrário do emprego, em que se vê sinais de desaceleração, os rendimentos continuam surpreendendo para cima.

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Imaizumi projeta a criação de 1,3 milhão de vagas formais no Caged em 2025, comparado a 1,5 milhão em 2023 e 1,7 milhão em 2024. Ele ainda prevê crescimento de 1,5% da população ocupada (PO) este ano, e de 2% do rendimento médio real. Já a taxa de desemprego deve sair dos 6,6% de 2024 para 7% em 2025, na sua projeção.

Em termos de renda, ele nota que o aumento real do salário mínimo é um fator positivo, pois tende a balizar partes do mercado formal e mesmo informal. Dessa forma, o economista vê certa sustentação da massa de rendimentos e do consumo ao longo de 2025, e a LCA 4intelligence projeta crescimento do PIB de 2,3% este ano, com o primeiro semestre um pouco mais forte que o segundo.

Se essas expectativas se confirmarem, o Brasil possivelmente terá um pouso suave da economia, o que, se combinado com um processo desinflacionário efetivo, talvez leve a uma conjuntura às vésperas do ano eleitoral menos difícil para Lula.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast e escreve às terças, quartas e sextas-feiras (fojdantas@gmail.com)

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Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 31/1/2025, sexta-feira.

Opinião por Fernando Dantas
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