O recém-lançado relatório Commodity Market Outlook (Panorama do Mercado de Commodities) pelo Banco Mundial projeta que os preços das matérias-primas devem cair 5% em 2025 e 2% em 2026, depois de recuo de 3% em 2024.
Se essas tendências se confirmarem, haverá relevantes implicações para o Brasil. Por um lado, pode ser uma contribuição para o processo de desinflação em curso. Por outro, pode ter um impacto negativo nas receitas fiscais, cuja dependência parcial do setor extrativo cresceu nos últimos anos.
A produção e a exportação de petróleo são crescentemente importantes para a arrecadação e as contas externas brasileiras. Segundo a projeção do Banco Mundial, a média do petróleo bruto tipo Brent deve cair de US$ 80 pelo barril este ano para US$ 73 em 2025 e US$ 72 em 2026. Em outubro de 2023 e abril de 2024, o barril chegou a superar US$ 90.
Mas os autores do estudo indicam que tendências de longo prazo puxam o preço para baixo, como a redução da intensidade em petróleo do PIB global (com notável desaceleração da demanda da commodity por parte da China) e a crescente participação de produtores de fora da OPEP+ na oferta mundial. A queda do Brent em setembro para a maior baixa em três anos deveu-se à preocupação de que a OPEP+ aumentasse sua produção, a partir de uma capacidade não utilizada equivalente a 7% da atual produção mundial.
Os primeiros anos da década de 2020 trouxeram choques fortes para a economia global como a pandemia - com uma queda aguda da atividade seguida de forte retomada - e a invasão da Ucrânia pela Rússia.
Mas esses efeitos estão perdendo forças, e mais recentemente as commodities foram afetadas por um cardápio mais complexo de eventos, com efeitos em diferentes segmentos e nem sempre na mesma direção. Entre esses eventos, estão mudanças na expectativa sobre gestão de oferta, aumento de riscos ligados a conflitos, restrições comerciais e choques ligados ao clima, como os fenômenos El Niño e La Niña.
O cenário de commodities do Banco Mundial combina a projeção de queda dos preços do petróleo com altas do gás natural e estabilidade para metais e matérias-primas agrícolas.
Evidentemente, há riscos para as projeções do Banco Mundial sobre petróleo e commodities industriais (apontadas pela própria instituição), como um conflito mais grave no Oriente Médio e a combinação de crescimento acima da tendência dos Estados Unidos com os pacotes de estímulo da China. Mas, por outro lado, uma atividade industrial global mais fraca do que o antecipado poderia derrubar as commodities industriais.
Em relação à política fiscal brasileira, segundo os últimos números e projeções do economista Bráulio Borges (LCA e IBRE-FGV), divulgados em fevereiro deste ano, a arrecadação bruta no Brasil gerada pelo setor extrativo mineral (principalmente petróleo, com contribuição relevante do minério de ferro) saiu do recorde de 2,41% do PIB em 2022 para 1,66% do PIB em 2023.
A previsão é de relativa estabilidade em 2024, seguida de nova elevação (com o aumento da produção de petróleo nacional) até números pouco acima de 2% do PIB no final da atual década, a partir de quando se inicia novo recuo.
Esse aumento das receitas ligadas ao setor extrativo é, portanto, muito relevante para os resultados fiscais até o fim deste governo e do próximo. Dessa forma, a queda projetada pelo Banco Mundial do preço do petróleo até 2026 deve ser acompanhada com lupa pelo governo e pelo mercado.
Fernando Dantas é colunista do Broadcast e escreve às terças, quintas e sextas-feiras (fojdantas@gmail.com).
Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 1/11/2024, sexta-feira.
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