Depois de uma Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) decepcionante, divulgada ontem (quarta-feira, 11/8), hoje (quinta, 12/8) os números da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) vieram fortes em relação às projeções de mercado. Todos os setores de serviços tiveram alta ante maio, na série dessazonalizada.
O volume de serviços prestados na economia brasileira em junho apresentou uma alta de 1,7% em relação a maio (dessazonalizada), significativamente acima da estimativa mediana do Projeções Broadcast, de 0,4%. A elevação de 21,1% ante junho de 2020 também superou a mediana das projeções, de 17,9%.
Já a receita bruta nominal de serviços teve alta de 2,5% em junho, ante maio; e de 23,6% ante junho de 2020.
A economista Marina Garrido, do Ibre-FGV, observa que a surpresa positiva dos serviços em junho representam a terceira alta consecutiva na margem (ante o mês anterior, dessazonalizadamente).
O destaque, para ela, foi para os serviços prestados às famílias, que tiveram crescimento de 8,1% se comparado com maio (dessazonalizadamente) e de 72,7%, ante junho de 2020.
"Isso se deve, em grande parte, à maior mobilidade da economia, que parece estar voltando aos níveis de dezembro de 2020, quando a pandemia estava mais controlada no país", diz Garrido.
Ela acrescenta que, desde maio, o setor de serviços já se encontra no mesmo patamar do período pré-crise (fevereiro de 2020).
"Com a alta de junho, passamos a estar 2,4% acima", acrescenta.
Luana Miranda, economista da Gap Asset, no Rio, nota que itens de serviços mais afetados pelas restrições da pandemia cresceram forte em junho, como é o caso de serviços prestados às famílias (mencionados por Garrido) e transporte aéreo, com altas dessazonalizadas ante maio de 8,1% e 21,2%, respectivamente.
De certa forma, ressalva Miranda, esse é um movimento esperado, porque aqueles itens estão entre os que tiveram quedas maiores na pandemia, e agora têm um espaço mais longo a percorrer até à volta aos níveis pré-Covid.
Serviços prestados às famílias, que incluem negócios como alimentação fora de casa, alojamento (hotéis e pousadas) e recreação, ainda estão num nível 22,8% inferior ao de fevereiro de 2020, logo antes da pandemia. Já o transporte aéreo está 7,5% abaixo.
Mas a veloz recuperação desse itens, por outro lado, significa que aquilo que já estava na mira do mercado, a retomada dos serviços com o avanço da vacinação e a melhora da pandemia - ambos os fatores diminuindo as restrições à circulação -, está vindo de fato, de forma robusta.
No caso de transporte aéreo, por exemplo, em maio o nível ainda estava 24% abaixo do pré-pandemia. Em junho, como já citado, 7,5% abaixo. É um ritmo de retomada muito veloz.
A boa exibição dos serviços em junho é um dado importante para as projeções do PIB no segundo trimestre e no ano como um todo.
Fernando Rocha, sócio e economista-chefe da gestora JGP no Rio, considerou os números da PMS bem fortes, e compatíveis com um crescimento do PIB no segundo trimestre (ante o primeiro, na série dessazonalizada) de 0,6/0,7%.
Referindo-se a crescimento em junho dos serviços ante o mesmo mês de 2020, ele diz que "os 18% que eram esperados apontariam para um PIB no segundo tri na faixa de 0,2/0,3% [ante maio, dessazonalizado]".
Já o resultado efetivo de 21% de alta dos serviços em junho ante maio estica aquela projeção do PIB do 2º tri para a mencionada faixa de 0,6/0,7%.
"Isso me deixa confiante na nossa projeção de 5,8% para o PIB deste ano", acrescenta o gestor.
Miranda, da Gap, entretanto, faz uma interpretação da PMS e de outros indicadores econômicos de junho, como a PMC e a produção industrial, que leva a uma direção distinta da apontada por Rocha.
Para ela, os resultados recentes mais decepcionantes do varejo (PMC)e da indústria, em conjunção com a PMS forte, indicam que a previsto desvio de volta do consumo de bens para serviços já está ocorrendo.
Simplificadamente, por causa das restrições à circulação (entre outros motivos), houve durante a maior parte da pandemia uma redução do consumo de serviços acompanhada de um aumento do consumo de bens.
Assim, seria de se esperar que, com a Covid-19 amainando, o movimento inverso pudesse ocorrer, em direção ao padrão pré-pandemia.
Para Miranda, "isso dá uma cara para o PIB do ano mais entre 5% e 5,5% do que perto de 6% (a projeção da analista por enquanto é de 5,5%)".
Em relação à gangorra entre serviços e bens, Garrido, do Ibre, vai numa linha semelhante à de Miranda:
"A perspectiva é de que agora o vetor de crescimento da economia migre do setor de bens (indústria e varejo) para o de serviços, dada a falta de insumos para a produção e a alta taxa de desemprego que ainda temos na economia".
E, finalmente, há riscos como uma eventual evolução ainda mais forte do que o esperado da variante delta do coronavírus.
Outro risco ligado especificamente aos serviços, que Garrido classifica como grande, é a inflação.
"Apesar da alta de custos desde o primeiro trimestre, seguraram-se os preços, dada a baixa mobilidade; com menores restrições agora, os preços [dos serviços] devem ter uma escalada no segundo semestre", aponta a analista.
Fernando Dantas é colunista do Broadcast (fernando.dantas@estadao.com)
Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 12/8/2021, quinta-feira.
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