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Economia e políticas públicas

Opinião|Uma visão mais benigna da inflação de 2024

Carlos Thadeu Freitas Gomes, economista sênior da corretora BGC Liquidez, acredita que consenso está exagerando riscos do repasse cambial e da inflação de serviços.

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Foto do author Fernando Dantas

O IPCA de julho, em 0,35%, veio acima da mediana do Projeções Broadcast, de 0,38%. Em cerca de um mês, a expectativa mediana do IPCA de 2024 subiu de cerca de 4% para 4,12%. Preocupam a inflação de serviços, que pode estar sendo turbinada pelo mercado de trabalho aquecido, e o efeito nos bens industriais da desvalorização cambial.

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No primeiro caso, como reportado hoje por Gabriela Jucá, do Broadcast, Leonardo Costa, economista do ASA, calculou que média móvel trimestral anualizada e dessazonalizada dos serviços subjacentes (núcleo ao qual o BC presta particular atenção) elevou-se a 6,1% em julho.

Mas o analista Carlos Thadeu Freitas Gomes, economista sênior da corretora BGC Liquidez, tem uma visão mais benigna da inflação em 2024 do que a atual média do mercado. A sua projeção de IPCA em 2024 é de 3,95%.

Ele considera que projeções na casa de 4,2-4,5% estão exagerando tanto o fator repasse cambial quanto a inflação de serviços.

No caso do repasse cambial, Thadeu aponta um fator desinflacionário no que chama de "mudança estrutural no mercado de carros de combustão e híbridos em 2024 e 2025", sendo que os veículos correspondem a 1/3 dos bens duráveis no IPCA.

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Ele prevê que haja deflação no mercado de carros usados, à medida que os consumidores comprem veículos híbridos mais baratos e mais econômicos e queiram vender seus carros. Estes, por sua vez, sofrerão a mesma competição. Em seguida, o movimento deve chegar aos veículos novos. Esse movimento já ocorre de forma intensa na China, grande exportadora de carros elétricos e híbridos.

Esse movimento, que já se desenha em carros mais caros como picapes (que não estão no IPCA) vai em breve se deslocar para modelos mais baratos, e os consumidores podem antecipar a tendência desinflacionária adiando troca de veículos à espera dos modelos híbridos.

Já a parcela dos duráveis que não são automóveis também é impactada pela deflação de bens no mundo, o que deve mitigar o repasse cambial no Brasil.

Em relação aos serviços, Freitas Gomes nota que o número de julho de fato aproxima a tendência da média dos anos "ruins" nesse indicador, mas, retirando-se do índice seguros e tarifas bancárias, ele fica próximo da média dos anos bons.

A questão é se faz sentido retirar esses dois itens dos serviços subjacentes. O economista argumenta que faz. No caso dos seguros, a alta atual reflete, na sua visão, o choque de perdas de automóveis nas enchentes do Rio Grande do Sul. Portanto, é um fenômeno "one-off" (que ocorre uma vez só), e tende a se dissipar do índice.

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Já a alta das tarifas bancárias, na sua interpretação, deriva tanto da queda dos juros - o que faz com que os bancos as aumentem para compensar menor receita com títulos públicos - como pelo fato de que esta é a época do ano (a outra é no início) em que as instituições costumam fazer alta das tarifas. Num caso ou no outro, não seriam fatores puxados pela demanda, como é o caso da inflação de serviços que mais preocupa.

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Finalmente, o analista aponta que, em (ou até) julho, a inflação dos serviços intensivos em mão de obra - aquela que mais tipicamente pode estar ligada ao mercado de trabalho aquecido - foi de 5,7% em 12 meses e, em termos anualizados, de 5,1% em três meses e de 4% no mês, o que mostra uma desaceleração na ponta.

Já em relação à alimentação, Freitas Gomes observa que, nos grãos, há os fatore baixistas de uma boa safra de grãos americana e a revisão para menos intenso do atual fenômeno La Niña (que costuma ser negativo para a produtividade agrícola dos Estados Unidos).

Fernando Dantas é colunista do Broadcast e escreve às terças, quartas e sextas-feiras (fojdantas@gmail.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 9/8/2024, sexta-feira.

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Opinião por Fernando Dantas
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