LONDRES - Enquanto autoridades contam milhares de vítimas e tentam conter a propagação do ebola no oeste da África, a economia reage à doença. A primeira vítima pode ser o chocolate. A região afetada pelo surto responde por quase dois terços da produção mundial de cacau e, diante do avanço do problema, o preço da fruta que serve de matéria-prima para o chocolate já subiu 23% em um ano.
As mais de 4 mil mortes causadas pelo ebola compõem a face mais trágica da doença no oeste da África. O tamanho do drama humanitário e de saúde pública tornam as cifras menos importantes, mas a doença tem crescido a uma velocidade tão assustadora que economistas começam a contabilizar os prejuízos.
Uma das primeiras vítimas é a indústria cacaueira. O ebola está concentrado em três países - Guiné, Libéria e Serra Leoa - que já contam mais de 4 mil mortes e mais de 8 mil casos confirmados e suspeitos, segundo a Organização Mundial de Saúde. Do outro lado da fronteira leste da Guiné e Libéria, está o maior produtor mundial de cacau: a Costa do Marfim. Ao lado, o segundo maior: Gana. Segundo a Organização Internacional do Cacau em Londres, Costa do Marfim e Gana são responsáveis por 61% da produção mundial da fruta que fornece amêndoas para a fabricação do chocolate.
Fonte: OrganizaçãoMundial da Saúde e Organização Internacional do Cacau
"Guiné, Libéria e Serra Leoa representam menos de 2% da produção mundial de café, cacau, borracha, óleo de palma e algodão. No entanto, a maior preocupação está na possibilidade de a doença se espalhar para a Costa do Marfim e Gana, que respondem por 60% da produção global. Se incluirmos ainda a Nigéria e os Camarões, a região é responsável por pouco mais de 70% da produção mundial de cacau", dizem os analistas do Deustche Bank. Fora do principal foco da doença, a Nigéria já tem oito mortes e 20 casos confirmados ou suspeitos do ebola.
Os preços do mercado internacional já reagiram à doença. Segundo a Organização Internacional do Cacau, o preço médio da tonelada do cacau no mercado futuro de Nova York saltou de US$ 2,6 mil em setembro de 2013 para US$ 3,2 mil no mês passado - alta de 23% em um ano.
O chefe de estratégia para commodities do Saxo Bank, Ole Hansen, reconhece que o ebola ainda não causou nenhum problema na colheita ou transporte na atual safra. Há, porém, riscos para o setor. Por isso, o economista sugere manter posições "compradas" em cacau. O banco dinamarquês estima que a commodity deve seguir com preços elevados e prevê que a tonelada deve oscilar entre US$ 3 mil e US$ 3,4 mil.
Trecho de reportagem publicada no Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado
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