A indústria de transformação do País continua perdendo competitividade e reduzindo sua participação no Produto Interno Bruto Brasileiro (PIB), e a tendência é permanecer nesse caminho. A avaliação foi feita nesta terça-feira, 30, pelo presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes da Silva, numa de suas raras entrevistas desde que assumiu o cargo no início de 2022. Dono do grupo têxtil Coteminas, atualmente em recuperação judicial, ele admitiu que não concedeu mais de cinco entrevistas à imprensa e declarou que gosta de falar pouco.
”A maior falta de dinamismo na economia brasileira se deve à perda de produtividade na indústria de transformação e não se pode atribuir a um único fator a falta de crescimento e da regressão da participação no PIB”, afirmou. O setor, que engloba mais de uma dezenas de segmentos, que vão de fabricação de calçados, aço, máquinas e equipamentos, alimentos até automóveis, representa cerca de 11% do PIB. Décadas atrás, esse número superava 30%.
Josué lista três pontos que, na sua visão, são fundamentais. Sem eles, assegura, dificilmente qualquer setor consegue prosperar no País. O primeiro, diz, são os juros reais elevados, de mais de 6% ao ano, durante os últimos 25 anos. “Certamente, essa é uma das causas-raiz para o nosso problema de crescimento econômico”.
Segundo, por ser um dos setores mais organizados, a indústria é um dos setores mais tributados da economia. “Pagamos cerca de 30% do total de tributos arrecadados pelo Brasil, contra uma participação no PIB ao redor de 11,5%. E pior do que isso, são 45% do valor adicionado.” Em outros setores mais competitivos, diz, “o que nós aplaudimos”, é menos de 5% desse valor. A referência é ao agronegócio.
Por último, aponta o câmbio. “Em alguns momentos esteve desalinhado, sobrevalorizado. Não é o momento atual, que está mais desvalorizado que a taxa de equilíbrio.”
Ele diz que a indústria de transformação no País já representou 50% da mesma indústria nos Estado Unidos. Hoje, fica abaixo de 25%, já caminhando para 20%. Por quê?, pergunta. Diz que 70% da produtividade da indústria de bens de capital é explicada pela intensidade de capital aplicado.
“Se, durante três décadas, a geração de caixa das empresas diminuiu porque elas foram mais tributadas e não puderam recorrer a recursos de terceiros porque as taxas de juros eram elevadíssimas, é óbvio que o investimento foi menor do que da indústria de outros países.”
O Brasil, afirma Josué, precisa discutir esse tópico, e a sociedade tem de encontrar formas de romper esse baixo crescimento. “Nos últimos dez anos, o crescimento médio nacional foi de menos de 1%.” A indústria de transformação, destaca Josué, melhora significativamente a produtividade da economia brasileira. “Um fato é que o Brasil não cresce nos últimos 30 anos, principalmente nos últimos dez anos, quando a indústria de transformação encolheu no País”, afirma.
Sobre o novo modelo de imposto, originado da reforma tributária, o IVA (Imposto de Valor Agregado), o dirigente disse lamentar que a taxa de referência vai acabar fiando superior a 28%. “Tomara que prevaleça esse limite colocado de 26,5%. Nós, aqui na Fiesp, defendemos um limite de 25%, num esforço de compor com segmentos econômicos de maior poder político. Cada setor brigando por si e deixando de olhar o todo da sociedade”, afirmou.
Josué realçou que a sociedade precisa debater condições para que o País volte a crescer com taxas maiores. E fez um mea culpa referente à questão dos incentivos. “Nós mesmos, líderes de entidades empresariais, continuamos trabalhando pela perpetuação de incentivos que já perderam o sentido, se é que tiveram algum. Sou contra o incentivo e contra políticas verticais. O que funciona, numa economia complexa como a brasileira, são políticas horizontais”, afirma, ressalvando que isso ocorre, muitas vezes, numa luta pela sobrevivência. São R$ 600 bilhões de gastos tributários que vão se perpetuando sem ser revistos, informa.
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O presidente da Fiesp defende que setores super-relevantes da economia, sem nominar quais, precisam, também, fazer uma contribuição para a economia nacional. Não apenas de crescimento do PIB, mas também de maior pagamento de impostos, de uma normalização de suas condições de competição em relação aos outros segmentos. “Temos de evitar que não pare em R$ 250 bilhões anuais a transferência de renda vista hoje no País. Daqui a pouco, vamos chegar a R$ 1 trilhão ou R$ 2 trilhões.”
Josué disse que seu objetivo nos próximos 17 meses à frente da Fiesp, até o final de 2025, é debater como o Brasil pode voltar a crescer. E a indústria de transformação tem um papel nisso, junto da sociedade brasileira, que deverá achar uma saída. “O Brasil cresce pouco nos últimos 30 anos, período em que esse segmento industrial regrediu. Foi quando a taxa de juros permaneceu em patamares elevados, em que o Estado avançou cada vez mais com uma carga tributária maior em relação ao PIB. Temos déficit nominal de 9,9% do PIB e gasto de 7% para pagamento de juros da dívida.” Sem essa saída, ressalta, o País continuará patinando.
O presidente da Fiesp criticou quem defende plena abertura da economia brasileira para a indústria ganhar competitividade. “Se abrir a economia e deixar sem nenhuma condição de isonomia, a produtividade da indústria vai premiar uns poucos”, diz.
Ele disse que a entidade defende uma revisão da TEC (Tarifa Externa Comum, adotada no Mercosul), pois valia que a estrutura tarifária do Brasil está errada. “Há setores com tarifas de importação há muitos anos acima da tarifa consolidada pelo Brasil na Organização Mundial de Comércio, a OMC. Não estão sendo respeitadas e as alíquotas efetivas.” No caso de máquinas e equipamentos, exemplifica, a média praticada é de 6% a 7%, em razão dos ex-tarifários. Comparado com 15% a 16% definidos na OMC. “Estamos trabalhando para a revisão, para o Brasil se tornar um País normal.”
Josué apontou a questão das importações elevadas que os setores de aço e resinas plásticas vem enfrentando, com volumes crescentes oriundos principalmente da Ásia, com destaque para China. Informa que a China faz mais de 1 bilhão de toneladas de aço por ano e que ao exportar 10% é muito mais, algumas vezes, o que é consumido pelo Brasil. “O setor reivindica proteção, mas como ficam as indústrias de bens de capital e automotiva que tem o aço como um item crucial”, afirma.
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