Juros em alta, gastança federal e insegurança dos investidores ameaçam o crescimento econômico em 2025, por enquanto estimado em 1,99% segundo o boletim Focus divulgado no começo desta semana.
O boletim publica semanalmente as medianas das projeções coletadas no mercado. Sete dias antes a projeção do Produto Interno Bruto (PIB) indicava expansão de 2,01%. O desempenho efetivo calculado até agora por várias instituições mostra algum dinamismo na economia.
Com crescimento zero em janeiro, a produção industrial foi 1,4% maior do que a de um ano antes, interrompeu o tombo iniciado em novembro e acumulou expansão de 2,9% em 12 meses. Esses números, elaborados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), reforçam a previsão da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) de aumento de 1,3% do volume produzido pelo setor em 2025.
Também a prévia do PIB, calculada pelo Banco Central (BC), favorece a expectativa de uma economia razoavelmente animada em 2025. Em janeiro, o Índice mensal de Atividade Econômica do BC (IBC-Br) foi 0,89% maior do que no mês anterior e superou o teto das projeções Estadão/Broadcast (0,70%). Além disso, ficou 3,58% acima do nível atingido um ano antes e alcançou a taxa de 3,82% em 12 meses, com ligeiro arrefecimento em relação ao desempenho acumulado até dezembro (3,88%).

O dinamismo econômico registrado até agora dificilmente se manterá ao longo do ano, se as autoridades não tentarem controlar a inflação e conter o desequilíbrio das finanças públicas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem-se mostrado, no entanto, pouco disposto a impor um freio à atividade para conter a inflação e favorecer o erquilíbrio das contas federais.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem defendido maior atenção a essas contas, mas sem sucesso visível.O presidente continua aparentemente inclinado a gastar de acordo com suas inclinações políticas, as bandeiras petistas e, provavelmente, seus interesses eleitorais. A campanha eleitoral de 2026 de fato já começou.
Sem a cooperação do Executivo, o Copom, Comitê de Política Monetária do BC, terá de cuidar sozinho do combate à inflação e, portanto, da defesa possível das contas públicas. A ação antiinflacionária do BC consiste normalmente em elevar os juros para limitar o crédito e frear a atividade econômica. O efeito pode ser mais duro do que seria se o governo tivesse a iniciativa de conter seus gastos e desaquecer o consumo e a produção.
O Brasil iniciou esta semana com juros básicos de 13,25% e perspectiva de aumento para 14,25%. Além dessa, outras elevações já são previstas no mercado e, segundo projeções correntes, o ano poderá terminar com a taxa básica, a Selic, já aumentada para 15%. Segundo estimativas do mercado, mesmo com juros nesse nível a inflação acumulada em dezembro de 2025 poderá estar acima de 5,5%, superando por mais de um ponto o teto da meta (4,5%).
Para o próximo ano o mercado ainda projeta uma alta dos preços ao consumidor na vizinhança desse teto, com juros básicos de 12,50%, ainda muito altos e bem superiores aos níveis encontrados no mercado internacional.
Falta verificar se o presidente Lula estará disposto a encerrar seu atual mandato num cenário como esse, com inflação muito alta, juros ainda assustadores e crescimento econômico talvez abaixo de 2%.