Fim do saque-aniversário do FGTS enfrenta resistências e governo cogita mudar regras

Senador Ciro Nogueira prometeu orientar PP a votar contra projeto do governo no Congresso; proposta de pagamentos retroativos estudada por ministério gera preocupação na equipe econômica

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Foto do author Carlos Eduardo Valim
Foto do author Mariana Carneiro

A proposta do ministro do Trabalho, Luiz Marinho, de acabar com o saque-aniversário do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), já enfrenta resistências de parlamentares. No sábado, 29, o ministro afirmou ao Estadão que o mecanismo é uma “sacanagem” contra o trabalhador e que deverá enviar ao Congresso em agosto um projeto de lei, em fase final de avaliação, para acabar com a iniciativa.

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Após a declaração, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) criticou o projeto do governo nas redes sociais. Em resposta, o ex-ministro da Casa Civil do governo de Jair Bolsonaro, que instituiu o saque-aniversário, escreveu em seu Twitter que “acabar com o direito do saque-aniversário do FGTS é impedir o trabalhador, que ganhou aquele dinheiro com muito suor, de decidir como e quando gastá-lo”.

E acrescentou: “Agora, com o governo do presidente da democracia relativa, sabe como é, né? O Estado pode tudo, inclusive decidir quando e como você deve gastar o seu dinheiro”.

Presidente do PP, partido do presidente da Câmara, Arthur Lira, Ciro disse que irá defender que a legenda impeça “mais esse absurdo” e que se una em “defesa da liberdade de escolha do trabalhador acima de tudo”. Ele indicou que deve orientar o partido a firmar posição contrária à proposta.

Marinho vem se declarando, desde o início do governo, contra o saque-aniversário. O ministro considera o mecanismo prejudicial ao trabalhador por não permitir, em caso de desemprego, o acesso ao restante dos recursos que detém no fundo, se tiver optado por retirar parcelas em seu aniversário.

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Marinho critica saque-aniversário do FGTS desde o início do governo Lula Foto: Adriano Machado/Reuters

O saque-aniversário do FGTS foi instituído por lei em 2019 e permite que o trabalhador escolha receber desembolsos anuais, sempre no mês de seu aniversário. Em compensação, quando é demitido, o trabalhador não tem direito a acessar o saldo integral do fundo e apenas recebe a multa rescisória.

Considerando a resistência que pode enfrentar no Congresso, há no governo uma ala que considera manter o saque-aniversário, mas mudando as suas regras. O trabalhador poderia retirar recursos em seu aniversário e, mesmo assim, continuaria tendo acesso ao restante do que teria direito em caso de demissão.

O Ministério do Trabalho também considera autorizar saques retroativos, para optantes do saque-aniversário desde o início da vigência da lei, em 2019.

A preocupação de técnicos da área econômica que manejam os recursos do FGTS é que essas retiradas retroativas descapitalizem o fundo, utilizado também para o financiamento habitacional e saneamento.

Defensores do saque-aniversário acreditam que a preocupação com o risco de descapitalização não se justifica.

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“O volume de ativos do FGTS cresce constantemente todos os anos apesar dos saques que acontecem. Haver saques, em aniversários ou por qualquer outra razão, não tem comprometido, de forma alguma, o volume e o crescimento dos recursos dentro do FGTS”, afirma o especialista em investimentos Michael Viriato, estrategista da Casa do Investidor.

O demonstrativo do FGTS, que apresenta as razões para as retiradas, informa que a principal delas é a demissão sem justa causa, e apenas 17% delas acontecem por saque-aniversário.

“É um percentual muito baixo para dizer que interfere no volume do FGTS”, diz Viriato. “Inclusive, ele é superimportante para o trabalhador, especialmente neste momento. Ele pode ir sacando e comprar um imóvel, em vez de sacar tudo de uma vez para o mesmo objetivo, ou pode fazer reformas em sua casa, o que é muito bom para o desenvolvimento da construção.”

Além disso, esses recursos possibilitam às famílias reduzirem seus endividamentos, num momento de alto índice de inadimplência no País. Dessa forma, pode sobrar mais dinheiro para consumo. O especialista também é favorável ao projeto alternativo de se criar o saque retroativo.

“Muita gente não aderiu ao saque-aniversário justamente porque temia não ter acesso ao saldo integral, caso fosse demitida”, diz Viriato. A ideia daria mais liberdade ao trabalhador, justifica.

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