Ao mesmo tempo em que esse tipo de serviço começa a se tornar cada vez mais comum na vida de empresas que nada tinham a ver com o setor financeiro, a maior parte dos entrantes desse mercado não tem registro de banco. Nos últimos anos, o Banco Central (BC) liberou que essas empresas de banking as a service (BaaS), que possuem algum tipo de licença da autarquia, pudessem comercializar serviços financeiros diversos através de um “white label”. Ou seja, essas companhias têm a liberação de vender os serviços para outras empresas, mas elas continuam como responsáveis por toda a gestão do negócio e a obrigação de comunicar todos os passos ao BC. Foi uma forma da autarquia, segundo Wagner Moraes, sócio-fundador da consultoria A&S Partners, de fomentar a concorrência do setor bancário no Brasil, que sempre foi concentrado na mão dos grandes bancos.
Não por acaso, o interesse de empreendedores por esse segmento de fintechs está crescendo. De acordo com dados da plataforma de inovação aberta Distrito, o número de fintechs que atuam no segmento de BaaS mais do que triplicou entre 2017 e 2020 e somam, agora, 28. “A tendência é de crescimento para esse setor, que já é uma realidade. Já existem muitas fintechs viabilizando isso e tem mais espaços para serviços mais nichados, como o ‘banco da mulher’, o ‘banco do estudante’, entre outros”, diz Gustavo Araújo, CEO da Distrito.
No caso da varejista de joias Acium, a empresa quer ser um banco dos seus franqueados. Com 260 lojas espalhadas pelo País, e com a previsão de alcançar 300 nos próximos meses, a empresa percebeu que muitas das operações financeiras poderiam ser feitas dentro de casa. Com vendas no montante de R$ 150 milhões ao ano, a companhia decidiu criar o Acium Bank, que está iniciando a operação agora. Por enquanto, as lojas já receberam as suas maquininhas e, em breve, os clientes terão também uma conta digital e possibilidades de financiamento para abrir novas lojas. “Se torna um modelo de negócio muito rico, pois temos diversos dados dos clientes para criar um ecossistema para eles”, diz Luiz Pellegrino, diretor responsável pelo Acium Bank. A ideia é dar mais benefícios para aqueles que aderirem às ferramentas, mas, pelo menos por ora, não será algo mandatório. No futuro, os clientes das lojas também poderão ter acesso a financiamentos para comprar joias.
“A conta digital virou uma commodity. Hoje, você consegue diversos fornecedores para fazer o mesmo o que somente cinco bancos faziam antigamente”, diz Yan Tironi, presidente da BBNK, outra empresa com soluções financeiras no modelo “white label” e que tem a licença de instituição de pagamento no Banco Central. De acordo com o executivo, a demanda tem sido cada vez maior e não somente de varejo: educação e saúde também querem bancos digitais para chamarem de seus. Há três anos no mercado, a BBNK já criou mais de 20 serviços white label, o que representa a abertura de 200 mil contas digitais. Para Tironi, os grandes bancos nunca foram atrás dos segmentos mais de nicho e deixaram de buscar soluções mais individualizadas para cada tipo de cliente. “O Brasil ainda tem muitos desbancarizados e o que eu chamo de ‘mal bancarizados’, então há um espaço grande para que outras empresas explorarem esse mercado”, afirma Tironi.
Controle.
Nos últimos anos, o BC vem liberando uma série de instituições para atuarem como bancos digitais para diminuir a concentração financeira histórica que ocorre no Brasil. Segundo a autarquia, apesar do aumento do número de aprovações, a segurança é a mesma. E mesmo as empresas que atuam no modelo "white label" seguem todas as regras do BC. Porém, o BC afirma que a segurança é a mesma, pois todos os bancos possuem o mesmo crivo de segurança.
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