A agência de classificação de risco Fitch rebaixou nesta quarta-feira a nota do Brasil e tirou o grau de investimento. O rating do País passou de BBB- para BB+, com perspectiva negativa. É a segunda agência a colocar o Brasil no grau especulativo. Em setembro, a Standard & Poor's já havia tomado a mesma decisão. Agora, a economia brasileira detém o selo de boa pagadora apenas pela Moody´s, que também já ameaça com um novo rebaixamento.
De acordo com a Fitch, a recessão no País é maior que o anteriormente antecipado. Além disso, o corte na nota reflete acontecimentos fiscais adversos e o aumento na incerteza política, que pode minar a capacidade do governo de efetivamente implementar medidas fiscais para estabilizar o crescente peso da dívida.
Ontem, o governo da presidente Dilma Rousseff pediu ao Congresso Nacional aval para que a meta fiscal de 2016 seja, na prática, de zero. A decisão foi tomada à revelia do ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Minutos depois do rebaixamento pela Fitch, porém, integrantes da base aliada e da oposição na Comissão Mista de Orçamento (CMO) anunciaram um acordo para reduzir o superávit primário de 0,7% para 0,5% do PIB em 2016, sem qualquer tipo de abatimento.
Incertezas. A agência Fitch diz que a perspectiva negativa para a nota do Brasil é uma mostra da contínua incerteza e dos riscos de baixa relacionados aos acontecimentos econômicos, fiscais e políticos. O cenário de deterioração doméstica aumenta os desafios das autoridades para adotar ações de correção na política para apoiar a confiança e melhorar as perspectivas para o crescimento, a consolidação fiscal e a estabilização da dívida.
A Fitch também afirma que o quadro de piora econômica no Brasil não dá sinais de melhora, como mostrou o Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre, bem como os números de consumo e investimento, que se deterioram.
"A economia contraiu 1,7% (na comparação trimestral) e 4,5% (na comparação anual) no terceiro trimestre de 2015", lembra a agência. A agência prevê que o PIB do Brasil encolha 3,7% em 2015 e 2,5% em 2016, respectivamente, com riscos de piora nessas projeções.
O aumento na taxa de desemprego, a dificuldade de obtenção de crédito, a confiança deprimida e a alta inflação pesam sobre o consumo, enquanto as incertezas na política, a fraqueza no setor de construção e consequências negativas das investigações de corrupção na Petrobras e os cortes de investimentos prejudicam o quadro.
"O ambiente externo permanece difícil para o Brasil, com a forte queda nos preços das commodities, a desaceleração na China e o aperto nas condições financeiras internacionais", afirma a Fitch.
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