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FMI: riscos fiscais e geopolíticos pautam reunião anual; Haddad se reúne com a Fitch

Encontro, que começa nesta segunda-feira em Washington, marca também a estreia do futuro presidente do BC nas reuniões do Fundo Monetário

Foto do author Aline Bronzati

NOVA YORK - Ministros das finanças e banqueiros centrais de todo o mundo se reúnem a partir desta segunda-feira, 21, em Washington, capital dos Estados Unidos, para as reuniões anuais do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial. O encontro ocorre em meio a desafios fiscais, enquanto o mundo tenta fazer um “pouso suave” e teme o potencial de escalada dos conflitos no Oriente Médio.

Do lado do Brasil, os encontros simbolizam o começo da despedida da presidência do G-20, grupo que reúne as maiores economias ao redor do globo, e devem estar no foco dos mercados, com uma nova agenda da equipe econômica com a agência de classificação de risco Fitch Ratings, na esteira da melhora recente da nota do País pela Moody’s.

Reunião anual do FMI e do Banco Mundial começa nesta segunda-feira Foto: Tierney Cross/AFP

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A comitiva brasileira será liderada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e conta ainda com o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto. Uma novidade será a estreia do diretor de Política Monetária e futuro chefe de autoridade, Gabriel Galípolo, nos encontros do FMI, conforme antecipou o Broadcast, no início do mês. As reuniões anuais vão até o dia 26.

Para a diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, não há motivos para gritos de vitória nas reuniões anuais do organismo por três motivos. O primeiro é que as economias devem passar a conviver com um maior nível de preços na esteira da pandemia. A segunda razão é um ambiente geopolítico difícil. Por fim, uma “combinação implacável de baixo crescimento e alta dívida” e que aponta um “futuro difícil” para a economia global.

“O quadro se torna mais preocupante devido à dívida pública alta e crescente - muito maior do que antes da pandemia”, disse Georgieva, em discurso, na semana passada.

Estudo do FMI aponta que a dívida pública global deve quebrar a marca de US$ 100 trilhões neste ano e pode subir cerca de 20 pontos porcentuais do Produto Interno Bruto (PIB) mundial em um cenário adverso severo, mas plausível. O quadro pode se agravar mais em países como o próprio Brasil, além de nomes como França, Itália, África do Sul, Reino Unido e Estados Unidos, de acordo com a análise do Fundo, publicada na semana passada como parte dos encontros anuais.

O fiscal também deve ser tema central da agenda do Brasil nos encontros promovidos por bancos nacionais e estrangeiros com investidores, que acontecem às margens do FMI. Dentre eles, está a conferência do Itaú Unibanco e ainda um encontro promovido pelo UBS BB. Nas últimas semanas, cresceu a pressão para que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva faça um ajuste fiscal do lado das despesas em meio a temores de novos gastos, passadas as eleições municipais.

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“É quase impossível manter a taxa de crescimento real dos gastos do governo nos próximos dois ou três trimestres”, disse o ex-diretor do Banco Central e estrategista-chefe da BTG Pactual Asset Management, Tiago Berriel, durante conferência da Câmara de Comércio Brasil-EUA, realizada há mais de duas décadas e que antecede as reuniões anuais do FMI.

Um dos pontos de atenção do mercado deve ser a nova reunião da agência de classificação Fitch com Haddad, cerca de um mês após se encontrarem em Nova York. Desde então, a rival Moody’s elevou a nota de crédito do País, deixando o Brasil a um passo do grau de investimento. O movimento foi visto como “muito otimista” pelo mercado, embora a agência tenha cobrado a lição de casa fiscal como fator determinante para o País retomar o selo de bom pagador de dívidas, perdido em 2015.

O diretor sênior de Soberanos na Fitch Ratings, Todd Martinez, avaliou, em recente entrevista ao Estadão/Broadcast, que a agência não vê o Brasil em um caminho claro para outra melhora no rating, após a realizada no ano passado.

Despedida da liderança do G-20

As reuniões na capital dos EUA também marcam o começo da despedida da liderança do Brasil no G20. Quem puxa a fila é Haddad, que comanda o último encontro de ministros de finanças do grupo, a chamada trilha financeira, em paralelo às reuniões do FMI. A Fazenda espera que a agenda internacional seja marcada por avanços importantes na temática dos bancos multilaterais, além de prever um anúncio na área de financiamento climático.

No contexto do G-20, espera-se um balanço dos 25 anos da trilha financeira, que reúne os ministros de finanças das principais economias do mundo. Uma coletiva de imprensa com Haddad está prevista após o encontro.

Campos Neto também deve se despedir das reuniões anuais do Fundo como presidente do BC - seu mandato termina em dezembro. Ele é destaque de evento do UBS BB, na quarta-feira, 23, a partir das 16h30 de Brasília (15h30 no horário local), para investidores estrangeiros. Na sexta-feira, 25, Campos Neto participa de evento do Itaú, segundo apurou o Estadão/Broadcast.

Por sua vez, Galípolo, seu sucessor e que assume o comando da autoridade monetária em janeiro de 2025, estreia nesses encontros, que reúnem a nata da comunidade financeira internacional. Também integra a comitiva brasileira a ministra do Planejamento, Simone Tebet.

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No contexto global, é difícil imaginar muitas conversas em Washington que não comecem ou terminem com a iminente votação presidencial nos Estados Unidos, em novembro, diz o economista do ING, James Smith. “Mas perguntar quem vencerá parece uma pergunta desperdiçada”, diz, lembrando que a resposta está nas mãos dos eleitores dos Estados indecisos. A contribuição de estímulos fiscais para a aceleração do crescimento na China e os recados dos banqueiros centrais também estão no centro das reuniões, conforme Smith.

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