O Fundo Monetário Internacional (FMI) revisou uma série de iniciativas que apoiam países de baixa renda em meio à forte demanda por empréstimos e taxas de juros mais elevadas. Entre as ações, está o fortalecimento do Fundo de Redução da Pobreza e Crescimento (PRGT, na sigla em inglês), principal veículo do organismo para concessão de empréstimos a nações subdesenvolvidas.
O FMI defende maior participação dos países ricos para construir uma carteira que mantenha um ritmo de liberação de novos financiamentos. Atualmente, o fundo apresenta déficit de cerca de US$ 1,6 bilhão em promessas de recursos de subsídios, e em torno de US$ 4,7 bilhões em empréstimos para concluir o primeiro estágio da ação de financiamento de 2021.
“As finanças do PRGT estão sob tensão devido à demanda substancialmente mais forte por empréstimos e taxas de juros acentuadamente mais altas do que o previsto anteriormente”, avalia o Fundo, que abre hoje os chamados encontros de Primavera do FMI e do Banco Mundial.
Sediado em Washington (EUA), o evento deve ser marcado por discussões sobre os efeitos do aumento da inflação no mundo e do risco de nova crise bancária, depois da falência de duas instituições no EUA (Silicon Valley e Signature) e da venda forçada do Credit Suisse para o UBS (leia mais nesta página).
Desde a pandemia, o FMI apoiou mais de 50 países de baixa renda com cerca de US$ 24 bilhões em empréstimos sem juros. A diretora-gerente do organismo, Kristalina Georgieva, já alertou para o peso da dívida de países emergentes e de baixa renda e para o risco de uma onda de reestruturações. Convocou ainda os membros mais ricos do Fundo a ajudar a resolver os déficits de arrecadação de recursos no PRGT.
Outras mudanças
Em outra frente, o FMI revisou também a adequação de recursos do Fundo de Resiliência e Sustentabilidade (RST, na sigla em inglês), que oferece financiamento de longo prazo a países de baixa renda e pequenos Estados para diminuir os riscos das mudanças climáticas e pandemias, e do Fundo de Contenção e Alívio de Catástrofes (CCRT, na sigla em inglês), que apoia nações subdesenvolvidas atingidas por desastres naturais ou de saúde pública.
No caso do RST, o FMI diz que até o momento há cinco acordos aprovados desde a sua operacionalização, em 12 de outubro de 2022, e que a lista de possíveis solicitações está aumentando “rapidamente”. As promessas já representam 76% da meta de recursos, deixando um déficit de cerca de US$ 8,8 bilhões em relação ao patamar original de arrecadação. Já o CCRT teve seu saldo de caixa quase esgotado na pandemia.
Nova âncora fiscal
Sem a presença do ministro da Fazenda, Fernando Haddad – que vai acompanhar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em viagem à China –, o chefe da delegação brasileira nos encontros do FMI e do Banco Mundial será o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Em Washington, ele vai participar de debates no evento e também de reuniões de ministros da Fazenda e de presidentes de BCs do G20 – que reúne as maiores economias do mundo – e encontros com investidores institucionais.
Outra autoridade brasileira que estará em Washington será o secretário de Políticas Econômicas da Fazenda, Guilherme Mello, que já tem uma série de encontros com investidores. Os eventos serão organizados por bancos como JPMorgan, UBS, HSBC e também brasileiros como o Itaú BBA, braço de negócios de atacado do conglomerado, e XP Investimentos, de acordo com pessoas envolvidas na definição da agenda. Procurado, o ministério não fez comentários sobre a agenda do secretário.
Entre os temas que devem pautar a conversa com os investidores estrangeiros, o grande destaque será a proposta de um novo arcabouço fiscal para o Brasil, em substituição ao teto de gastos – que deve ser enviada formalmente nesta semana ao Congresso.
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