FMI reconhece avanço de reformas no Brasil, mas cobra compromisso fiscal mais ambicioso

Fundo espera que País tenha expansão de 2,1% neste ano, acima de estimativa anterior de 1,2%; ainda assim, ritmo deve desacelerar em relação a 2022, quando Brasil cresceu 2,9%

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Foto do author Aline Bronzati

NOVA YORK - Depois de melhorar novamente a projeção para o crescimento do Brasil neste ano, o Fundo Monetário Internacional (FMI) reconheceu que o avanço da agenda legislativa no País, com o novo arcabouço fiscal e a reforma tributária, enviam um sinal positivo. Apesar disso, o organismo reforça a cobrança de uma consolidação fiscal mais ambiciosa no País, conforme o novo relatório Artigo IV, documento anual do Fundo que avalia a economia de seus países-membros, publicado nesta segunda-feira, 31. A missão do Fundo ao Brasil foi realizada entre os dias 2 e 16 de maio.

“Avanços recentes na agenda legislativa — com a reforma tributária, o novo arcabouço fiscal e o fortalecimento da revisão administrativa das disputas tributárias avançando a passos largos — enviam um sinal positivo”, disse o FMI, no documento.

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Quanto ao crescimento do País, o Fundo alerta para uma moderação da expansão no resto do ano, embora veja a atividade econômica convergindo para níveis potenciais. O FMI espera que o Brasil tenha expansão de 2,1% neste ano, acima da sua estimativa anterior e que apontava alta de 1,2%, conforme as novas projeções divulgadas na semana passada. Ainda assim, o ritmo deve desacelerar frente a 2022, quando o País cresceu 2,9%.

“O abrandamento do consumo privado e a queda do investimento apontam para uma maior moderação do crescimento no resto do ano”, projeta o Fundo, lembrando que nos primeiros meses de 2023, a expansão foi sustentada por uma produção agrícola muito forte, enquanto a manufatura e os serviços foram moderados.

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FMI reconheceu avanços na pauta legislativa encampada pelo Ministério da Fazenda, como o arcabouço fiscal e a reforma tributária Foto: André Dusek / Estadão

Às vésperas da reunião do Banco Central (BC), o FMI reconheceu a melhora da inflação brasileira e teceu elogios à resposta proativa da política monetária da autoridade monetária, que deve ser o segundo a iniciar o processo de relaxamento das taxas, após o Chile. O Fundo ressalta que as decisões do BC brasileiro devem continuar voltadas ao futuro e dependente de dados econômicos, mas também celebra a manutenção das metas de inflação.

Dirigentes do Fundo advertem que o núcleo da inflação brasileira, que serve para medir a real temperatura dos preços nas economias ao excluir itens voláteis como gastos com energia e alimentos, permanece elevado e que as expectativas de inflação também estão acima da meta. Apesar disso, o Fundo espera que a inflação nominal alcance 5,4% até o fim de 2023 e convirja para a meta em meados de 2025, enquanto a inflação básica deve cair mais de forma gradual.

O FMI alerta ainda para os riscos do contexto mundial e que incluem uma desaceleração global abrupta, um aperto acentuado das condições financeiras e volatilidade dos preços das commodities. No âmbito doméstico, acrescenta, os perigos residem na retomada da incerteza fiscal e de uma inflação mais persistente, mas acrescenta que os riscos mudaram de direção e, agora, são positivos.

“Consolidação fiscal mais ambiciosa, a aprovação e implementação da reforma dos impostos indiretos e as oportunidades de crescimento verde trazem riscos positivos”, observa o organismo, no documento.

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Os dirigentes do FMI destacaram ainda os avanços de uma agenda mais competitiva no sistema financeiro, incluindo o Pix e o Real Digital, ressaltando possíveis riscos à estabilidade financeira relacionados à digitalização. Neste front, também reforçaram o coro para o cuidado em torno de um papel maior dos bancos públicos para mitigar os riscos para a sustentabilidade fiscal e a transmissão da política monetária.

Por fim, mencionando o papel do Brasil nos esforços internacionais para enfrentar os desafios da mudança climática, os diretores do organismo saudaram os planos para fortalecer a resiliência climática, deter o desmatamento ilegal e descarbonizar a economia doméstica.

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