Ford chama grupo de trabalhadores para produzir peças voltadas ao mercado de reposição

Após fechar fábricas, empresa quer a volta de alguns funcionários apenas para produção temporária; sindicatos orientam operários a não aceitar proposta e aguardar o fim das negociações

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A direção da Ford iniciou ontem encontros com dirigentes sindicais das fábricas de Camaçari (BA) e Taubaté (SP) para negociar indenizações aos trabalhadores. Segundo as entidades, não houve ainda apresentação de propostas, o que deve ocorrer amanhã, em novo encontro já agendado.

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Na sexta-feira, a montadora enviou carta aos funcionários das fábricas de Taubaté (motores) e Camaçari (onde produzia o EcoSport e o Ka), dizendo que convocará um grupo para produzir, “por alguns meses” peças para o mercado de reposição.

“Como a empresa quer que o trabalhador aceite isso depois de levar um tapa na cara e não ter recebido nenhum pedido de desculpa?”, indaga o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari, Júlio Bonfim.

Operários penduram uniformes nas grades da Ford com nomes da família. Foto: Roosevelt Cassio/Reuters

No interior de São Paulo a orientação do Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté também é para que ninguém atenda à convocação até que negociações sejam concluídas.

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Procurada, a Ford apenas confirma que “estão acontecendo reuniões com os sindicatos de Taubaté e Camaçari e no momento não tem nada adicional para anunciar”.

No dia 12, a multinacional americana anunciou o encerramento das atividades de produção no País e fechou imediatamente as fábricas de carros e de motores. A unidade da Troller, fabricante de jipes em Horizonte (CE), vai funcionar até o fim do ano e depois encerra definitivamente as atividades. No fim de 2019, o grupo já tinha fechado a fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC paulista.

A decisão vai resultar no corte de 5 mil funcionários diretos, de um total de 6,1 mil. A empresa vai manter operações do centro de desenvolvimento, do campo de provas e de um escritório administrativo para tocar a atividade de importação de modelos da marca.

Efeito cascata

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Ontem, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) divulgou estudo que projeta perda de até 118,8 mil postos de trabalho no País, levando em conta o impacto dos empregos diretos, da cadeia de fornecedores de peças e das vagas induzidas (como serviços e comércio).

Pelos cálculos, haverá perda de R$ 2,5 bilhões na renda dos trabalhadores ligados à Ford, dado obtido por meio de levantamento com base na matriz de insumo-produto, índice do IBGE que é uma espécie de “fotografia” dos fluxos da economia nacional, informa o Dieese.

A pesquisa mostra ainda que a arrecadação de tributos terá queda estimada de R$ 3 bilhões. O Dieese calcula que, a cada R$ 1 gasto na indústria automobilística, é acrescentado R$ 1,4 no valor adicionado da economia. 

Varal

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Desde o anúncio do fechamento, trabalhadores de Taubaté mantêm vigília por 24 horas em frente aos portões da Ford. A unidade tem 830 funcionários, segundo o sindicato, e 739, segundo a montadora.

Ontem eles fizeram protesto nos portões da empresa e penduram nas grades seus uniformes de trabalho com nomes dos familiares para tentar sensibilizar a empresa sobre o número de pessoas que serão afetadas.

Hoje, dirigentes dos dois sindicatos terão reunião virtual com o Ministério Público do Trabalho. Amanhã, sindicalistas de Taubaté participarão de audiência pública com deputados da Assembleia Legislativa de São Paulo e na quinta-feira serão realizados protestos em frente a várias concessionárias da Ford em todo o País, organizados por centrais sindicais.

Na sexta-feira, haverá nova assembleia com os trabalhadores e deve ser definida uma carreata de Taubaté até o Santuário de Aparecida. Já Bonfim participa hoje, com o governador da Bahia, Rui Costa (PT), de visitas às Embaixadas da China, Índia, Japão e Coreia do Sul em Brasília para discutir possibilidades de investimentos nas instalações da Ford. Na quinta-feira haverá assembleia com trabalhadores e um ato ecumênico.

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