Falta de rapidez em regulação segura transição energética no Brasil, dizem executivos

Para participantes do Fórum Estadão Think sobre neoindustrialização e sustentabilidade, estímulos mais rápidos na área são essenciais para o País não perder o bonde da história

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Por Eduardo Geraque
Atualização:

Apesar de o potencial brasileiro de liderar o setor de hidrogênio ser até mil vezes maior que o do Chile, o país transandino está na frente do Brasil na questão. O exemplo citado por Rogério Zampronha, CEO da Prumo Logística, deu o tom da conversa nesta sexta-feira, 20, no primeiro painel do Fórum Estadão Think: “Neoindustrialização apoiada pela transição energética — Como unir a política industrial e a política de sustentabilidade”, realizado em São Paulo.

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“Eles (chilenos) foram muito mais ágeis do que nós em termos de regulamentação. O Brasil tem uma sorte muito grande de ter recursos naturais abundantes. Temos uma conjunção de fatores que nos dá uma vantagem competitiva muito grande, como a questão da produção da biomassa, mas o que vem faltando é uma maior velocidade de regulação”, afirma Zampronha.

Sua análise vai na mesma linha da de Gilberto Peralta, presidente da Airbus Brasil. “O lado que me preocupa é o da velocidade, por exemplo, das regulamentações, apesar de avanços razoáveis que tivemos recentemente como a aprovação da Lei do Combustível do Futuro”, diz o executivo. O conjunto de regras que prevê a criação de programas nacionais de SAF, além de diesel verde e biometano, ainda depende de sanção presidencial.

Gilberto Peralta, Renata Isfer e Rogério Zampronha participam do Fórum Estadão Think, em São Paulo Foto: Felipe Rau/Estadão

Dentro do setor da aviação, a produção do combustível sustentável, o SAF, é a bola da vez. “Esse é o lado que me deixa otimista. Temos todas as condições para desenvolver as questões técnicas com muita facilidade, por causa, por exemplo, de instituições como a Embrapa. O potencial brasileiro nesse campo é o maior do mundo. Temos todas as condições de sermos a Arábia Saudita do SAF”, afirma Peralta.

Em 2027, de acordo com estimativas do Centro de Política Energética da Columbia University, o SAF vai responder por 2% do consumo do mercado aéreo global. Algo aquém do ideal, em termos de desfossilização da economia, segundo os próprios cientistas da instituição americana. Para ajudar no enfrentamento das mudanças climáticas, seria preciso que o uso do SAF alcançasse 10% em 2030. Marca, atualmente, considerada difícil de ser batida.

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A velocidade em azeitar tanto as questões regulatórias quanto de infraestrutura, segundo Peralta, terá outro ganho essencial para o Brasil: o desenvolvimento de toda uma cadeia produtiva. “O Brasil exporta álcool para produzir SAF nos EUA. Exporta soja em grão para produzir SAF na China. Sebo de boi para fazer também o SAF nos Estados Unidos. É preciso tudo ser feito aqui porque, inclusive, vai gerar emprego e industrialização. O Brasil é o único país que atinge todas as rotas de produção do SAF e, por isso, pode tornar-se o maior produtor do mundo”, afirma o presidente da Airbus Brasil.

Pelas contas do executivo, o Brasil, hoje, consome por volta de 7 bilhões de litros de querosene para aviação por ano, contra uma capacidade de produção ao redor de 50 bilhões a 60 bilhões de litros de SAF. Enquanto a demanda mundial deverá girar em 400 bilhões na próxima década. “Há muito espaço para a exportação”, diz Peralta.

O SAF tem potencial de redução de 20% a 95% das emissões de gases do efeito estufa (GEE) em comparação com o combustível de aviação de petróleo, segundo relatório de 2022, apresentado pelo Projeto Combustíveis Alternativos sem Impactos Climáticos (ProQR) — cooperação técnica entre o governo brasileiro e alemão. A redução na emissão de poluentes depende da matéria-prima e das tecnologias utilizadas.

Em 2027 e 2028, as empresas aéreas deverão diminuir a emissão de gases do efeito estufa em, no mínimo, 1% em cada ano. A partir de 2029, a meta de redução aumenta um ponto porcentual anualmente até 2037 — quando deverá atingir pelo menos 10%.

Escala para combater as mudanças climáticas

Além do SAF, em outras áreas, como a do hidrogênio, biogás, biometano e captura de carbono, a questão da regularização também precisa de celeridade, afirma Renata Isner, presidente executiva da Abiogás. “Com isso, além de investimento em infraestrutura, teremos condições de ganhar escala suficiente para combater as mudanças climáticas”, afirma a executiva.

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Abiogás, que congrega mais de 150 empresas integrantes da cadeia de valor do biogás e do biometano, tem como principal objetivo trabalhar em prol da inserção, consolidação e sustentabilidade desses recursos estratégicos na matriz energética brasileira e no melhor aproveitamento do potencial de biogás e biometano existente no País, segundo Isner.

Segundo números da instituição, o Brasil deixa de aproveitar, por ano, aproximadamente 47 bilhões de metros cúbicos de biogás. Se traduzidos em equivalência energética, esse montante poderia suprir cerca de 34% da demanda de energia elétrica do país.

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