A Europa e os Estados Unidos já têm políticas industriais sólidas voltadas para a descarbonização. No caso dos europeus, o Green Deal da Comissão Europeia, aprovado em 2019, é uma realidade que adequa para as próximas décadas as políticas do bloco em assuntos como clima, energia e transportes. Ele indica ainda como fiscalizar a redução das emissões líquidas de gases com efeito estufa em pelo menos 55% até 2030. Do lado dos americanos, a Lei da Redução da Inflação (IRA, na sigla em inglês) de 2022, apesar do nome, também foca na questão.
Mas e o Brasil?
A sensação de lentidão e de que há muito a ser feito é quase uma unanimidade, como ficou evidente nas discussões sobre o tema durante o Fórum Estadão Think: “Neoindustrialização apoiada pela transição energética — Como unir a política industrial e a política de sustentabilidade”. O evento foi realizado na sede da Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp) nesta sexta-feira, 20.
Segundo o advogado Rodrigo Pupo, um dos papéis que o Brasil precisa assumir com mais protagonismo é o de estar presente em fóruns internacionais, onde os debates atuais estão sendo travados.
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“Há várias metodologias que estão sendo criadas. E, por isso, é preciso acompanhar para os interesses nacionais não ficarem de fora”, explica o especialista em direito internacional. Neste caso, os representantes do governo brasileiro podem até ser auxiliados pelo setor privado. “Tudo para nós não ficarmos para trás”, diz Pupo.
No âmbito interno, a celeridade também é importante, avalia Fabricio Silveira, superintendente de Política Industrial da CNI. “Existe uma grande oportunidade de olharmos para a transição energética como uma grande janela de desenvolvimento para o Brasil. A questão é que a janela tende a ser curtíssima”, afirma.
Para o representante da CNI, o Brasil poderia, em linhas gerais, se inspirar nos processos desenvolvidos nos Tigres Asiáticos, onde, em décadas, a indústria de países como a Coreia do Sul e Cingapura desenvolveram setores de alta complexidade tecnológica, que entregam produtos de valor agregado, apesar de um número menor de geração de empregos.
“Aqui, no Brasil, não temos dinheiro para uma política industrial mais sistêmica, como nos Estados Unidos. Por isso, é preciso ser bastante preciso nos setores que vamos decidir aportar esses recursos”, explica Silveira.
Em tempos onde a Comunidade Europeia se consolida como um bloco voltado para um viés mais normativo, e os Estados Unidos ainda brigam por uma espécie de hegemonia com a China, algo que tende a não ser uma realidade absoluta, a transição energética flui no meio dessas correntes geopolíticas.
“Tanto os europeus quanto os americanos desenvolveram formas de tentar contrapor o subsídios dos chineses em algumas áreas, como nos carros elétricos”, lembra Pupo, para exemplificar como a nova ordem social estará sempre presente, também, no debate pela descarbonização do planeta.
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