Carnes: mais um grupo varejista francês anuncia boicote ao produto da América do Sul

Grupo Les Mousquetaires vai seguir iniciativa do rival Carrefour; entidades brasileiras reagem e ameaçam não fornecer carne ao Carrefour também aqui no País

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Foto do author Isadora Duarte
Por Ana Ritti (Broadcast) e Isadora Duarte (Broadcast)
Atualização:

O CEO do grupo varejista francês Les Mousquetaires, Thierry Cotillard, endossou o boicote às carnes oriundas da América do Sul em suas redes de supermercados Intermarché e Netto. Em publicação nas redes sociais, ele afirmou que as varejistas do grupo se comprometem a não comercializar o produto sul-americano, seguindo a iniciativa do seu concorrente Carrefour.

Cotillard disse que a medida visa à soberania alimentar e ao apoio aos agricultores franceses. Ele ainda pediu uma mobilização coletiva. “Faço um apelo às indústrias para que demonstrem o mesmo nível de comprometimento e transparência quanto à origem da matéria-prima utilizada”, escreveu. De acordo com ele, o boicote deve ser aplicado também aos produtos que são utilizados para fabricação de itens de marca própria do grupo.

Carlos Fávaro vem reagindo com veemência ao movimento das varejistas francesas Foto: Lula Marques/Agência Brasil

Nas últimas semanas, agricultores franceses ampliaram as manifestações contra o acordo comercial entre União Europeia e Mercosul. Eles argumentam que a medida ameaça seus meios de subsistência, ao permitir um aumento das importações agrícolas sul-americanas produzidas sob padrões ambientais menos rigorosos. Os blocos econômicos chegaram a um acordo inicial em 2019, mas as negociações tropeçaram por conta da oposição dos agricultores e de alguns governos europeus, como a França.

Reação brasileira

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O ministro da Agricultura brasileiro, Carlos Fávaro, vem reagindo com veemência ao movimento francês. Ele endossou o posicionamento de entidades do setor produtivo e da indústria brasileira de carnes, que sugeriram o não fornecimento de carnes ao Carrefour também no Brasil, após a suspensão da compra de proteínas do Mercosul pelas unidades francesas do grupo.

“Me surpreende a presidência local aqui no Brasil dizendo “não, nós vamos continuar comprando porque nós sabemos que tem boa procedência. Quem não quer comprar é a matriz lá, a França”. Ora, se não serve ao francês, não vai servir aos brasileiros. Então, que não se forneça carne nem para o mercado desta marca aqui no Brasil”, disse Fávaro a jornalistas na noite desta quinta-feira, 21, em evento de comemoração de dez anos da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas).

Na última quarta-feira, 20, o CEO mundial do Carrefour, Alexandre Bompard, afirmou, em comunicado nas suas redes sociais, que a varejista se compromete a não vender carnes do Mercosul, independentemente dos “preços e quantidades de carne” que esses países possam oferecer. Na quinta-feira, o Carrefour França afirmou que o veto à venda de carnes do Mercosul é válido apenas para as unidades da rede varejista no país, enquanto o Grupo Carrefour Brasil afirmou que “nada muda nas operações no País.”

Favaro afirmou que não se trata de um boicote ao grupo, mas que o Brasil tem de ter soberania. “Já vi o movimento por parte dos próprios produtores de carne, com o qual me solidarizo, que é um absurdo a empresa dizer que quem não quer comprar é a matriz, é a França. Aqui a carne dos brasileiros serve para o Carrefour. Não, não é assim não”, criticou Favaro.

“Tenham respeito pela nossa construção. Achei uma atitude louvável da indústria brasileira de falar: então, não vou fornecer também (à marca no Brasil). Uma atitude que mostra a soberania e o respeito à legislação brasileira tem o meu apoio”, acrescentou Favaro.

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Nesta quinta-feira, seis entidades do agronegócio se manifestaram repudiando a decisão do Carrefour, afirmando que se o grupo “entende que o Mercosul não é fornecedor à altura do mercado francês - que não é diferente do espanhol, belga, árabe, turco, italiano -, as entidades assinadas consideram que, se não serve para abastecer o Carrefour no mercado francês, não serve para abastecer o Carrefour em nenhum outro país”.

O ministro disse, ainda, que “custa acreditar que está ocorrendo uma ação orquestrada por parte das empresas francesas”, mas que também não acredita em coincidências, citando um caso semelhante envolvendo o fornecimento de soja à francesa Danone no fim de outubro. “Agora, o Carrefour, uma ação como essa. O Brasil não se nega a discutir sustentabilidade com ninguém, em nenhum lugar do mundo. Um governo e um País que têm compromisso com respeito ao meio ambiente, com a rastreabilidade, com a boa sanidade, com todos princípios ESG mas de forma alguma, será atacada a nossa soberania. Isso é irretocável”, defendeu Fávaro, citando as legislações rigorosas adotadas no País.

Por fim, o ministro disse crer que as empresas francesas “vão repensar o que estão falando da produção brasileira”.

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