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Kaique Albuquerque. Foto: Kaique Albuquerque/Arquivo Pessoal
Foto: Kaique Albuquerque/Arquivo Pessoal

Franquias que funcionam ‘sozinhas’ atraem investimentos da geração Z

Necessitar de poucos funcionários (ou mesmo nenhum) é um diferencial para os jovens empreendedores; especialista alerta que é importante ter afinidade com o segmento escolhido

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Por 34º Curso Estadão de Jornalismo
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Depois da experiência como vendedor em uma loja de acessórios de celulares, Kaique de Carvalho Albuquerque, de 26 anos, decidiu começar o seu próprio negócio. O mesmo ímpeto levou ao empreendedorismo o ex-militar Ramyres Santos, de 24, e os amigos capixabas Eudes Filho, de 23, Guilherme Ferreira, de 24, e Matheus Novaes, de 25. Em comum, a opção pelas franquias.

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Albuquerque escolheu ser franqueado da Magnólia, uma rede de papelaria, Santos entrou na rede Casa de Bolos, enquanto Filho, Ferreira e Novaes investiram na Minha Quitandinha, uma rede de minimercados autônomos. O tipo de franquia escolhido por eles têm características que atraem a geração Z - funcionam sozinhas ou exigem poucos funcionários -, como aponta o especialista em franquias e consultor da 300 Franchising Exponencial, Lucien Newton.

Newton destaca os negócios autônomos, principalmente lavanderias e mercados. Nesses modelos, não é necessário fazer contratações. Os clientes usam o autosserviço e a gestão, em alguns casos, pode ser feita a distância.

“Uma das principais características que eles valorizam é a baixa necessidade de colaboradores, com no máximo três funcionários. Isso facilita a complexidade operacional do negócio”, comenta. O consultor explica que os mais jovens também costumam buscar empresas na área de vendas, como o comércio de carros ou implementação de energia solar.

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Ramyres Andrade Santos, franqueado da Casa de Bolos, teve a ideia de entrar no segmento quando estava no Exército Foto: Ramyres Andrade Santos/Arquivo Pessoal

“A maior parte dos jovens que nos procuram para adquirir uma franquia já estava inserida no mercado de trabalho. Não eram autônomos, mas, sim, funcionários de empresas”, conta Newton. “É uma geração inquieta e que procura mudanças no ambiente corporativo, especialmente por dificuldades para lidar com a liderança tradicional. Por isso, buscam o empreendedorismo como alternativa.”

Analista de Acesso a Mercados do Sebrae, Karen Sitta avalia que a busca por oportunidades e a vontade de garantir independência financeira também têm levado jovens a investir em franquias, já que esse é um modelo que oferece segurança e suporte para quem está começando. No entanto, o perfil da Geração Z exige mais do que estabilidade financeira, alerta Karen.

“Temos observado que a geração Z vai em busca de valores próprios, como a questão da sustentabilidade e da responsabilidade social. Eles são mais independentes nas escolhas, na questão da inovação, entre outros valores que cada um deles traz por si só”, explica a analista do Sebrae. Ela afirma que os mais jovens representam cerca de 65% dos que empreendem por oportunidade, enquanto apenas 33% o fazem por necessidade.

Apesar dos pontos positivos, como retorno rápido e menor risco de perdas, Karen alerta que o investimento em franquias não pode ser feito de qualquer forma. É preciso entender, por exemplo, se o jovem tem afinidade com aquele modelo de negócio, além de conhecer o mercado e, principalmente, a marca na qual se pretende investir. Ela ainda ressalta que o franchising é um modelo de negócio bem definido e não permite muitas alterações.

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Empréstimo de R$ 100 mil se transformou em três franquias

Depois de ocupar os cargos de atendente, gerente e supervisor de lojas, Albuquerque decidiu que era a hora de se arriscar e promover o sucesso do seu próprio negócio. Em meio a um cenário de incertezas causado pela pandemia de covid-19, em 2022, o morador do bairro Americanópolis, na periferia da zona sul de São Paulo, escolheu ser franqueado da Magnólia.

“Sempre quis ter o meu próprio negócio. Depois de anos trabalhando em loja, pensei: ‘Cuido tão bem do estabelecimento dos outros, por que não ter o meu?’”, refletiu o jovem.

Sem recursos para iniciar um negócio do zero, ele viu nas franquias não só uma oportunidade de empreender, mas também de obter resultados mais rápido. “Sou muito executor, mas não tão criativo. Então, em vez de criar uma marca, escolhi uma franquia que caberia no meu orçamento. E foi um tiro certo, pois em pouco tempo consegui expandir. Se tivesse começado do zero, talvez ainda estivesse me consolidando”, afirma.

Kaique Albuquerque está à frente de três unidades da Magnólia e conta com três funcionários em cada ponto Foto: Kaique Albuquerque/Arquivo Pessoal

Albuquerque conta que era muito difícil economizar o dinheiro que recebia trabalhando nas lojas de acessórios para celulares, já que todo o seu salário era destinado ao pagamento de contas essenciais. Após decidir se tornar franqueado, ele fez um empréstimo bancário de R$ 100 mil e deu início à jornada empreendedora.

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O primeiro quiosque da Magnólia sob a administração do jovem foi no Shopping SP Market, em Jurubatuba. Apesar de ter anos de experiência no segmento de vendas, o empreendedor conta que tinha dificuldades para entender qual era o seu público-alvo e gerir seus funcionários.

Depois de ser deslocado para um ponto mais estratégico no shopping, o empresário viu seu negócio crescer 40% entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023, no período de volta às aulas. O boom de vendas fez com que ele recuperasse o capital inicial investido e, cinco meses depois, decidisse comprar mais um quiosque da franquia.

Hoje, Albuquerque está à frente de três unidades da Magnólia e conta com três funcionários em cada ponto. O faturamento das lojas é de R$ 30 mil a R$ 40 mil por mês. Com o sucesso das franquias, o empresário sonha em abrir mais duas lojas antes de completar 30 anos.

De militar aos doces

O sergipano Ramyres Santos também decidiu apostar em sua independência financeira e se tornou franqueado da Casa de Bolos em Lagarto, cidade a 75 km de Aracaju. A ideia de entrar no segmento surgiu quando ele ainda integrava o Exército, que serviu desde os 18 anos. No começo, ele guardava parte do salário para investir em algo no futuro. “No primeiro ano, eu ganhava R$ 1.000. Era antes da pandemia, então as coisas estavam mais baratas e eu conseguia viver com R$ 500″, comenta.

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Naquela época, o empreendedorismo já estava presente em sua vida, mas de outra forma. Ele vendia perfumes online, até que o seu sócio experimentou um bolo e percebeu que era diferente dos produtos disponíveis na região. Depois de uma breve pesquisa, a dupla descobriu que o item era de uma franquia. Em um primeiro momento, a matriz afirmou que não tinha interesse na cidade onde os dois pretendiam montar o negócio.

Depois do ‘sim’, a principal aliada de Santos foi a tecnologia, inclusive no processo de abertura da loja. Ele acompanhava perfis focados no mundo dos negócios e colocava em prática as dicas que ouvia. “Cada um tem algo a adicionar para te ajudar a criar um raciocínio de acordo com a sua realidade. Independente de ser novo, se a gente buscar, é possível encontrar e adaptar as oportunidades para a nossa vida.”

O sergipano não limita sua participação na administração da empresa. Ele conta que faz entregas, auxilia na cozinha e procura por novas estratégias de marketing ou comunicação visual que possam aumentar a produtividade. “Eu quero crescer e ter mais lojas. Todos os dias, sou o primeiro a chegar e o último a sair. Sempre penso que prefiro me matar de trabalhar enquanto estou novo do que quando estiver velho’”, afirma.

Quanto custa investir em uma franquia?

Os custos para se tornar um franqueado variam de marca para marca, mas as microfranquias têm investimento inicial de R$ 900 até R$ 135 mil, de acordo com a ABF. Alguns jovens decidem começar a empreender nesse segmento quando ainda estão na faculdade, como é o caso de Eudes Filho, Guilherme Ferreira e Matheus Novaes.

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Matheus Novaes, Guilherme Henrique e Eudes Alves, investiram, inicialmente, R$ 42 mil para começar o próprio negócio Foto: Reprodução

Ferreira cursava Engenharia Mecânica na Faculdade do Centro Leste (UCL) e Filho estudava Engenharia de Produção na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Novaes já estava no mercado de trabalho e atuava como operador de sala de controle quando o trio decidiu investir no Minha Quitandinha, uma rede de minimercados autônomos, em Serra, município a 25 km de Vitória.

Com investimento inicial de R$ 42 mil, a decisão de empreender antes de terminar a faculdade foi vista como uma chance de começar a ganhar dinheiro pelo grupo. “Desde que nos conhecemos, tínhamos esse pensamento e conseguimos encontrar uma loja com a qual pudéssemos adequar nossos horários. Por que investir mais tarde se poderíamos começar logo?”

O início, porém, não foi fácil. O medo de abrir a primeira unidade foi um dos fatores que o grupo destacou antes de começar. Eles tiveram de trocar o condomínio onde instalaram a loja por dificuldades com o container de armazenamento dos produtos. O negócio precisou de apoio da franqueadora para começar a fluir. “No início, foi um baque, mas deu tudo certo. Hoje a gente não gasta, mas reinveste o lucro no próprio empreendimento”, conta Ferreira.

Relação entre franqueados e franquia

O suporte da franqueadora é um fator importante na hora de escolher em qual segmento seguir. Para Kaique de Carvalho Albuquerque, o apoio da matriz de seu empreendimento foi um diferencial durante o processo de decisão. “Como estava no início dessa nova carreira, a Magnólia foi a empresa que passou mais confiança e estabilidade.”

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Já os amigos empreendedores do Espírito Santo, que demonstram desejo de abrir mais unidades do negócio que investem, passaram a ser responsáveis pelo conjunto de franqueados da rede de mercadinhos em seu Estado e em Minas Gerais, auxiliando na comunicação entre eles e a matriz.

“Sabemos que muitas das vezes não conseguimos transmitir um problema de forma clara para a matriz e ela acaba não conseguindo resolver de forma efetiva. Então, tentamos facilitar ao máximo essa comunicação dos franqueados e nossa também, caso a gente encontre alguma dificuldade ou algum problema, levar mais facilmente para a matriz conseguir solucionar da melhor forma”, conta Novaes.

Como começar o próprio negócio

Os primeiros passos para o negócio próprio, segundo Newton, são pesquisar e escolher um modelo de negócio que se encaixe no seu perfil e no seu orçamento. “A média de investimento inicial é de R$ 25 mil. É uma opção atraente para quem está começando, pois exigem menor investimento e oferecem menor complexidade operacional.”

De acordo com Karen, por ser um formato prático e que escala de forma rápida, a escolha pelas franquias pode ser um investimento inicial no empreendedorismo, visando um modelo de negócio próprio no futuro.

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É o que pensam Ferreira e Novaes. Enquanto o último já conseguiu abrir um pet shop a partir da experiência com o Minha Quitandinha, o primeiro também traça planos para o futuro e ressalta a importância da franquia nesse processo: “Eu gosto muito de malhar, talvez eu tenha um sonho de abrir uma academia. A gente tem a intenção de dar aquele outro pontapé fora do que vivemos aqui. Nossa mente está muito mais aberta do que dois anos atrás para dar o próximo passo.”

Com reportagem de: Adriana Victorino, Gabriel Lopes, Geovanna Hora, Guilherme Nannini, Julia Brito, Laryssa Campos, Letícia Quadros, Luccas Lucena, Vincenzo Calcopietro e Wesley Bião

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