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Futuro governo Lula vai encontrar ‘bomba fiscal’ que pode chegar a R$ 280,3 bilhões em 2023

País vai encarar um cenário de perda de receita e aumento de gastos; há pressões para Auxílio Brasil no valor de R$ 600, reajuste da tabela de IR e aumento para servidores

Foto do author Luiz Guilherme  Gerbelli
Atualização:

Passada a disputa eleitoral, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), eleito neste domingo, 30, começa a encarar a dificuldade para organizar as contas públicas em 2023. O País terá de colocar de pé propostas econômicas audaciosas, como a manutenção do Auxílio Brasil em R$ 600 e promover a correção da tabela do Imposto de Renda, além de enfrentar um debate sobre reajustes de servidores do Executivo.

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A bomba fiscal pode somar R$ 280,3 bilhões, de acordo com um mapeamento realizado pela consultoria Tendências. E o desafio é grande, dado que o cenário para 2023 é de bastante incerteza. As medidas em discussão e que se desenharam ao longo da eleição presidencial deste ano não cabem no teto de gastos, a regra que limita o crescimento das despesas à inflação do ano anterior, e, portanto, vão forçar ainda mais o novo governo definir qual será a sua política para as contas públicas do País.

Será difícil fazer a conta fechar porque o Orçamento enviado pela equipe econômica para o Congresso no fim de agosto se tornou irrealista. O valor do Auxílio Brasil foi definido em R$ 405, por exemplo.

”É um cenário muito desafiador. Vai exigir muita vontade política e capacidade de resolver tudo isso de forma organizada e clara”, diz Juliana Damasceno, economista da consultoria Tendências e responsável pelo levantamento.

Em alguns casos, os números apurados pelo estudo podem até ser considerados conservadores. O custo anual da manutenção do Auxílio Brasil no valor de R$ 600 é estimado em R$ 52 bilhões, mas essa cifra pode crescer a depender de qual será o desenho do programa no próximo governo.

Além do pagamento do Auxílio Brasil e do aumento linear dos salários dos servidores, haverá pressões com uma conta bilionária de precatórios a ser paga e com o aumento das despesas discricionárias do governo para o mesmo patamar deste ano – o mínimo necessário, segundo a Tendências, para evitar paralisações na máquina pública.

”Por mais que o teto de gastos possa ter inúmeros problemas, eu acharia muito difícil a gente não ter um reajuste de servidor num ano eleitoral”, afirma Juliana. “O teto acabou funcionando como uma camisa de força.”

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No campo da receita, uma importante fonte de queda de arrecadação pode se dar com a correção da tabela do Imposto de Renda para pessoa física.

Se o reajuste for feito com base na inflação acumulada ao longo do governo Jair Bolsonaro, a faixa de isenção subiria dos atuais R$ 1,9 mil para R$ 2.467,25, o que implicaria em uma perda de R$ 31,3 bilhões para o governo federal.

A futura administração também pode ter desfalques bilionários com a manutenção do corte do Imposto sobre Produto Industrializados (IPI), prorrogação da desoneração de tributos federais sobre combustíveis e desonerações de diferentes setores.

Proposta enviada pelo governo ao Congresso prevê Auxílio Brasil de R$ 405 Foto: MARINA RAMOS / undefined


”Não tem fundamento renovar a desoneração de combustíveis, num cenário em que o governo prevê que os grandes dois vetores, o preço do barril Brent e o câmbio, estarão comportados”, afirma Juliana. “Eu até acredito que, de alguma forma, essa medida possa cair. Estamos falando de algo da ordem de R$ 53 bilhões. Não é pouca coisa. Quanto mais a gente abre mão de receita em algum setor, mais deveríamos cobrar de outros, porque ainda estamos num cenário de déficit. A conta não fecha.

Cenário nebuloso

Os riscos fiscais para 2023 vão deixar o quadro das contas públicas ainda mais nebuloso. O rumo das finanças públicas se transformou no principal nó da economia brasileira. Neste ano, os analistas até projetam um superávit para o governo central – será o primeiro desde 2013 –, mas eles dizem que essa melhora é pontual.

Em 2022, a arrecadação do governo tem sido beneficiada pelo crescimento econômico acima do esperado – as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano já se aproximam de 3% –, inflação elevada e alta dos preços das commodities, como petróleo e minério de ferro.

”O cenário de uma desaceleração da atividade econômica no ano que vem, caso se materialize, será mais um novo risco e não está contemplado no levantamento”, afirma Juliana.

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Para o próximo ano, as previsões para o crescimento da economia estão próximas de 0,5%, a inflação tende a ceder, e a expectativa de uma recessão global deve contribuir para um preço mais baixo de produtos básicos.

”Com a manutenção do Auxílio Brasil em R$ 600, projetamos um déficit de 1% e a dívida subindo para 82%, um patamar considerado elevado para os padrões de um país emergente”, afirma Daniel Couri, diretor executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI), órgão ligado ao Senado. “Será um grande desafio para o próximo governo manter a dívida num patamar sustentável”, diz.

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