BRASÍLIA - O futuro ministro de Minas e Energia, almirante Bento Costa Lima de Albuquerque Júnior, disse ao Estado que a conclusão da usina nuclear Angra 3 “é uma das prioridades” da sua gestão. Segundo ele, seriam necessários pelo menos R$ 15 bilhões para concluí-la e isso não aconteceria antes de 2023. Angra 3 já consumiu ao menos R$ 8 bilhões dos cofres públicos. “Mas ela tem de ficar pronta, pela demanda reprimida que temos ou pela demanda reprimida que teremos, com a volta do crescimento do País.”
Para o almirante, mesmo com a retomada do crescimento econômico, não há risco de apagão em um primeiro momento. Mas como o plano é que o País atinja um crescimento continuado, ele vê necessidade de se investir em Angra 3. Reconhece, no entanto, que nem a União nem a Eletrobrás têm recursos suficientes para a conclusão da planta nuclear, que está paralisada e com menos de 60% de execução. O futuro ministro disse também não saber que modelo será desenhado para conclusão da usina. “Mas isso tem de ser definido na maior brevidade possível.”
Projeto do período militar, Angra 3 começou a ser erguida em 1984. Suas obras prosseguiram até 1986, mas depois ficariam paralisadas por 25 anos, até serem retomadas em 2009 pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O empreendimento travaria novamente em 2015, por causa de denúncias da Lava Jato. Hoje, o Brasil possui apenas duas usinas nucleares, Angra 1 e 2, que respondem por apenas 1,3% da energia total que é produzida no País.
Angra 3 teria capacidade de 1.405 megawatts. A hidrelétrica de Teles Pires, por exemplo, tem potência de 1.820 megawatts e custou R$ 3,9 bilhões. Com o custo total de Angra 3, portanto, seria possível construir seis hidrelétricas de Teles Pires, com uma geração total de 10.920 megawatts.
Desistir de Angra 3 também teria um custo para os cofres públicos: seriam gastos R$ 12 bilhões para quitar empréstimos bilionários e desmontar a estrutura.
A retomada da usina já estava em estudo pelo governo de Michel Temer, que chegou a dobrar para R$ 480 por megawatt / hora a tarifa que será cobrada dos consumidores quando ela entrar em operação. Com uma tarifa mais alta, o governo pretendia atrair investidores para financiar a conclusão do projeto.
O plano de terminar Angra 3, no entanto, não tem apoio de parte do setor de energia. O presidente da Associação Brasileira de Grandes Consumidores, Edvaldo Alves de Santana, disse que a usina ficou muito cara. “A energia nuclear é uma solução técnica importante, pois substitui as usinas hidrelétricas com grandes reservatórios como uma alternativa de energia firme. Mas é inviável por esse preço.” Segundo ele, a análise da retomada da usina não deve ser feita apenas sob o ponto de vista técnico, mas também financeiro. “Repassar essa conta para o consumidor não me parece razoável.”
Para o presidente da consultoria PSR, Luiz Barroso, não há risco de faltar energia para abastecer o País nos próximos anos, como mostram análises do governo e do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). “Só faz sentido terminar Angra 3 considerando o risco de apagão se não houvesse tempo para investir em outras tecnologias mais competitivas. Mas Angra 3 só ficaria pronta em 2026, portanto, há tempo para isso”, disse.
Um estudo recente da PSR mostra que a energia gerada por Angra 3 poderia ser substituída por usinas solares e ainda assim o custo seria menor.
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