A energia eólica é a segunda maior fonte da matriz elétrica brasileira, com 12% de participação, de acordo com dados da ABEEólica (Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias).Nos últimos 11 anos foram investidos mais de US$ 42 bilhões em projetos do tipo no país, que já ocupa o sexto lugar no Ranking de Capacidade Instalada do GWEC, o Conselho Global de Energia Eólica.
Segundo a ABEEólica, o Brasil possui 22 GW (gigawatts) de capacidade instalada, com 812 parques eólicos em 12 estados e mais de 9.200 turbinas eólicas em operação, o suficiente para abastecer cerca de 36 milhões de residências. Em 2021, foram instalados 110 novos parques eólicos, num total de 3,83 GW de nova capacidade de geração de energia no país.
Mas a adição de tantos projetos têm um impacto no SIN (Sistema Integrado Nacional) e especialistas apontam que é necessário operar o sistema de forma sustentável para evitar instabilidades. O maior problema é que as usinas eólicas produzem somente quando há vento suficiente e, portanto, são mais difíceis de controlar do que as outras fontes de energia utilizadas no SIN.
“A eletricidade não é necessariamente produzida quando há a maior demanda, o que pode resultar em problemas de estabilidade do SIN e necessitar o desligamento de algumas turbinas. Isso tem um impacto direto na profitabilidade da planta eólica e pode colocar em risco o modelo de negócio”, afirma Severin Hegelbach, Diretor Divisional de Energias Renováveis da Howden.
O especialista vê duas saídas para amenizar o problema: uma é o chamado sistema de armazenamento de energia na bateria (em inglês: Battery Energy Storage System - BESS) e a outra é o mercado de hidrogênio verde. “Em ambos os casos, existe a possibilidade de armazenar parte da eletricidade produzida nas plantas eólicas para liberação posterior no sistema, quando a demanda aumenta. Isso contribui para a estabilidade do SIN e aumenta a profitabilidade dos projetos”, afirma Hegelbach.
Segundo ele, existem muitos projetos híbridos eólicos e solares utilizando o BESS no exterior, além de vários projetos prototípicos que usam hidrogênio verde. “É uma tendência que veremos no Brasil também”, destaca o executivo.
Fábio Bombana Castellini da Silva, líder do segmento de energia e grid da Schneider Electric para América do Sul, afirma que é fundamental que haja uma criação de demanda para o escoamento da energia gerada sem causar impactos negativos no sistema. “O processo de descarbonização pelo qual grande parte da indústria já iniciou ou iniciará em breve, uma eletrificação massiva, incluindo investimentos em mobilidade, a questão do hidrogênio verde e o potencial de posicionar o Brasil como grande produtor e exportador deste insumo são pontos de altíssima relevância”, afirma.
As empresas geradoras de energia eólica também têm buscado alternativas para vender seu fornecimento no mercado livre, segundo Rui Altieri, presidente do Conselho de Administração da CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica). Prova disso é que, no último leilão realizado pela CCEE e a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), os empreendedores deixaram cerca de 60% da sua capacidade de produção disponível para comercializar em outros segmentos ou reservar para certames futuros.
“A abertura do ambiente livre para mais consumidores certamente trará diferentes oportunidades para essas usinas, assim como a indústria de hidrogênio pode abrir possibilidades muito interessantes para as empresas que investem em eólicas. A demanda por energia renovável desse setor, que será desenvolvido nos próximos anos, será enorme, e sem dúvidas o vento será um fornecedor natural dessa eletricidade”, analisa o executivo.
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