‘Existe ainda uma desconfiança sobre a execução do arcabouço fiscal’, diz Galípolo

Segundo diretor de política monetária do BC, desancoragem parcial das expectativas de inflação está mais relacionada com o funcionamento do arcabouço do que com o cumprimento de suas metas

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SÃO PAULO E BRASÍLIA - O diretor de política monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, disse nesta terça-feira, 26, que a desconfiança do mercado sobre a execução do arcabouço fiscal está impedindo que as expectativas de inflação convirjam para a meta de 3% dos próximos anos.

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Durante participação na conferência do J. Safra, ele pontuou que, na comparação com o início do ano, surpresas positivas relacionadas à condução da política fiscal melhoraram as perspectivas e derrubaram para 0,8% as expectativas dos economistas ao déficit primário do próximo ano como proporção ao Produto Interno Bruto (PIB).

Ele considerou, porém, que a desancoragem parcial das expectativas de inflação está mais relacionada com o funcionamento do arcabouço do que propriamente com o cumprimento de suas metas. O diretor contou já ter ouvido no mercado investidores que preferem um cenário de déficit maior, porém com menos impulso fiscal.

“Existe ainda uma desconfiança sobre a execução do arcabouço, isto está presente”, declarou o diretor do BC, que enfatizou no evento que as expectativas são essenciais na condução da política monetária.

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Gabriel Galípolo foi indicado pelo governo Lula a cargo no Banco Central Foto: FELIPE RAU / ESTADÃO

Em sua fala, ele destacou o comprometimento do BC em perseguir a meta de inflação. “Temos reancoragem parcial das expectativas, mas o BC vem a todo momento, no comunicado e na ata e também quando os diretores têm oportunidade de falar, enfatizando a persecução da meta de inflação e quão comprometido que está o Copom e o BC com a meta”, disse.

Questionado sobre como lida com pressões políticas para uma redução mais rápida dos juros, Galípolo disse que tenta não encarar dessa forma e avaliou que debates como esses são cada vez mais normais aqui e no mundo diante do aumento da informação. Galípolo foi indicado ao BC pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que continua criticando a atuação da autoridade monetária, especialmente de seu presidente, Roberto Campos Neto.

“Debates democráticos, republicanos e à luz do sol são saudáveis. E o BC tem trazido o máximo de transparência para esse tipo de comunicação”, disse, voltando a elogiar a comunicação do BC ao elencar os pontos de debate sobre a política monetária.

Vantagens comparativas

Para Galípolo, apesar do cenário internacional mais desafiador, o Brasil reúne vantagens comparativas que o colocam em posição favorável para atrair investimentos e ocupar posição de protagonista “na nova era da economia global”. “Reunimos uma série de características que trazem otimismo em relação à posição que o Brasil pode ter e desempenhar na economia”, declarou o diretor do BC.

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No evento, Galípolo citou a matriz energética limpa, que representa um menor custo de transição à economia de baixo carbono, ao falar do cenário promissor para o Brasil.

Ao iniciar a sua fala, disse ter aprendido que as declarações de diretores do BC devem ser, assim como a água, insípidas, inodoras e incolores para não gerarem distúrbios no mercado. “A função do diretor do BC é quase sempre fazer uma fala protocolar”, avisou.

A partir daí, Galípolo seguiu o roteiro da ata, divulgada nesta terça-feira, da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Sobre o cenário internacional, que, avaliou, tem maior peso no comportamento das variáveis econômicas, ele discorreu sobre a desaceleração chinesa, associando a perda de tração a mudanças conjunturais, em especial no mercado imobiliário, e estruturais, dada a inflexão do eixo de crescimento da economia do setor imobiliário e infraestrutura para o consumo das famílias e investimentos em tecnologia.

Já em relação à elevação das taxas de juros dos títulos mais longos nos Estados Unidos, Galípolo listou entre as possíveis explicações a reversão do afrouxamento quantitativo — ou seja, o enxugamento da liquidez na economia — e as vendas de reservas em dólares por países. “Não temos uma explicação definitiva sobre esse movimento”, disse.

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Os efeitos sobre os juros da economia global, no entanto, parecem estar, conforme o diretor, mais ligados à maior necessidade de financiamento dos Estados Unidos por questões fiscais e pelos juros mais altos. Isso leva a uma abertura das taxas, já que exige maior colocação de títulos no mercado.

Ao falar sobre o impacto desse cenário nos preços, Galípolo comentou que o Banco Central vê sinais mistos nas commodities, com o petróleo em alta em função da redução de oferta, e os preços de alimentos comportando-se bem.

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