Despesas com Saúde, Educação e BPC aceleram mais do que outros gastos sociais, diz estudo

No pacote de medidas do governo, outros gastos sociais, como seguro-desemprego e Bolsa Família, poderiam ficar em segundo plano, conforme pesquisa premiada pela Secretaria de Orçamento Federal nesta segunda-feira, 11

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Foto do author Giordanna Neves
Atualização:

BRASÍLIA - As despesas com Saúde, seguidas de Educação e Benefícios de Prestação Continuada (BPC), devem ter uma atenção especial do governo federal na agenda de revisão de gastos. Essas despesas são as que mais aceleram acima da inflação e do estoque da dívida, acompanhadas de gastos com pessoal e encargos e Previdência.

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Já outros gastos sociais, que incluem seguro-desemprego, abono salarial e Bolsa Família, apresentam menor tendência de aceleração acima da inflação e do estoque da dívida e, por isso, teriam “prioridade final” na agenda de ajuste de despesas.

A conclusão foi baseada nos resultados econométricos do estudo intitulado Revisão de gastos para repriorização de recursos, redução de iniquidades e prevenção aos shutdown e gridlock orçamentários. O trabalho foi premiado em 3º lugar nesta segunda-feira, 11, no 13º Prêmio SOF (Secretaria de Orçamento Federal) de 2024, do Ministério do Planejamento, e obtido pelo Estadão/Broadcast.

O artigo é assinado pelos professores André Maranhão, da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV) de São Paulo, e Sérgio Gadelha, do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP).

Despesas com Saúde estão entre as que mais dispararam acima da inflação e, conforme os autores de estudo, requerem maior atenção na elaboração do pacote de corte de gastos Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

O estudo, o qual pretende contribuir com o atual debate sobre revisão de gastos, pondera que é preciso identificar e atuar em despesas que possuem tendências em nível que se aceleram acima da inflação e do estoque da dívida. Dessa forma, no médio prazo, evita-se que se criem as condições que possam levar à uma possível paralisação da máquina pública (shutdown), acompanhada de um impasse no processo de votação de medidas legislativas no Congresso Nacional (gridlock).

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“De acordo com a metodologia adotada, assim como as hipóteses e as premissas consideradas, a pesquisa auxilia também a elencar hierarquicamente, por meio de um critério estatístico, quais gastos devem passar prioritariamente pelo ajuste de despesas”, explicou Gadelha na cerimônia. De acordo com ele, o entendimento das acelerações entre os principais gastos e o índice de inflação e o estoque de dívida são fatores relevantes e decisivos para o debate sobre revisão de gastos.

Segundo os pesquisadores, sugere-se que uma regra de revisão deve contemplar tanto a aceleração quanto a variação acumulada em 12 meses. “Essa regra contempla tanto efeitos que estão diretamente observados na tendência quanto o acumulado, permitindo identificar os gastos que representam um maior risco ao resultado orçamentário”, diz o estudo. Os dados usados abrangem o período de janeiro de 2008 a maio de 2024, relativos aos gastos das transferências e despesas primárias do governo central.

De acordo com a pesquisa, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e os principais gastos analisados apresentaram uma alta correlação positiva na maior parte do período analisado, o que indica que, quando a inflação sobe, as despesas também tendem a crescer. Já o nível de correlação com a dívida depende do tipo de gasto. Em períodos mais recentes, por exemplo, foi observada uma gradativa elevação da correlação dinâmica entre os gastos de BPC e de Saúde com o estoque da dívida.

“Em face dos resultados encontrados no presente estudo, torna-se relevante e urgente a apresentação de uma agenda de revisão de gastos obrigatórios, de modo que torne crível o cumprimento do Regime Fiscal Sustentável e ancore as expectativas dos agentes econômicos no ajuste fiscal e na trajetória da dívida pública”, conclui o estudo.

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