Uma empresa familiar do interior de São Paulo, especializada na fabricação de produtos veterinários, com faturamento de R$ 384 milhões, está se encaminhando para protagonizar a primeira oferta inicial de ações deste ano na bolsa brasileira. De acordo com o prospecto preliminar divulgado ontem, a Ourofino espera levantar até R$ 490 milhões com a operação, que terá a participação de um importante fundo estrangeiro de private equity, o General Atlantic. Sócio de empresas como Smiles, Decolar.com e BM&FBovespa, o General Atlantic se comprometeu a investir R$ 200 milhões na oferta da Ourofino. Com isso, aumentam as chances de a operação ser bem-sucedida. O acordo com o fundo americano utilizou como base o valor da empresa, estimado em R$ 1,3 bilhão. Assim como fez com a Smiles, em uma oferta considerada muito bem amarrada pelo mercado, a General Atlantic terá o papel de investidor âncora. Na Ourofino, logo após a oferta, se exercido o lote adicional e o suplementar, o fundo passará a deter uma fatia de 14,26% da companhia. Ele não poderá se desfazer das ações adquiridas por nove meses após a conclusão da oferta. O acordo firmado entre o fundo de private equity e os atuais controladores da Ourofino prevê a saída de três acionistas, incluindo seus sócios fundadores. Em até 90 dias contados a partir da oferta, os acionistas Dolivar Coraucci Neto, Fabio Lopes Júnior e Carlos Henrique se comprometeram a vender a totalidade de suas participações. Os três acionistas detêm, cada um, 1,99% do capital social da companhia. Já os sócios fundadores Jardel Massari e Norival Bonamichi, com 36,88% cada, passarão a ter uma fatia de 25,94% cada um.
O BNDESPar, braço de participações do BNDES, também venderá parte de suas ações no IPO, mas não fará o desinvestimento total do negócio. A fatia detida, hoje de 19,93%, passará para 10,93% após a conclusão do IPO, caso todos os lotes sejam exercidos.
Neste ano, a General Atlantic tem se mostrado bastante ativa no mercado brasileiro, tanto na ponta vendedora quanto na compradora: ela vendeu sua participação na Aceco TI para outro fundo de private equity, o KKR, por exemplo, e comprou uma fatia da companhia de educação Ari de Sá.
O arranjo feito para viabilizar a oferta da Ourofino é condizente com a atual situação do mercado, que é de seca para IPOs no Brasil. Neste ano, a única operação realizada no País foi a da Oi, uma oferta subsequente (follow-on). A emissão, de cerca de R$ 14 bilhões, fazia parte do processo de fusão da empresa com a Portugal Telecom. No ano passado, entre ofertas iniciais e subsequentes, o volume movimentado foi de R$ 23,4 bilhões.
Na fila.
A Tower For You (T4U), negócio de torres de telefonia de capital israelense, também planeja vir a mercado nesta janela de oportunidade, segundo fontes (leia mais abaixo). Já a JBS Foods, unidade de aves, suínos e produtos industrializados da JBS, que também pretendia realizar o IPO em outubro, decidiu postergar sua oferta. Profissionais do mercado dizem que a volatilidade do período eleitoral vinha afastando os emissores. "Mas apesar do cenário ruim o ramo de atuação da Ourofino vive um bom momento no país", diz uma fonte com conhecimento no assunto. "A ideia inicial era atrair fundos privados estrangeiros, mas o interesse foi tão grande que se optou pela abertura de capital."
O preço da ação está sendo sugerido na faixa de R$ 26 a R$ 27. A oferta, que contará ainda com esforços para colocação das ações no exterior, será primária e secundária e os papéis serão negociadas no Novo Mercado, segmento de maior governança corporativa da Bolsa.
De acordo com o cronograma, o período de reserva ocorrerá do dia 7 a 16 de outubro. Já o início de negociações das ações na BM&FBovespa está previsto para ser realizado no dia 21 de outubro.
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