Conexão da teoria com a prática, por estudantes da Pós-Graduação Profissional da FGV EAESP

Opinião | ESG e Regulação: A Revolução na Indústria de Investimentos

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Por Pós-graduandos - FGV - EAESP

A transformação rumo à sustentabilidade deixou de ser uma mera tendência para se tornar uma exigência essencial para o futuro das empresas e da sociedade. Em um cenário global de crescente preocupação com questões ambientais, sociais e de governança, os critérios ESG (Environmental, Social, and Governance) desempenham um papel central na criação de valor e na atração de capital. A aplicação de ferramentas de formulação estratégica, como a análise SWOT (Strengths, Weaknesses, Opportunities, Threats), pode ajudar as organizações a entender e integrar esses critérios, especialmente no contexto de novas regulamentações.

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No Brasil, a Resolução CVM 193, de 20 de outubro de 2023, que entrará em vigor em janeiro de 2026, exige maior transparência e responsabilidade das companhias de capital aberto em relação aos temas ESG. Essa nova regulação forçará as empresas a se adaptarem, aumentando a necessidade de preparação para enfrentar os desafios de conformidade e maximizar as oportunidades que surgem com a sustentabilidade.

A implementação dos critérios ESG vai além de uma resposta regulatória; trata-se de uma mudança de paradigma que pode fortalecer a imagem corporativa e aumentar a confiança dos investidores e consumidores. Empresas como Unilever, Patagônia e Natura são exemplos de como práticas sustentáveis podem trazer benefícios financeiros e reputacionais. A Unilever, com seu Plano de Vida Sustentável, não apenas reduziu custos operacionais, mas também conquistou maior lealdade dos clientes. A Patagônia, com seu compromisso ambiental, tornou-se uma referência global, atraindo clientes dispostos a pagar mais por produtos sustentáveis. No Brasil, a Natura também demonstrou como a integração de práticas sustentáveis em seu modelo de negócios pode gerar valor a longo prazo, recebendo a certificação B-Corporation em 2014 e consolidando sua posição no mercado global.

Contudo, a adoção de práticas traz desafios. A resistência cultural dentro das organizações, enraizada na maximização de resultados de curto prazo, é um dos principais obstáculos. Muitas empresas ainda veem a sustentabilidade como um custo, sem compreender os benefícios de longo prazo. A implementação de novas tecnologias e processos operacionais requer investimentos significativos, o que pode gerar receios, especialmente em períodos de incerteza econômica. Além disso, o fenômeno do greenwashing, no qual empresas fazem falsas alegações de sustentabilidade, pode minar a confiança do mercado e comprometer a credibilidade de toda a indústria.

Por outro lado, as oportunidades proporcionadas pela adoção de critérios ESG são vastas. Transparência e responsabilidade podem atrair investidores comprometidos com o impacto social e ambiental, criando novas fontes de capital. Tecnologias emergentes, como blockchain e inteligência artificial, oferecem soluções inovadoras para o rastreamento de emissões de carbono e a análise de dados ambientais, proporcionando insights valiosos que podem orientar decisões de investimento mais informadas.

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Diante disso, a educação e a capacitação de gestores sobre os riscos climáticos e as oportunidades relacionadas à sustentabilidade são essenciais para garantir que esses profissionais estejam preparados para tomar decisões que beneficiem tanto as empresas quanto a sociedade.

Por outro lado, as ameaças à adoção de práticas ESG também são significativas. A falta de padronização nas métricas de sustentabilidade dificulta a comparação entre empresas, criando um ambiente de incerteza. A volatilidade regulatória, com a possibilidade de mudanças abruptas nas políticas governamentais, pode comprometer as estratégias de longo prazo e desincentivar investimentos em sustentabilidade. Além disso, pressões econômicas globais, como recessões ou crises financeiras, podem desviar o foco das empresas de iniciativas ESG, prejudicando os avanços já alcançados.

Nesse contexto, empresas que ignorarem a urgência de incorporar critérios ESG em suas estratégias correm o risco de perder competitividade. A Resolução CVM 193, ao exigir maior transparência das empresas brasileiras, coloca pressão sobre aquelas que ainda não adotaram práticas genuínas de sustentabilidade. Para se prepararem, as empresas precisam ir além de uma resposta superficial às demandas regulatórias e se comprometerem com a sustentabilidade como um elemento central de sua cultura organizacional.

A transformação cultural dentro das empresas é fundamental para o sucesso a longo prazo. Sustentabilidade deve ser integrada no DNA corporativo, envolvendo todos os funcionários, desde a alta gestão até o nível operacional. A adoção de práticas ESG não pode ser vista apenas como uma obrigação regulatória, mas como uma oportunidade para estimular a inovação, criar diferenciais competitivos e gerar valor real para os acionistas.

A conhecida análise SWOT oferece uma estrutura valiosa para ajudar as empresas a identificar suas forças, fraquezas, oportunidades e ameaças dentro do contexto ESG. Com ela, as organizações podem mapear suas capacidades internas e externas, identificando áreas de melhoria e desenvolvendo estratégias que não apenas atendam às exigências regulatórias, mas também impulsionem o crescimento sustentável.

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Empresas como Unilever e Natura já demonstraram que é possível conciliar sustentabilidade e rentabilidade. Elas adotaram uma abordagem proativa, alinhando suas operações com os princípios ESG, e colheram os frutos dessa escolha. No entanto, para que essa transformação seja ampla e profunda, é necessária a colaboração entre empresas, investidores e reguladores. A adoção de práticas ESG exige uma abordagem integrada, na qual todos os atores envolvidos estejam comprometidos com a criação de valor sustentável.

Em um mundo cada vez mais consciente das implicações ambientais e sociais das atividades empresariais, a integração de critérios ESG é uma necessidade estratégica. As empresas que conseguirem alinhar suas operações com esses princípios estarão mais bem posicionadas para prosperar em um mercado cada vez mais exigente e competitivo, garantindo a criação de valor a longo prazo tanto para seus acionistas quanto para a sociedade como um todo.

Helena Rangel Margem - Pós-graduanda do Doutorado Profissional em Administração da FGV EAESP e executiva do mercado financeiro.

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