Conexão da teoria com a prática, por estudantes da Pós-Graduação Profissional da FGV EAESP

Opinião | O Conflito entre Gestão Profissional e Qualidade de Ensino nas Escolas Brasileiras

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Por Pós-graduandos - FGV - EAESP

O setor educacional brasileiro possui um potencial imenso, sendo um pilar fundamental para o desenvolvimento do país. Além de sua importância para a sociedade, esse setor está se tornando cada vez mais relevante para a economia e a geração de riqueza. Contudo, há uma preocupação crescente de que a adoção de práticas de gestão profissional nas escolas possa comprometer a qualidade do ensino em prol de ganhos financeiros. Essa perspectiva pode ser prejudicial, especialmente para as escolas privadas, que se veem pressionadas pela competitividade imposta com a chegada de grandes players que implementam estratégias robustas de mercado e de gestão.

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É essencial que os gestores profissionais compreendam o setor em que atuam e respeitem suas particularidades. Caso contrário, mesmo que consigam resultados financeiros positivos, não alcançarão uma performance educacional de excelência, ou seja, estarão comprometendo do core do negócio. O ensino privado representa 6,5% do PIB brasileiro e absorve cerca de 34% dos empregos formais, com aproximadamente dois terços desse total concentrados na Educação Básica. Esse segmento tem atraído a atenção de investidores, tanto nacionais como internacionais. Recentemente anúncios de aquisições e parcerias movimentaram o mercado, foi o caso do Colégio Móbile que anunciou sua entrada no grupo Nord Anglia, o qual passou a ser controlador da operação, da parceria entre a ARCO Educação, forte player no segmento de soluções educacionais para escolas, e o grupo Dom Bosco que anunciaram a chegada da escola Ways, ambos com sede em São Paulo.

Atualmente, há 47,3 milhões de alunos matriculados na educação básica no Brasil, dos quais apenas 16% frequentam escolas particulares. Em contraste, no Ensino Superior, a participação da iniciativa privada chega a 80%. Além disso, o ciclo de vida do aluno nas escolas pode se estender até doze anos, englobando os níveis fundamental e médio - um período incomum em outros setores. Esse ciclo longo é facilitado por altas taxas de retenção, uma vez que a escolha da escola é geralmente feita com uma perspectiva de longo prazo, haja visto às relações e vínculos que se estabelecem entre a família e os membros da comunidade escolar.

Para aproveitar essas oportunidades, é fundamental que as escolas implementem estratégias e boas práticas administrativas. Investir no aprimoramento da gestão é crucial. No entanto, o perfil predominantemente docente dos gestores das escolas brasileiras representa um desafio significativo. Dados do último Censo da Educação mostram que mais de 81% dos gestores vêm de programas de licenciatura. Embora isso garanta uma sólida base pedagógica, também cria lacunas na implementação de estratégias e práticas de gestão organizacional.

Além disso, os desafios que os alunos enfrentarão em suas futuras carreiras exigem modelos de ensino atualizados, que integrem alta qualidade pedagógica, individualização, bilinguismo e desenvolvimento de competências socioemocionais. O gestor educacional precisa equilibrar esses diferenciais pedagógicos com a sustentabilidade financeira da instituição e garantir que o ensino de qualidade seja acessível ao maior número possível de alunos.

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Para isso, as instituições de ensino devem superar a inércia e promover mudanças organizacionais e de gestão profundas. Em qualquer segmento, as organizações enfrentam desafios complexos. Embora as organizações tendam a manter o status quo, ambientes de pressão forçam a adaptação. Esse é o contexto atual do Ensino Básico privado no Brasil.

O primeiro passo para implementar as mudanças necessárias é uma avaliação precisa da situação atual. Felizmente, a academia e a pesquisa científica oferecem modelos testados e validados que podem ajudar as instituições a implementar mudanças estruturadas e eficazes. Esses modelos são amplamente adaptáveis a diferentes segmentos de mercado.

Melhorar a performance do negócio educacional não significa comprometer a qualidade do ensino. Pelo contrário, escolas que adotam um modelo de gestão profissional tendem a se posicionar estrategicamente de maneira mais eficaz, atraindo e retendo alunos com alta qualidade acadêmica. Uma gestão eficiente dos recursos financeiros, humanos e tecnológicos permite que as áreas da escola atuem em sinergia, otimizando o desempenho organizacional. Com gestores focados na administração, os educadores podem concentrar-se em aspectos pedagógicos, criando uma relação complementar virtuosa. No final, todos saem ganhando: a escola, os professores, os gestores, os alunos e a sociedade, que se beneficia de uma educação de qualidade oferecida por instituições economicamente saudáveis.

 

Alessandra Chemello - Pós-graduanda do Doutorado Profissional em Administração da FGV EAESP e executiva do setor de educação há mais de 20 anos.

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