Depois de alcançar bons retornos durante a pandemia, os fundos multimercados têm registrado perda de patrimônio e resultados pouco atraentes desde 2022. Se na pandemia os gestores do segmento mostraram capacidade de adaptação para explorar as oportunidades em diversas classes de ativos, a maré mudou. Com a normalização das condições econômicas e o retorno das volatilidades e incertezas, passou a ser complicado obter o mesmo desempenho do início da década.
“Os fundos multimercados não têm apresentado um desempenho tão positivo no momento devido à alta concentração em estratégias macroeconômicas. São decisões que envolvem a análise do cenário econômico e a construção de posições em juros, ações, moedas, entre outros. No cenário atual, pós-pandemia, tanto no Brasil quanto no exterior, a previsibilidade econômica tem sido mais difícil, e os fundos foram negativamente impactados nesse ambiente”, afirma Cassiano Leme, CEO da Constância Investimentos. O que não significa, segundo o executivo, que tudo esteja perdido. Segundo ele, mesmo dentro do segmento, existem estratégias menos afetadas que, inclusive, apresentaram resultados positivos. “Mesmo ao alocar recursos em fundos multimercados, é importante reconhecer que eles não são homogêneos e que existem várias categorias com desempenhos muito diferentes”, comenta Leme.
“Tudo indica que os fundos multimercados irão continuar sangrando”, considera João Peixoto Neto, CEO da Ouro Preto Investimentos. A maioria dos fundos multimercados, segundo o especialista, busca uma melhor rentabilidade com aplicações em ativos de renda variável. “Mas essa classe de ativos está passando por seu pior momento. As maiores economias do mundo estão entrando em recessão, como a Alemanha e o Japão. Outras economias estão em sérias dificuldades, como a China, a Rússia, o Reino Unido e a França. Se os EUA entrarem em uma recessão no próximo mês, como tudo indica que isso ocorrerá, as bolsas no mundo inteiro cairão ainda mais e todos os ativos perderão valor”, avalia Neto.
Frederico Avril, sócio-fundador da Septem Capital, considera que a volatilidade dos mercados, a alta dos juros e as mudanças nas políticas monetárias influenciaram negativamente o setor. “Para que os fundos multimercados possam se recuperar e se destacar novamente, é crucial que os gestores se adaptem às novas condições de mercado. Isso pode envolver a reavaliação das alocações de ativos, a mudança de estratégias e a adaptação às novas tendências econômicas e financeiras”, afirma Avril. Para o empresário, os fundos multimercados se beneficiam de uma gestão ativa e flexível. “Gestores que conseguem identificar e explorar novas oportunidades em diferentes mercados e classes de ativos têm mais chances de melhorar o desempenho. A capacidade de ajustar rapidamente a estratégia conforme as condições do mercado mudam é essencial”, avalia.
Luiz Gustavo Almeida, analista da Levante Inside Corp, contextualiza que a classe de fundos multimercados experimentou um período muito positivo, principalmente devido à valorização do mercado que começou em meados de 2016. Com isso, muitos fundos novos foram criados nesse período, a tal ponto que temos mais fundos de investimento ativos no Brasil do que nos Estados Unidos.
Atrativos no horizonte
A diversificação, consideram os especialistas, é um dos principais atrativos dos fundos multimercados. A seleção criteriosa de ativos e a alocação adequada entre diferentes classes de ativos e regiões geográficas podem ajudar a melhorar o desempenho. “Os fundos multimercados possuem grande liberdade de alocação, podendo investir em qualquer classe de ativo, desde que respeitem seu mandato e regulamento. O que significa a possibilidade de alocar recursos tanto em renda fixa quanto em renda variável”, diz Almeida.
“Embora os fundos multimercados possam ter enfrentado desafios recentemente, eles ainda têm o potencial de oferecer valor aos investidores, desde que se adaptem às novas condições de mercado e aproveitem as características de diversificação e flexibilidade. A chave para o sucesso futuro desses fundos é a capacidade dos gestores de se ajustarem rapidamente às mudanças no ambiente econômico e de mercado, além de identificar e explorar novas oportunidades”, diz Avril.
Para Leme, o segmento deve continuar totalmente presente no horizonte dos investidores. “Embora estejam passando por um período desafiador, esses fundos são um ativo importante para uma alocação equilibrada de médio prazo”, diz o executivo.
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