A GM anunciou nesta quarta-feira, 24, o investimento de R$ 7 bilhões até 2028 no Brasil. O anúncio foi feito em Brasília, após uma reunião dos executivos da empresa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo o presidente da GM América do Sul, Santiago Chamorro, o investimento será feito na modernização das fábricas atuais e na renovação do portfólio de produtos, como Onix, Tracker, Montana e S10, além da incorporação de novos modelos e novas tecnologias.
Durante o anúncio à imprensa, os executivos da GM ressaltaram os investimentos que a montadora vem fazendo em veículos elétricos globalmente. Segundo o presidente da GM Internacional, Shilpan Amin, “o futuro da GM é totalmente elétrico”. No entanto, para o mercado brasileiro, a montadora deverá avaliar o comportamento do consumidor para construir uma ponte até a sua conversão.
“Nós sabemos que mercado a mercado adaptações a este futuro serão diferentes. Por isso, construímos um portfólio de veículos que mira as necessidades dos nossos consumidores e que se adapte de acordo com a sua adaptação”, disse Shilpan.
Segundo o vice-presidente de Políticas Públicas, Fábio Rua, a avaliação será feita de acordo com a evolução da própria demanda. Ele observa que o mercado de híbridos e elétricos no passado no Brasil foi de uma fatia de 2% a 3% do total.
“Conforme o mercado for se posicionando em relação a novas tecnologias e à descarbornização, a gente vai apresentando (novos produtos)”, disse. “Nosso futuro é elétrico, é inquestionável e ninguém vai voltar atrás em relação a isso, globalmente, e o Brasil faz parte dos nossos investimentos e teremos elétricos aqui. O timing para que isso aconteça vai depender das condições de mercado.”
Neste ano, a GM lançou dois modelos elétricos no Brasil: a Blazer EV e o Equinox EV. Outros três produtos serão apresentados ainda neste ano, mas a empresa não quis antecipar se também serão elétricos.
O investimento da montadora no atual ciclo de quatro anos no Brasil é inferior ao realizado no quadriênio anterior (de R$ 10 bilhões), mas Fábio Rua afirma que o valor poderá ser ampliado. “Sete bilhões de reais é menos do que R$ 10 bilhões, mas não terminamos de anunciar nosso novo ciclo de investimentos”, afirmou Rua.
Na conversa com Lula mais cedo, os executivos trataram de temas “do passado e do futuro”, segundo Rua, referindo-se às demissões que a GM fez no ano passado e também sobre os projetos que estão no portfólio da companhia.
Ele afirmou que os cortes foram feitos em uma “conjuntura específica de ajustes pontuais na produção”, mas que a visão da companhia no Brasil é de longo prazo. Os executivos reconheceram que as fábricas no País estão funcionando abaixo da capacidade, mas vê chance de melhora se houver a reativação de mercados importantes, como Colômbia e Chile.
“Houve uma série de especulações de que íamos sair do Brasil, de que a GM seria a nova Ford (que encerrou a produção no Brasil)”, disse Rua. “Nosso planejamento é de longo prazo, a depender das condições de mercado e das decisões que forem tomadas pelo governo e pelos consumidores, podemos aumentar este valor ainda neste ano.”
O presidente da GM Internacional, por sua vez, disse que a conversa com Lula foi “fantástica”. “Creio que a transformação que se quer produzir na indústria não se faz sozinho e terá que envolver todos nós, os fornecedores, parceiros, os clientes, porque essa transformação demandará regulação, infraestrutura, produtos, pessoas e investimentos”, afirmou.
Segundo ele, boa parte da conversa girou em torno de produtos e na transformação tecnológica na qual a empresa pode trabalhar alinhada com o governo. “Muito do ‘mindset’ de Lula e do seu time está alinhado com os investimentos que estamos fazendo”, afirmou.
A montadora, no entanto, afirma ainda ter dúvidas sobre a regulação e em como funcionarão os estímulos aos veículos elétricos no Mover, programa de incentivos ao setor lançado no fim do ano pelo governo.
O governo não só tributou a importação de veículos híbridos e elétricos como criou vantagens a híbridos movidos a etanol em relação aos elétricos.
Fábio Rua afirma não ver tratamento mais vantajoso aos híbridos e que, se este for o entendimento que prevalecer, defenderá a revisão pelo governo federal. O Mover terá etapas de regulamentação nos próximos meses, que ditarão regras sobre os investimentos que as montadoras deverão fazer no Brasil em pesquisa e desenvolvimento e ainda nas condições de tributação para os importadores de híbridos e elétricos que investem no Brasil, como é o caso da GM.
O executivo negou que a GM tenha reduzido os investimentos em razão de vantagens tributárias concedidas à concorrente chinesa BYD, cuja futura fábrica de híbridos e elétricos será instalada em Camaçari, na Bahia. Os benefícios fiscais de ICMS e também de impostos federais, de IPI, PIS e Cofins, foram estendidos até 2033.
“Ele (Lula) reforçou o Mover, a política industrial, para que a gente siga trabalhando para diminuir eventuais assimetrias tributárias que a gente sabe que existem, como o incentivo do Nordeste que foi aprovado na reforma tributária, que ainda não pacifica a questão”, disse. “Precisamos entender bem como essa renovação vai acontecer, lembrando que ela não será automática e ao longo tempo vai diminuindo”.
Rua afirma que montadoras que não estavam na região (Nordeste) foram contra a renovação por uma questão competitiva e que houve um avanço em relação à ideia original.
“Agora temos um phase out (redução gradual), esses degraus vão melhorar as condições de competitividade. Também houve a impossibilidade de que (o benefício) seja usado por fornecedores, de partes e peças da região. As coisas avançaram”, disse.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.