Um estudo divulgado nesta terça-feira, 5, mostra que brasileiros sofreram 1,7 milhão de golpes financeiros via Pix em 2022 e que quatro em cada 10 foram vítimas de alguma tentativa de golpe ao usar esse meio de pagamento. A pesquisa “Golpes com Pix no Brasil” foi conduzida pela fintech de proteção financeira digital Silverguard e concluído em agosto de 2023.
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Os resultados se basearam em 1.910 entrevistas, dados do Banco Central (obtidos com a Lei de Acesso à Informação) e análises de mais de 5 mil atendimentos do serviço SOS Golpe, produto da Silverguard de atendimento gratuito a vítimas de golpes e crimes digitais.
As tentativas desse tipo de golpe são maiores entre a classe A (54%) e entre os mais jovens (44,5%). De acordo com a pesquisa, um em cada cinco dos brasileiros que receberam uma tentativa caiu no golpe. Isso significa que 8,8% dos brasileiros adultos já sofreram algum golpe com Pix.
O estudo também mostra que cair em golpe independe de gênero e idade. No entanto, o percentual é significativamente maior entre aqueles de menor poder aquisitivo (15,5% nas classes D e E). Existem golpes que possuem maior prevalência entre as faixas etárias. Entre os mais jovens (18-29 anos), é o golpe da falsa oportunidade de multiplicar/investir dinheiro (28%). Já entre os maduros (60+ anos), é o golpe do falso parente pedindo dinheiro (30%).
Segundo a empresa, as fraudes se tornam perigosas pela engenharia social usada pelo golpista, ou seja, “narrativas bem elaboradas, convincentes e contextualizadas que podem acontecer com qualquer pessoa”, coloca Marcia Netto, coordenadora do mapeamento. O estudo mostra que 78% dos respondentes que afirmaram terem sido vítimas caíram mais de uma vez em um golpe do tipo.
Golpes com Pix mais frequentes
- Golpe do falso parente, caracterizado pelo golpista se passando por um familiar ou amigo, pedindo dinheiro ou solicitando o pagamento de uma conta.
- Golpe do produto ou da loja falsa, caracterizado pela compra de produto e/ou serviço em uma loja falsa; a compra nunca é entregue.
- Golpe da falsa central/gerente do banco, caracterizado pelo golpista se passando por um profissional de uma central de atendimento/gerente do banco pedindo para reverter um falso Pix.
- Golpe da rede social hackeada, caracterizado pela compra de produto de um conhecido que teve sua rede social ‘hackeada/clonada’.
- Golpe do falso investimento, caracterizado por uma oportunidade falsa de multiplicar/investir dinheiro.
Golpes de maior prejuízo
Os golpes de maior prejuízo são caracterizados por perdas acima de R$ 5 mil. Os principais são: golpe da central telefônica (38%); golpe do falso parente pedindo dinheiro (20%); e o golpe do falso relacionamento amoroso (11%).
Dinheiro perdido
As vítimas de golpe perdem em média dois meses de renda de trabalho, com média do prejuízo de R$ 3 mil reais. Os brasileiros com mais de 60 anos são os que sofrem mais nesse quesito: uma perda média de R$ 5.400 por golpe, cifra quase oito vezes maior do que o prejuízo entre jovens de 18 a 29 anos (R$ 680).
Onde aconteceram
A pesquisa revela que quatro a cada 10 golpes começam pelo WhatsApp; pelo Instagram, esse número é de 22%; pelo Facebook, o índice é de 10%.
As redes sociais são o principal canal de golpe com Pix para os mais jovens: 40% das vítimas entre 18 e 29 anos caíram em golpes iniciados pelo Instagram ou Facebook. Entre os brasileiros com 60 anos ou mais, a incidência nas redes sociais é de 14%.
Após o golpe
Nove de cada 10 vítimas de golpe do Pix não conseguem o dinheiro de volta. Porém, um terço das vítimas nem tentou reaver o dinheiro, mostra o estudo.
O engajamento e a taxa de sucesso são maiores quanto maior é o prejuízo do golpe. Cinco em cada 10 vítimas que tiveram prejuízo abaixo de R$ 500 no golpe nem tentaram reaver o dinheiro, enquanto apenas um em cada 10 vítimas que perderam mais de R$ 5 mil não tentou.
Entre aqueles que tiveram prejuízo acima de R$ 5 mil, 16% das vítimas conseguiram reaver total ou parcialmente o dinheiro do golpe. Porém, a taxa de sucesso foi de apenas 4% para quem perdeu menos de R$ 500.
Como denunciar um golpe de Pix?
Segundo a Silverguard, é preciso entrar em contato rapidamente com a instituição financeira de onde o Pix saiu e, além disso, pedir o bloqueio do dinheiro na conta de destino. O Mecanismo Especial de Devolução (MED) possibilita que a entidade financeira de origem da transação solicite a imediata suspensão do montante na conta de recebimento, se houver suspeita de atividade fraudulenta.
A denúncia pode ser feita em um canal digital, como aplicativo ou telefone do banco de onde foi feito o Pix. É importante registrar a data, o horário e o número do protocolo de abertura do MED, que pode ser útil posteriormente.
Além disso, a vítima deve documentar o golpe e capturar imagens da tela (print screen) que exibam as conversas, por exemplo. Bloquear ou denunciar o contato do golpista imediatamente pode ocultar a conversa e impedir a captura de tela.
Por fim, a vítima deve registrar um Boletim de Ocorrência (B.O) do golpe. Deve-se incluir no B.O. toda a documentação, assim como o protocolo do MED.
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