O Brasil tem potencial para ser um centro global de soluções climáticas, com oportunidades de investimento que podem chegar a US$ 3 trilhões até 2050. A estimativa é do estudo Seizing Brazil’s Climate Potential (Aproveitando o Potencial Climático do Brasil), divulgado nesta segunda-feira, 27, pela Boston Consulting Group (BCG).
Em relação ao potencial teórico para soluções baseadas na natureza (NBS, na sigla em inglês), por exemplo, o País aparece na dianteira na comparação com outras oito economias: China, Indonésia, União Europeia, Índia, Rússia, México, Estados Unidos e Austrália, que complementam, respectivamente, o ranking.
Entre os exemplos que ilustram o potencial para atração de investimentos, o mapeamento cita movimentos de companhias do setor privado, como o acordo de compra de 3 milhões de créditos de carbono no Brasil em 15 anos feito pela Microsoft este ano; e o investimento de cerca de US$ 70 milhões da farmacêutica Astrazeneca no plantio de 12 milhões de árvores nativas na Mata Atlântica, em 2023.
Segundo o diretor executivo e sócio do BCG, Arthur Ramos, a posição estratégica do País nesse contexto frente às demais economias tem relação com suas iniciativas já implementadas, como agricultura sustentável — na qual o Brasil é líder mundial — e produtos industriais verdes, e com a alta competitividade de energias renováveis. Essas são as áreas com mais potencial para receber os futuros investimentos, tanto internacionais quanto domésticos.
“Toda a tese deste estudo está baseada (no fato de) que o Brasil tem vantagens comparativas muito importantes, fruto das suas condições naturais, da sua extensão territorial e de seus recursos energéticos, fósseis e renováveis. Mas, o lado renovável é muito forte. Então, essa é a atração principal que a gente vê aqui”, diz o especialista. “São itens positivos para a gente estar perseguindo, e o capital vai vir por (meio dessas áreas)”, complementa.
Na avaliação de Ramos, os investidores e fundos internacionais que valorizam os compromissos sustentáveis das empresas não só vão observar se elas, de fato, cumprem as preocupações com a matriz de consumo energético, conforme as exigências socioambientais, entre outros, como vão buscar um diferencial. “Eles olham isso como uma questão global, mas, no Brasil, talvez olhem com o dobro de atenção”, pontua. “Por isso, mais do que cumprirem os compromissos, é importante que as empresas se tornem referência.”
Nesse contexto, o estudo destaca que a realização da 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP-30) no Brasil em 2025 pode ser uma oportunidade para que as empresas ligadas ao ecossistema de descarbonização atraiam os investimentos necessários para integrar essas soluções às suas estratégias de negócios. O evento funcionará como uma vitrine para o mundo.
“Eu acho que a alternativa para as empresas não é ‘vestir a noiva’ ou fazer propaganda, mas, sim, divulgar as suas iniciativas que realmente vão causar algum impacto, preferencialmente na Amazônia ou associado à Amazônia. (Divulgar) em que a empresa está contribuindo, seja individualmente, seja coletivamente, na sua cadeia de valor para reduzir a pegada de emissões (de carbono), para a sustentabilidade e para uma atuação socioambiental responsável”, orienta.
Descarbonização da economia mundial
Conforme a pesquisa, a descarbonização da economia mundial é urgente tanto na prevenção de desastres climáticos quanto para evitar perdas na atividade econômica global. A estimativa é que, sem essas medidas de prevenção, a crise do clima resulte em uma queda de 30% no Produto Interno Bruto (PIB) per capita mundial até 2100.
A transição para a Net Zero no mundo, estima o estudo, vai exigir investimentos de até US$ 150 trilhões ao longo das próximas três décadas. O foco para isso estão nas áreas que ofertam soluções em energia renovável, biomassa e biocombustíveis, agricultura sustentável, compensação de carbono, eletrificação e baterias e hidrogênio verde.
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Para Ramos, as perspectivas de que esses valores sejam investidos nessas medidas são positivas, mas isso não ocorrerá no curto prazo. “O ponto de partida é uma grande rampa, um grande desafio de mobilização de fundos para fazer essa transição energética. E, também, muitos desses negócios dependem desse início para poder criar massa crítica e um ciclo de investimentos. Eu acredito que, no curto prazo, não (haja mobilização de capital). Mas a perspectiva (no longo prazo) é positiva”, afirma.
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