O setor da construção civil do Brasil teve sete projetos listados entre os 100 mais icônicos edifícios sustentáveis do mundo em concurso da presidência indiana do G20, grupo que reúne as 20 maiores economias.
A iniciativa, realizada pelo departamento de Eficiência Energética do Ministério de Energia da Índia, visa dar destaque a edifícios comprometidos com a sustentabilidade desde a sua construção até a operação, homenageando àquelas que corroborem direta ou indiretamente no combate às alterações climáticas.
As sete construções, que incluem um prédio de escritório, um residencial, um de logística, uma escola, uma casa, uma pequena indústria e o Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, são certificadas pelo Green Building Council Brasil (GBC), organização não governamental que visa fomentar a indústria de construção sustentável no País e também atestar o projeto como sustentável.
Segundo o CEO da organização, Felipe Faria, além de ser um reconhecimento público, o selo de sustentabilidade ajuda os empreendimentos a atrair investimentos, valorizando o preço do imóvel no mercado imobiliário e se tornando uma ferramenta de “transformação de mercado”.
Ele destaca que a certificação não considera apenas o empreendimento final, mas todo o processo para a sua construção.
“A certificação olha a localização, como ela está se relacionando com o entorno, tendo de comprovar uma prevenção maior do que a regra pede em evitar a sedimentação, a erosão do terreno e a poluição durante o período que a obra estiver acontecendo. Além disso, vai olhar também como evitar o efeito de calor, reduzir o uso de água e tornar mais eficiente o uso de energia”, afirma Faria.
Projetos de destaque
Para um prédio receber o selo de sustentável, são avaliados critérios desde estruturais até o uso de materiais específicos, priorizando àqueles cuja cadeia produtiva é rastreada — o que permite que, inclusive, a quantidade de gases emitidos ao longo de toda a sua vida útil seja acompanhada, facilitando a compensação desse carbono.
Um dos projetos premiados no Brasil, o Hospital Erastinho, especializado no tratamento oncológico infantil, possui várias destas características. Localizado em Curitiba, no Paraná, o hospital se destaca pela redução de 35,9% do uso de água e nas altas taxas de renovação do ar.
Além disso, o projeto conseguiu alcançar um bom patamar de eficiência energética pelo uso de energia solar e também táticas estruturais. O projeto valorizou a distribuição de iluminação natural, pensando não só na iluminação, mas também no bem-estar dos pacientes.
O conforto foi pensado também em outras áreas, com a instalação de controle térmico individual e iluminação natural em todas as salas, inclusive no centro cirúrgico.
Continuando nesse movimento sustentável, a ideia do hospital é instalar painéis fotovoltaicos em todo o telhado para gerar 100% de sua demanda de energia elétrica, tornando-se um dos únicos no mundo a funcionar 24 horas por dia, sete dias na semana, com esse modelo.
Eficiência energética
Outro projeto destacado pelo G20 foi a Escola Adventista do Sul, com a maior parte de suas unidades em Curitiba. Além da implementação de iluminação e geração de energia renovável em todas as suas unidades — sendo 22 escolas, um campus universitário e a sua sede — a marca também apostou em projetos de eficiência energética, reduzindo cerca de 45% a 50% de sua demanda antes de investir em painéis fotovoltaicos.
Considerando a quantidade de energia gerada, a diretoria da escola é o maior consumidor individual que produz sua própria energia elétrica no País. A expectativa é gerar 4.238 GWh de energia elétrica e economizar 2,2 milhões de reais anualmente.
Abaixo a lista com as sete construções premiadas:
- Hospital Erastinho em Curitiba, Paraná;
- Escola Adventista do Sul em Curitiba, Paraná;
- IDEA Bagé by Capitânia em Petrópolis, Porto Alegre;
- Camisas Polo em Salvador, Bahia;
- Museu do Amanhã no Rio de Janeiro (capital);
- FM136 Home by Miguel Aflalo em São Paulo (capital);
- Centro Comunitário Camburi em Ubatuba, São Paulo.
Segundo a Green Building Brasil, as outras duas empresas não tiveram o nome divulgado a pedido das próprias companhias.
Crescimento de construções sustentáveis
Não é a primeira vez que o setor de construção sustentável brasileiro se destaca internacionalmente. Neste ano, o U.S. Green Building Council (USGBC) anunciou que o Brasil é o quarto no mundo em construções sustentáveis.
Segundo especialistas ouvidos pelo Estadão, o destaque que as construções do País vem ganhando internacionalmente é decorrente da ascensão da agenda sustentável no mundo corporativo e no governo, que tem um plano de transformação ecológica.
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“Esse movimento de construções sustentáveis está ancorado nessas discussões globais sobre mudanças climáticas, os seus efeitos e as soluções para mitigar”, explica Faria. Ele destaca que o envolvimento do setor na área é essencial, considerando que ele é responsável por uma parte considerável das emissões de gases do efeito estufa e pela extração de recursos naturais. “É um segmento muito importante de discutir é quando a gente tá falando sobre clima e seus efeitos”.
Para reduzir as emissões de carbono e se adequar à agenda ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança corporativa), os projetos de construtoras e incorporadoras brasileiras têm ganhado relevância no mercado de construção civil.
Atualmente, o País conta com cerca de 3,5 mil construções certificadas ou em fase de certificação, que atendem critérios definidos por organismos nacionais e internacionais.
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