
Primeira mulher a dirigir a Amazon no Brasil, Juliana Sztrajtman iniciou sua gestão como CEO em janeiro deste ano, em um momento desafiador para os temas de diversidade. Multinacionais sediadas nos Estados Unidos, incluindo a Amazon global, anunciaram reformulação ou descontinuidade de programas em prol da agenda, afetando perfis sub-representados nos ambientes corporativos, como as mulheres.
À frente da subsidiária brasileira, o discurso na gestora, entretanto, é de continuidade e avanço nos projetos de inclusão e sustentabilidade. Recentemente, em um evento entre executivas da companhia no Brasil para jornalistas mulheres, Sztrajtman anunciou a filiação da companhia ao Movimento Mulher 360, organização para equidade de gênero em empresas do País.

Para o Estadão, a gestora afirmou que a adesão ao movimento faz parte do investimento na criação de um ambiente de trabalho equitativo, para que mulheres desenvolvam suas habilidades e tenham as mesmas oportunidades de trabalho. Ela espera que sua própria carreira seja a prova viva disso.
“Quero que minha trajetória mostre que é possível chegar lá, que a diversidade não é só um ‘discurso bonito’, mas sim um ativo valioso para qualquer empresa”, disse. “Além de ser a coisa certa a se fazer, (ter uma equipe diversa) é uma maneira estratégica de representar nossos consumidores, principalmente no Brasil. E a razão para isso é simples: o consumidor brasileiro é plural.”
Abaixo, os principais trechos da entrevista:
No evento ‘Mulheres à frente da Amazon’, em fevereiro, a sra. pontuou que sua liderança seria sobre equilibrar diversos papéis. Em quais aspectos essas habilidades de equilíbrio contribuem para a gestão de uma grande empresa?
Como líder, é preciso sempre ter em mente que estamos impactando pessoas. Além de terem seus papéis profissionais, elas são seres humanos, com suas particularidades e vida pessoal. Assim como todos e todas equilibramos diferentes papéis – somos trabalhadores, mas também mães, pais, filhas e irmãs –, essa habilidade de equilibrar responsabilidades se reflete na capacidade de adaptação e flexibilidade na gestão. Essa habilidade é crucial em um mundo empresarial em constante mudança, para tomar decisões estratégicas, lidar com crises e promover inovação. Quando a liderança valoriza a diversidade de perspectivas e experiências, ela pode criar uma cultura organizacional mais ágil e resiliente.
Como tem sido iniciar o trabalho como presidente em uma multinacional no momento em que medidas antidiversidade têm ganhado força no cenário geopolítico internacional?
Por um lado, sinto a responsabilidade de representar tantas pessoas e de abrir caminhos para outras mulheres e grupos sub-representados, e é algo que levo muito a sério. Quero que minha trajetória mostre que é possível chegar lá, que a diversidade não é só um ‘discurso bonito’, mas sim um ativo valioso para qualquer empresa. No entanto, essa responsabilidade só se sustenta quando me conecto com o propósito maior. Todos os dias tento me lembrar de por que estou aqui. Me lembro das pessoas que me inspiraram, das que me apoiaram e das que dependem de mim. E essa lembrança me dá forças para seguir em frente, para lutar por um mundo mais justo e igualitário, onde todos tenham a oportunidade de brilhar, independentemente de sua origem, gênero, raça ou orientação sexual. Acredito que a liderança, nesse contexto, exige mais do que nunca empatia, coragem e resiliência. Precisamos ouvir as pessoas, entender suas dores e necessidades e criar um ambiente onde todos se sintam seguros, valorizados e respeitados. Precisamos ter a coragem de defender nossos valores, mesmo quando isso significa ir contra a corrente. E precisamos ser resilientes para superar os obstáculos e não desistir dos nossos sonhos. É um desafio enorme, sem dúvida, mas estou disposta a enfrentar isso.
De que modo ter uma equipe mais diversa ajuda nos resultados de uma companhia?
Ter uma equipe diversa não é apenas uma questão de responsabilidade social. Além de ser a coisa certa a se fazer, é uma maneira estratégica de representar nossos consumidores, principalmente no Brasil. E a razão para isso é simples: o consumidor brasileiro é plural. Aqui na Amazon temos como prioridade fazer nossos consumidores se sentirem representados. Nossa população é formada por uma rica mistura de culturas, etnias, gêneros, orientações sexuais, classes sociais e experiências de vida. Para realmente entender e atender às necessidades e desejos desse público tão diverso, precisamos ter pessoas que representem isso dentro da nossa empresa. Essa pluralidade nos permite entender e atender às necessidades de um público cada vez mais diverso, e isso se reflete na satisfação dos nossos clientes. Uma equipe diversa traz uma variedade de perspectivas, ideias e experiências que enriquecem a tomada de decisões, a criação de produtos e serviços, e a comunicação com os clientes.
Globalmente, a Amazon encerrou ou modificou políticas de diversidade que estava adotando até então. Enquanto isso, a subsidiária brasileira afirmou manter o diálogo com a agenda, inclusive com a entrada no Movimento Mulher 360. Essas políticas internas irão continuar em sua gestão ou haverá mudanças?
A Amazon continua comprometida com ações de diversidade. Como uma empresa global que atende centenas de milhões de clientes, estamos comprometidos em construir equipes de trabalho e uma cultura que reflita as comunidades que atendemos. E é importante que nossas equipes sejam diversas para construir os melhores produtos e serviços para nossos diversos clientes. Nós adotamos uma abordagem baseada em dados para avaliar e desenvolver nossos programas, para garantir que eles sejam eficazes e alinhados com a estratégia geral da empresa para inclusão. Temos 13 grupos de afinidade globais, com mais de 120 mil participantes em todo o mundo, que trabalham próximos à liderança para promover mudanças positivas. No Brasil, temos grupos como o Glamazon (focado na comunidade LGBTQIA+), o Amazon PwD (para pessoas com deficiência), o Black Employee Network (BEN), e o Women@Amazon, que apoia o desenvolvimento de mulheres na empresa. Nos associarmos ao Movimento Mulher 360 faz parte do nosso apoio contínuo e investimento na criação de um ambiente de trabalho equitativo para todas as equipes, com espaço e visibilidade para que as mulheres desenvolvam suas habilidades e tenham as mesmas oportunidades de trabalho.
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No Brasil, está prevista alguma mudança da Amazon em relação às suas iniciativas de sustentabilidade, como o ‘Climate Pledge Friendly’?
Nós seguimos engajados e alinhados com estratégias de sustentabilidade globalmente, com investimentos significativos no Brasil. Temos uma usina solar de 122 MW, com um investimento de R$ 2 milhões em programas de proteção ambiental durante sua construção, e um parque eólico de 49,5 MW, localizado no Complexo Eólico de Seridó, no Rio Grande do Norte. Como resultado, neste ano, fomos eleitos pelo quinto ano consecutivo, a maior compradora corporativa de energia renovável do mundo. Além disso, ampliamos nossas operações logísticas de entregas por meio de veículos sem emissão de CO₂, operados pela To Do Green, uma empresa brasileira de logística sustentável, focada em reduzir impactos ambientais no setor: de sete para 24 estações de entrega, responsáveis por realizar entregas em mais de 98 cidades do interior de São Paulo.