A compra da termelétrica a carvão Pampa Sul pela Perfin, em parceria com a Starboard, traz para as gestoras um ativo classificado como “sujo”, dado seu alto nível de emissões de gases de efeito estufa, em um momento em que investidores e a sociedade cobram práticas mais sustentáveis dos negócios. Para a Perfin, porém, a usina pode se enquadrar dentro das práticas ESG (ligadas a boas práticas ambientais, sociais e de governança, na sigla em inglês), por conta das iniciativas assumidas para o desenvolvimento do ativo. “ESG não é só E, é também S e G”, disse a diretora de operações da Perfin, Carolina Rocha, em entrevista ao Estadão/Broadcast.
Ela refere-se ao fato de que a usina tem papel social e econômico, particularmente em Candiota (RS) e no sistema elétrico brasileiro. De um lado, afirma, a região gaúcha tem no carvão e na decorrente geração elétrica a principal atividade econômica, com a criação de muitos empregos locais. Por outro, a usina ajuda a dar confiabilidade para o fornecimento de energia nacional.
Para ela, os desligamento de Pampa Sul e outras térmicas movidas a combustíveis fósseis poderia encarecer produtos nacionais, pela “não disponibilidade efetiva de energia”, já que a forte presença de renováveis na matriz brasileira deixa o sistema mais sujeito às oscilações de geração. “Em um País no qual o problema social é muito maior que o ambiental, a gente simplesmente resolver abraçar um problema do mundo inteiro (de descarbonização), que fez tudo errado há anos, e sacrificar a nossa comunidade como um todo, com um processo inflacionário, não é ESG, é só ‘E’”, afirma. “Tem de ter esse cuidado.”
Rocha também diz também que o “ativo sujo” não vai deixar de existir por conta da decisão das grandes empresas internacionais de desinvestir, porque é necessário para compor a matriz elétrica brasileira. “Como fazer com que esse ativo se mantenha, mas de forma melhor, foi um pouco da nossa diretriz - é a partir dessa linha de base, de como consigo melhorar essa história pra frente, e isso foi muito bem aceito pelos investidores”, afirma.
Iniciativas
Embora defenda que não sejam instaladas mais térmicas a carvão no Pais, ela diz haver necessidade de uma gestão que possa ajudar a reduzir as emissões de forma sustentável. A empresa, com a sócia Starboard, anunciou o plano de investir cerca de R$ 150 milhões em Pampa Sul com o objetivo de alcançar uma redução das emissões de carbono em até 5%, o correspondente a 75 milhões de toneladas de CO2 equivalente por ano.
A empresa também se comprometeu com o desligamento da usina dez anos antes do fim da outorga, em 2040, o que significará também antecipar o fim dos contratos de compra e venda da energia no mercado regulado (CCEAR) acertados no leilão A-5 de 2014, que vão até 2043. Conversas iniciais com as autoridades do setor elétrico já foram iniciadas.
Adicionalmente, a companhia pretende, ainda, direcionar os recursos obrigatórios regulatoriamente de investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D), correspondentes a 1% da receita anual da geradora, a estudos voltados para a tecnologia de captura e armazenamento de carbono.
Segundo ela, a previsão de investimentos na redução de emissões e de antecipação do chamado “descomissionamento” da usina foi possível porque a Engie se viu obrigada a vender o ativo mais barato, tendo em vista o compromisso de descarbonização global da companhia. “Quando todo mundo diz não (para o ativo) sem nem olhar o que é, começa a ter a situação da Engie de ter de sair do ativo de forma desesperada, em nível de preço não tão ótimo para vendedor, e propicia achar modelos equilibrados, porque é possível gastar parte do que foi deixado na mesa e pensar iniciativas e trabalhar melhor esse fluxo”, diz.
As iniciativas também trouxeram mais conforto para os bancos financiadores, como o BTG, e também para os investidores no fundo, diz ela.
A Perfin criou o fundo Perfin Space X exclusivamente para o investimento em Pampa Sul. De acordo com ela, o olhar mais detalhista e “não binário” sobre a térmica permitiu levantar um capital de aproximadamente R$ 400 milhões superior à necessidade de aporte. A captação foi feita por meio de uma oferta 476, mais restrita, “para ter uma conversa próxima com os investidores. “Entendemos que é uma adaptação da temática, da forma como tem sido colocada, e de forma geral (oferta 400, aberta a público maior) poderia fica difícil”, afirma.
O fechamento da compra de Pampa Sul está previsto para o início de 2023. Mas em uma fase de transição empresas estão trabalhando conjuntamente para a gestão da usina, o que deve levar cerca de um ano. Rocha evitou dar um prazo para a realização de investimentos planejados, mas indicou que “vai ser logo”, mas não antes de 2024, dada a necessidade de programação para fazer as paradas na usina.
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