Medir riscos climáticos, inseri-los nas decisões estratégicas das empresas e estabelecer uma rede com entes da sociedade civil e do poder público para alinhar crescimento à sustentabilidade. As estratégias, próprias da chamada governança climática, são vistas como peças-chave e urgentes para CEOs e conselheiros que desejem tornar suas companhias resilientes para os próximos anos.
O tema foi debatido em um dos painéis da 25ª edição do Congresso do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), nesta terça-feira, 8, em São Paulo. Com a mediação do presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), Carlos Bocuhy, as conselheiras Denise Hills, pioneira dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) pela ONU em finanças sustentáveis, e Jandaraci Araujo, cofundadora do Conselheira 101, apontaram estratégias necessárias para pôr a governança climática em prática.
De acordo com Hills, a natureza é uma parte interessada (stakeholder) muito relevante para as empresas. Desse modo, entender a materialidade dos impactos das mudanças climáticas e quais mudanças sociais e ambientais vão afetar a viabilidade de um negócio deve ser considerado o “novo básico” para as companhias.
“O CEO que está olhando para o desempenho da empresa nos próximos três anos certamente verá algum impacto dos efeitos da mudança do clima em algum investimento, em alguma alocação da próxima fábrica, em alguma decisão de onde vai contratar e investir em talentos”, diz Hills. “Isso deve orientar as decisões de forma muito pragmática, para evitar a alocação de recursos da empresa em algo que pode ter um impacto.”
Hills acrescenta que os riscos de não avaliar tais pontos são reais. Ela diz que, nos últimos dez anos, 95% das cidades brasileiras tiveram pelo menos um evento diretamente ligado à mudança do clima, e informações sobre como isso pode afetar hoje os negócios já estão disponíveis e permitem detectar lugares sujeitos a escassez hídrica, locais mais vulneráveis aos excessos de chuva, tendências de ondas de calor e outros eventos mais extremos.
“Informações climáticas disponíveis para o conselho ou dentro da empresa podem ajudar na criação de políticas públicas e de sistemas de resiliência eficientes nos lugares onde estão suas instalações. No setor financeiro, medimos o risco para entender como correr esse risco e, inclusive, como criar novas oportunidades de negócios a partir dele”, afirma a especialista.
Transparência para investidores
Para Jandaraci Araujo, além de direcionar melhor as estratégias internas de governança, a avaliação dos riscos climáticos por uma empresa sinaliza ao público externo a atenção da companhia para as regulações de sustentabilidade e indica boas práticas de transparência que serão cada vez mais exigidas pelos investidores.
“Muitas vezes, a empresa está perdendo oportunidades de negócios porque não quer olhar para as questões climáticas. As novas regulamentações têm ajudado muito a impor que as empresas sejam mais transparentes. O relatório de sustentabilidade não é para ser apenas uma peça de marketing, mas para trazer a realidade, principalmente para os investidores”, diz Araújo. “Qualquer grande fundo de investimento vai avaliar qual a estratégia que a empresa tem para a continuidade de seus negócios.”
Dentro da perspectiva da governança climática, Araujo pontua a necessidade de que as políticas empresariais sobre o tema sejam integradas às ações do setor público e às demandas das comunidades externas, que costumam ser mais impactadas pelos eventos climáticos extremos.
“Cabe ao governo trabalhar junto das empresas para desenvolver regulações que sejam aplicáveis e às empresas, por sua vez, ter seus riscos efetivamente mapeados. Nenhuma ação ou regulamentação pode esquecer que a população vulnerável é a mais impactada, principalmente pelas tragédias”, comenta. “Outro ponto é que as empresas façam uma comunicação simples e clara, para todo mundo entender e aprender a falar sobre risco climático. Não é mais uma conversa da sala de cientistas, mas de todos nós.”
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