Novo padrão para dados sobre sustentabilidade pode evitar ‘greenwashing’ e fortalecer governança

Normativas do IFRS, lançadas globalmente em setembro, têm como foco promover a integração entre os relatórios financeiros e de sustentabilidade das empresas

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Foto do author Beatriz  Capirazi

As normas de informações financeiras relacionadas à sustentabilidade, o International Financial Reporting Standards (IFRS), foram lançadas globalmente no início deste mês, prometendo mudar como as companhias, principalmente as listadas na Bolsa de Valores do Brasil, a B3, reportam as suas informações da agenda ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança).

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As normativas visam promover a integração entre os relatórios financeiros e de sustentabilidade. Com isso, a ideia é que, com o lançamento do IFRS 1, com foco em sustentabilidade, e do IFRS 2, voltado a divulgações relacionadas ao clima, as empresas passem a seguir um padrão.

Segundo especialistas, com a mudança, haveria o combate ao greenwashing (“lavagem verde”, em inglês), quando há falsas ações de sustentabilidade, que historicamente já aconteceram em relatórios de ESG justamente por não haver um padrão a ser seguido ou balizadores que norteassem os documentos, o que enfraquece a governança corporativa das empresas como consequência.

Agora, a ideia é que seja possível comparar os mesmos dados e indicadores de diferentes empresas que atuam no mesmo setor, graças à criação de métricas quantitativas para o mercado de ESG. Com isso, os objetivos de sustentabilidade traçados pela empresa que tenham impacto financeiro precisam ser justificados no reporte financeiro.

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Publicadas em junho deste ano, as normas entram em vigor no Brasil somente em janeiro de 2024. No entanto, o lançamento global em setembro era um dos tópicos mais aguardados pelos empresários ainda neste ano. “A ansiedade do mercado pelas normas era unânime. Todo mundo precisa de normas comparáveis e esse é um primeiro passo”, afirma a sócia da EY Brasil na área de sustentabilidade e mudanças climáticas, Ana Luci Grizzi.

A existência de métricas que tornassem os dados sustentáveis relatados pelas empresas comparáveis era uma antiga exigência do mercado, considerando que a agenda ESG tem se tornado cada vez mais um fator a ser considerado na tomada de decisão dos negócios.

“Apenas os números já não são mais suficientes para medir risco. A informação que agrega valor é importante para um stakeholder tomar uma decisão e para que ela seja mensurável é preciso que seja auditável. O IFRS é útil para que essa informação de sustentabilidade seja integrada com a informação contábil”, explica a vice-coordenadora de Relações Internacionais do Comitê Brasileiro de Pronunciamentos de Sustentabilidade (CBPS), Vania Borgerth.

Vice-coordenadora de Relações Internacionais do Comitê Brasileiro de Pronunciamentos de Sustentabilidade (CBPS), Vania Borgerth.  Foto: Yan Telles/ CBPS

Ela explica que a tendência é que as métricas sigam um caminho similar ao do que aconteceu com a contabilidade. “Anos atrás, as métricas diversas causavam confusão porque algumas empresas davam lucro pela regra de um país e prejuízo pela regra de outro, o que acabava dificultando a realização de acordos internacionais e forçando o surgimento de uma linguagem global.”

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Qual o impacto do lançamento do IFRS?

Antes das normativas de caráter global, as companhias adotavam diferentes formas para a divulgação de relatórios de sustentabilidade — cada empresa reportava as informações que julgava importantes, criando uma dificuldade na hora de comparar empresas ou quantificar o avanço da agenda.

A preocupação com as normativas era uma demanda também das entidades internacionais. A IOSCO, que se tornou o principal fórum internacional para as autoridades reguladoras dos mercados de valores, já havia mencionado a necessidade de uma padronização para esse mercado.

Ana Luci Grizzi, sócia da EY Brasil na área de sustentabilidade e mudanças climáticas Foto: Divulgação/ EY

“Na época, a IOSCO, inclusive, afirmou que, se houvesse o lançamento pelo ISSB, eles iam endossar e referendar as normas. O que foi feito rapidamente, inclusive, incentivando que todas as ‘CVMs’ do mundo sugerissem as normas para as empresas de seus países”, afirma Grizzi.

A especialista da EY destaca que a expectativa do mercado é que as normativas sejam referendadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no Brasil após serem traduzidas pelo Comitê Brasileiro de Pronunciamentos de Sustentabilidade (CBPS). A expectativa é que isso aconteça até o começo do próximo ano.

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Embora a CVM deva coordenar, algumas empresas especulam que o Banco Central (BC) possa também referendar as normativas, o que faria com que não só empresas de capital aberto fizessem a adesão das normas, mas também os bancos e cooperativas.

Vale destacar que as normas não têm caráter obrigatório, mas são uma recomendação. A expectativa é que o órgão que coordenará a implementação do IFRS no Brasil conceda um período de adaptação à transição.

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