A secretária de mudança do clima do Ministério do Meio Ambiente, Ana Toni, afirmou nesta sexta-feira, 23, não acreditar que o setor financeiro global esteja mudando de posição em relação à pauta ESG (sigla em inglês para boas práticas de meio ambiente, social e governança corporativa).
Nos últimos dias, por medo de questões legais, gigantes como JPMorgan, State Street e Pimco se retiraram do grupo Climate Action 100+, uma coalizão internacional de gerentes de dinheiro que estava pressionando grandes empresas a abordar questões climáticas. Além disso, a BlackRock, considerada a maior gestora de ativos do mundo, também reduziu o seu envolvimento com o grupo.
O movimento que ocorre nos Estados Unidos, também por pressão de políticos do Partido Republicano, vai contra o discurso sustentável que algumas das maiores empresas financeiras do mundo adotaram nos últimos anos, atrelando suas imagens cada vez mais ao combate a mudanças climáticas.
Para Toni, os critérios estabelecidos pelo setor financeiro em relação às suas metas climáticas foram muito altos. “Não acho que o setor financeiro esteja repensando a agenda”, afirmou durante evento realizado pela FIA Business School em São Paulo.
Segundo ela, a discussão nos Estados Unidos se refere à acusação de que muitos fundos não estavam priorizando o interesse de seus acionistas ao tomarem alguma decisão. A principal reclamação é que as instituições estariam tratando temas climáticos e ambientais como se fossem ideológicos.
“Se tornou um debate legal se há interesse de colocar o risco climático em conta. Para se prevenir legalmente, resolveram não deixar isso explícito”, apontou.
Ela ainda aponta que todo o movimento ocorre em um momento conflituoso, com a guerra na Ucrânia impactando diretamente o preço das commodities. Para ela, o conflito acendeu um alerta nas empresas elétricas, dando força para as companhias de óleo e gás.
Toni ainda aponta que a mudança rumo à sustentabilidade acontecerá independente do desejo de pessoas isoladas, tanto no Brasil quanto no exterior, considerando a urgência que a pauta climática ganhou, colocando até mesmo em risco a existência de muitos empreendimentos.
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“Antigamente, meio ambiente era visto como um luxo. Existe a ideia de que, depois que os países ficam ricos, aí eu tenho a capacidade de me preocupar com o meio ambiente. A prioridade era o desenvolvimento. Hoje, a gente não consegue pensar em desenvolvimento sem pensar nas questões ambientais. É uma coisa só”, explica.
Tema transversal
Ainda no evento, que tinha como foco discutir sustentabilidade, Toni reforçou que a sustentabilidade é um tema transversal no governo, estando presente em quase todos os ministérios. “Fazemos a coordenação, mas ele é transversal”, disse.
Ela destaca que o governo e as próprias empresas salientam que a economia de baixo carbono é uma oportunidade para o Brasil, mas adianta que as mudanças climáticas são também um perigo para a própria economia.
“O número de desastres de eventos extremos no Brasil está aumentando muito rapidamente. A vulnerabilidade climática que um país imenso como o Brasil tem é grande e, infelizmente, nós temos uma baixíssima capacidade de adaptação para os eventos de inundação. O Brasil ainda não está preparado para as mudanças do clima”, afirmou.
Segundo dados do governo federal apresentados no evento, dos 5.570 municípios brasileiros, 3.676 tem capacidade adaptativa para o clima. Além disso, ela apontou ser preciso investir em mão de obra especializada em tecnologias sustentáveis para a pauta avançar mais rapidamente.
Toni afirmou que o governo tem se movimentado e que planos para a apoiar a descarbonização devem ser apresentados ainda este ano, durante a COP-29, para “mostrar que o Brasil fez as suas lições de casa”.
Ela destacou o papel que o Ministério da Fazenda e o ministro Fernando Haddad têm tido para impulsionar o desenvolvimento de pautas climáticas atreladas à economia.
“O maior aliado do Ministério do Clima é a Fazenda, o Haddad. Eles pensam nos instrumentos econômicos, lançaram o plano de transformação ecológica e tem sido essenciais para difundir essa pauta”, disse.
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