Impulsionada pelas mudanças climáticas e pelos últimos resultados financeiros, a Natura&Co anunciou nesta sexta-feira, 1º, uma nova estratégia de negócios com a regeneração como foco central das ações da empresa a partir de 2024. De modo geral, o conceito de regeneração prevê a restauração do meio ambiente.
“A regeneração traz o conceito de restaurar tudo aquilo que a gente [a humanidade] degradou. Dizem que ninguém entende sobre sustentabilidade porque a gente fala difícil. Com regeneração entendemos que tudo o que a gente toca tem que sair melhor do que entrou, desde a relação com a Amazônia até as nossas fornecedoras”, afirma a diretora de sustentabilidade Natura&Co América Latina, Angela Pinhati.
Segundo a empresa, a motivação para a mudança foi a percepção de que as empresas precisam se comprometer com metas mais ambiciosas para, de fato, promover mudanças ambientais e atingir as metas que se propuseram para os próximos anos.
“Manter o que já existe a uma certa taxa, impedindo uma maior exaustão do planeta e de seus recursos é fundamental, mas é um posicionamento aquém do necessário por uma razão: não aborda a cura do que já foi degradado ou perdido pela humanidade”, diz a porta-voz da Natura.
A mudança não seria um reposicionamento de marca, mas sim de negócios. A executiva afirma que o conceito de regeneração já estava presente em produtos e ações, levando a marca a perceber que essa era uma progressão ao que a Natura já vem fazendo há anos na pauta de sustentabilidade.
“É uma nova forma de conduzir os nossos negócios baseados na regeneração, que está conectado com a razão de ser da companhia. O inconformismo de olhar e ver que o que estamos fazendo não é o suficiente, podemos fazer mais. Quando olhamos para o nosso modelo de negócio, ele já vinha com sementes importantes de regeneração”, afirma Pinhati.
Com a mudança, a ideia é ajudar a regenerar o meio ambiente através das práticas da empresa e reforçar essa prática em todo a Natura — desde a produção dos produtos até a tomada de decisão.
“Não é um item adicional da nossa estratégia. É a própria estratégia do nosso negócio”, explica Angela, que também estará presente na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-28) anunciando a nova estratégia e falando sobre a pauta de regeneração nas empresas.
Questionada se a mudança se relaciona com os resultados dos balanços do primeiro e segundo trimestre deste ano, quando a empresa registrou prejuízo líquido de R$ 652,4 milhões e R$ 732 milhões, respectivamente, Angela confirmou, mas destacou que não foi apenas esse fator.
“A empresa vem em um processo de transformação, não é novidade para ninguém. Desde a aquisição da Avon, a gente veio com o desafio de caixa, Ebitda e é público. A estratégia de sustentabilidade é parte de todo o negócio, mas ela vem em um momento de reorganização. Estamos reorganizando a casa, a empresa como um todo”, disse.
Leia mais:
A marca encerrou o terceiro trimestre de 2023 com lucro líquido de R$ 7,024 bilhões, revertendo prejuízo de R$ 559,8 milhões apurado no mesmo intervalo de 2022. O resultado foi beneficiado pelo ganho de capital com a venda da marca de luxo australiana Aesop, concluída no trimestre.
Mudanças
Pinhati afirma que as mudanças já começaram na empresa. Nesta semana, ela lançou, através da marca Ekos, o primeiro hidratante concentrado para o corpo do mundo com 81% menos plástico que o refil convencional. Além disso, o produto é envasado em frasco refilável, feito totalmente com plástico retirado dos rios amazônicos.
A ideia é promover a sustentabilidade e a economia circular. Além disso, a empresa começou a trabalhar a regeneração da floresta Amazônica com a plantação do óleo de dendê misturando o dendezeiro com espécies nativas da floresta amazônica de cinco a 18 espécies. Atualmente, já foram plantados 160 hectares e em 2024 será ampliado para 500 hectares neste novo sistema florestal.
A companhia também revelou que assinará acordo com o governo do Pará para impulsionar os “territórios sustentáveis” do Estado, promovendo a biodiversidade das plantas por meio da regeneração das terras. “É a nossa meta ter 100% da nossa produção para o agroflorestal”, diz Angela.
A executiva lembra que o processo de mudança na empresa será gradual, considerando que é uma cultura a ser difundida.
Ela destaca que, para serem totalmente regenerativas, as embalagens dos produtos deveriam sumir após o uso ou capturar CO₂ em vez de gerá-lo durante a sua produção. Alguns produtos já fazem esse papel, como os sabonetes da marca, mas não o portfólio completo. “Não é uma solução para todas as embalagens, falta tecnologia”, disse.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.